Trinta e Um - Poder de Persuasão e Outros Problemas

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O atirador entrara na propriedade como se fosse um convidado, e estranhamente ninguém decidiu pará-lo para perguntar o que diabos estava fazendo ali, se não tinha um convite. Apenas o deixaram passar pelo portão da frente. Não tinha identidade, e a polícia, provavelmente comprada por Vanderbilt ou meu avô, não "tinha feito qualquer progresso", ao menos até ali, na identificação do sujeito.

Trevor foi obrigado, por meu avô, a ligar pessoalmente para as famílias dos convidados a fim de pedir desculpas pelo acontecido e informar que eu estava muito bem, obrigada. Eu havia me livrado da tarefa, porque, bem, era a maior vítima do lapso de competência dos seguranças da família King. Trevor merecia esse tipo de infortúnio em sua vida, só pelo fato de que não moveu um dedo para me livrar do perigo, apesar de estar ao meu lado. Não que eu esperasse qualquer ato de Trevor que não fosse apenas voltado ao objetivo de tirar seu traseiro branquelo da reta.

A tenda que deu lugar à festa ficou cercada por fita amarela enquanto a polícia científica fazia seu trabalho e os investigadores do departamento de polícia de Nova York faziam perguntas ao segurança de Trevor que evitara o pior com sua rápida ação. Ele não foi levado para a delegacia depois disso. Fiz questão de agradecê-lo pessoalmente por ter feito seu trabalho com inegável competência, embora a ideia de agradecer a alguém por ter matado outra pessoa me parecesse bastante estranha e absurda, no final das contas. O problema não era bem o atirador, mas a pessoa que o havia contratado. E esta ainda estava viva, respirando, e provavelmente matutando o que precisava fazer para ser bem-sucedido em sua próxima tentativa de me matar.

Dylan e, especialmente, Imogen (consequentemente Aaron também) recusaram-se a sair de perto de mim. Por isso Dylan, estranhamente, não recusou o convite de minha mãe para que dormisse em um dos quartos de hóspedes. Em sua velha personalidade, disse ela que simplesmente não poderia aceitar que o herói da noite fosse dormir em um hotel desconfortável no centro de Nova York, era o mínimo que poderia fazer.

Depois do convite, recebi uma mensagem de Dylan dizendo para que eu tomasse cuidado à noite, alguém poderia invadir meu quarto de surpresa. Mas a ação não pôde ser concluída, porque Imogen estava realmente empenhada em não me deixar sozinha por nem um instante sequer, preocupada com minha integridade física e psicológica, de modo que dormiu no meu antigo quarto ao meu lado, na mesma cama.

— Você precisa me contar neste exato momento o que estava fazendo trancada no quarto da sua mãe. — disse Imogen assim que minha mãe nos deixou a sós no quarto.

Apenas a luz de meu abajur em formato da rosa de A Bela e a Fera que ela me dera no meu aniversário de oito anos nos iluminava. Meu pensamento foi diretamente à foto e à carta muito bem escondidas no fundo de minha mala. A lembrança do conteúdo trouxe calafrios. Decidi que, enquanto não passasse aquela história a limpo, enquanto não soubesse do que se tratava aquela loucura toda, não diria a Imogen.

Certas coisas eu tinha que descobrir sozinha. E já tinha em mente o plano perfeito para isso.

— Eu estava apavorada, não pareceu sensato ficar ali de porta aberta.

Imogen cerrou os olhos na luz avermelhada, analisando-me detidamente. Era o olhar clínico pelo qual geralmente minhas mentiras não passavam. Mas essa passou.

— Tudo bem, faz sentido. — meneou a cabeça, então adotou seu tom malicioso: — Mas quem precisa ficar apavorada quando tem à disposição um super-gostoso-herói? Quer dizer, de que revista em quadrinhos dos sonhos voltada para o público feminino Dylan saiu?

— Não sei. — ri — Só sei que ele é extremamente competente na arte de salvar Madison Turner de tiroteios inesperados.

— Vamos agradecer aos céus por ele estar em forma, e que forma, não é mesmo? — Imogen fingiu se abanar — E por estar por perto na hora certa. E por ser muito perceptivo. Eu nem ao menos vi o safado do atirador se aproximar.

Desvio de CondutaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora