Doze - Segundo Beijo e Outros Problemas

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Imogen esteve presente em todos os momentos importantes de minha vida. Nos ruins, nos péssimos - aqueles em que minha eu muito rebelde fez questão de afastá-la, por vergonha, por frustração, por medo -, e, especialmente, nos melhores. Ela assistiu de camarote e aplaudiu em pé todas as minhas conquistas, assim como, orgulhosamente, fiz com as dela.

Recordava-me ainda o sorriso imensurável que se abriu em seu delicado rosto e do brilho de satisfação em seus olhos quando recebi a carta de aceitação de Harvard. Imogen achava que eu só estava fazendo aquilo porque Trevor também queria, ou para irritar meu pai já naturalmente irritado comigo. Mas compreendeu, quando a primeira lágrima de alegria escapou no canto de meus olhos, que não tinha nada a ver com quem quer que fosse, tinha a ver comigo. Com a pequena diferença que eu queria fazer no mundo. Com a militância que eu queria engajar para deixar registrado que os Turner de Nova York não serviam apenas para política de fachada e cirurgiões plásticos de celebridades.

O sorriso que tinha nos lábios dela e o brilho em seus olhos agora eram muito próximos daqueles. Certa parte de mim esperava que aparecessem quando anunciasse que finalmente me casaria com Trevor, o único cara com quem achei, verdadeiramente, que fosse ter um relacionamento estável o suficiente para passar para o próximo nível. Imogen, entretanto, como sempre gostava de deixar claro, nunca gostara dele. Nunca me contara o real motivo também. A essa altura, nem queria saber.

O sorriso e o brilho no olhar não surgiram quando anunciei o noivado, mas estavam lá quando a probabilidade do fim irreversível dele fora lançada.

-Estou quase procurando as câmeras para ver se você não está fazendo uma pegadinha comigo.

-Por mais incrível que possa parecer, não é uma pegadinha. – respondi, um pequeno sorriso no canto de meus lábios.

Outra parte de mim teimava em voltar atrás, porque ainda via Trevor como o único caminho, aquele que salvou minha vida de todas as maneiras que uma vida pode ser salva. Mantive minha decisão, no entanto, pois acima da eterna gratidão que tinha por ele, existia um enorme respeito, e não poderia continuar com aquela relação enquanto meus hormônios imploravam por Dylan e me encontrava incapaz de dizer não.

-Estou feliz que tenha acordado, Maddy, só quero saber se ficará bem com isso. Posso não gostar de Trevor e incentiva-la a dar um pé magistral na bunda dele, mas me preocupo com você acima de tudo, e sei que tem seus motivos para se sentir dependente dele. Mas já se passaram muitos anos, você mudou, cresceu, amadureceu, nunca mais vai fazer aquelas coisas... Pode se livrar das amarras do Trevor, pode ser a dona da sua própria vida, pode deixar que Dylan te ajude a fazer isso, se é o que quer...

Assenti e tomei um gole de cerveja, a fim de facilitar a descida daquelas palavras pela minha garganta embolada.

-Acho que vou ficar bem. Só não consigo viver comigo mesma sabendo que traí Trevor e que tenho muitas intenções de continuar nessa empreitada. Acho melhor me afastar dele. Ao menos enquanto entendo o que é meu corpo sente por Dylan.

-Tesão, claramente. – Imogen riu.

Revirei os olhos.

-Acho que preciso disso, ficar livre de Trevor, entende? Ter a sensação de que sou dona de mim mesma. Trevor vem me sufocando há anos, sendo cuidadoso ao extremo, com medo que eu me perca novamente, tentando me moldar à sua imagem. E eu não tinha percebido isso até Dylan sentar ao meu lado na aula e começar a tentar como o diabo, porque ele me fez sentir coisas que desconhecia ou que há muito tempo não sentia. Desde Hayden. Mas nós sabemos que qualquer coisa que envolva Hayden é proibida, enquanto Dylan, apesar de mistério, também parece... Seguro, de certa forma.

Desvio de CondutaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora