Trinta e Cinco - Confrontos e Outros Problemas (Parte 2)

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Pedi para a moça na recepção não anunciar pelo telefone que eu estava indo até o quarto de Hayden, porque não queria que ele soubesse que o procurava. Seria menos vergonhoso se eu desistisse no meio do caminho e voltasse correndo pelas escadas, ele jamais saberia que fui covarde, que não fui capaz de confrontá-lo. Ou jamais teria motivos para acreditar que poderia voltar a me procurar, que estava bem, porque eu mesma fizera isso.

Não era novidade que minha cabeça não funcionava quando Hayden Collins era o assunto. Isso desde o momento em que pus meus olhos sobre ele pela primeira vez, na biblioteca do centro de reabilitação. E só piorou com o tempo, com os beijos, os toques, a influência tão categórica que passou a exercer sobre mim. Era culpa do ar de garoto perdido, da postura dominadora, dos olhos acinzentados, dos músculos incomuns para um adolescente, do sorriso ladino.

Eu sabia que não deveria me meter com drogas. Eu vi as aulas preventivas no colégio, eu ouvi os conselhos de minha mãe, de meu avô paterno (que descobri, na prática, não ser meu avô de sangue, o que era absolutamente deprimente), assisti a documentários na Discovery sobre os efeitos cruéis e irreversíveis, assisti a programas da MTV listando os rockstars que tinham morrido de overdose ou em consequência de seu abuso. Mas era como se Hayden tirasse meu cérebro de dentro da cabeça e o substituísse pelo dele.

Eu não tinha mais personalidade, não era mais Madison, era a "garota do Hayden", que fazia o que ele queria, quando queria e como queria. Caso contrário, ele "me deixaria". Sozinha. Porque ninguém ia querer uma adolescente riquinha problemática e drogada na sua vida. Só ele. Só ele ia me querer, só ele poderia ter a mim inteiramente. Era o que eu pensava, porque era o que ele me dizia. O dono do meu cérebro.

Doía, doía insuportavelmente lembrar disso, de como ele me tratava, de como ele destruiu tudo o que havia dentro de mim, de como eu deixei que tudo isso acontecesse, de como não consegui reagir e afastei todos que tentaram me fazer reagir. Afastei minha mãe, meu avô, Imogen, os demais amigos do colégio. Eu não queria ninguém por perto, porque todos eles estavam tentando me afastar do amor da minha vida, o único homem capaz de me amar, porque eu era estragada, uma peça frágil que caiu no chão, cujos pedaços não poderiam ser juntados nunca mais. Hayden era o único que tinha a cola para me consertar. Exceto que ele era o martelo que havia despedaçado a peça frágil em mínimas partes inalcançáveis.

Eu tinha vergonha daquele período, daquela Madison. Só queria gritar de frustração toda vez que minha mente era inundada por tais recordações. Queria me esconder em um buraco profundo. Queria me jogar do prédio mais alto. Queria sumir, desaparecer.

Por isso não queria vê-lo nunca mais. Não o queria mais por perto. Ele foi o causador do momento mais doloroso de minha vida, que eu levei anos de terapia para superar. Trazia à tona lembranças terríveis, quando tudo o que eu queria era seguir em frente. Enquanto Hayden estivesse na minha vida, eu não seguiria em frente.

Abril de 2007, Nova York

Imogen batera na porta do apartamento nojento da mãe de Hayden, localizado nos confins do Queens, por longos minutos naquela manhã. Ela estava perdida na casa de mais um namorado que batia nela e pedia para voltar depois, estávamos sozinhos. Eu tinha ouvido as batidas, a voz aguda de Imogen chamando desesperadamente pelo meu nome. Alguma coisa falava bem lá no fundo da minha mente que eu deveria me levantar e atendê-la. Seria o sensato a se fazer, era minha melhor amiga, estava desesperada, eu deveria acabar com o desespero dela, porque era o que ela faria por mim. Mas eu não consegui. Meu corpo não se moveu, e eu não tentei com mais afinco levantar, porque era muito mais fácil ficar ali, deitada naquele colchão sujo jogado no chão, abraçada no corpo quente e desacordado de Hayden, curtindo o torpor que a droga me proporcionava.

Desvio de CondutaWhere stories live. Discover now