Quarenta e Quatro - Benedict Vidal e Outros Problemas

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Enquanto descansava na beira da piscina no dia seguinte, o sol queimando meu rosto, meu corpo boiando tranquilo na água morna, repassava mentalmente a lista de irmãos que eu precisava conquistar. Os poucos minutos com Dylan foram suficientes para fazer minha cabeça voltar a focar no enorme problema que eu tinha para resolver, a despeito da conversa preocupante que tivera com Vidal no corredor. Depois dela, ele não tinha largado do meu pé nenhum instante sequer, provavelmente na esperança de que Dylan voltasse a falar comigo. Mas Dylan não era burro, muito pelo contrário. Certamente notou a proximidade pouco disfarçada de meu querido professor, por isso não voltou a me procurar. E eu não o vi mais pela festa, o que foi uma pena, porque meu coração, ainda que soubesse que era rebelde por fazer isso, sofreu calado.
Meu cérebro, entretanto, estava em total dissonância com o órgão vital que batia saudoso. O cérebro estava alerta, racional, pronto para achar uma solução, para que o coração pudesse ser feliz de novo ao lado de seu dono. Assim, observando o céu azul de Los Angeles, eu só conseguia pensar na extensa lista de irmãos...

Lorenzo González;
Pilar Gutierrez;
Carmen Sánchez;
Ramon Garcia;
Dulce Jimenez;
Miguel Rodriguez;
Vicenzo Cardona;
Estevan Palacio;
Dolores Santacruz.

Uma lista enorme. Muito maior do que aquela que continha os nomes de meus possíveis aliados na empreitada: Yolanda Martín, Martina De La Vega e Paco Villaverde Sánchez. Com um asterisco enorme no nome de Paco, porque ele não parecia 100% confiável. Na verdade, não parecia 12,5% confiável, mas era o que tinha no momento, e eu ainda não estava em posição de reclamar a respeito daqueles que escolhiam, ainda que de forma questionável, me apoiar. Quando Muñoz morresse, eu precisava dominá-los, para que me ajudassem a pôr um fim no Legado Vermelho. Bem simples o plano. Ridiculamente complexo de ser executado.
— A vista desta casa nunca foi tão bonita. — Ouvi a voz arrastada com sotaque latino ligeiramente exagerado falar.
Abri os olhos, para mal enxergar Benedict Vidal medindo cada centímetro que podia de meu corpo.
— Você está perdendo as habilidades sedutoras, professor. — Sorri sem mostrar os dentes.
Ele riu, ao invés.
— Me dê dois minutos e eu te convenço a ir para a cama comigo de novo.
Cerrei os olhos.
— Acho que vou passar por hoje, obrigada. — disse e voltei a fechar os olhos.
Ele não desistiu, para meu completo desespero. Havia alguma coisa no jeito faminto com que ele me encarava que ainda provocava sérias reações em meu organismo. Reações que eu já deveria saber controlar a esta altura. Não foi por outro motivo que, embora soubesse que aquela conversa não deveria continuar, eu deixei que ele falasse...
— Está apaixonada, senhorita Turner? — perguntou.
Fechei os olhos com força e respirei fundo, antes de responder, olhando francamente para ele:
— Não é da sua conta.
Vidal buscou uma das espreguiçadeiras e se sentou na beira da piscina, à minha frente. Virei o corpo para que pudesse ficar de frente para ele, meus cotovelos apoiados na borda. Notei que os olhos dele demoraram um instante a mais em minha bunda, mas ele não disse nada, nem mesmo sua expressão serena modificou. Logo seus olhos voltaram para os meus, onde deveriam estar desde o início.
— Você fica muito bem de biquini. — observou.
— Obrigada. — Respirei, inspirei, mantive a cabeça no lugar. — Então... O que você quer?
— Descobrir o que você e o senhor Campbell andam tramando.
Não consegui conter minha risada.
— Você precisa parar de chamar Dylan de senhor Campbell. Imediatamente.
Ele apoiou o queixo na mão e me olhou ainda naquela irritante serenidade, não tinha sido minimamente atingido por minha grosseria, minha risada forçada, muito embora eu tenha sido atingida diretamente por tudo o que Benedict Vidal era. Naquela manhã, vestia um terno bege claro com camisa branca de linho que lhe davam um ar sofisticadamente descolado. Era preciso muita força de vontade para continuar vivendo naquelas condições adversas.
— Se não tem nada de errado acontecendo, por que você não me conta?
— Porque não tem absolutamente nada acontecendo, seja certo ou errado. Você escolheu a pessoa errada para desconfiar.
Vidal balançou a cabeça.
— Eu tenho um dom, herdado do meu falecido pai, que é sempre desconfiar das pessoas certas. Tipo um instinto aranha, sabe?
— Não sei.
Ele abriu um pequeno sorriso.
— Se você não me contar o que está rolando, eu vou ter que investigar por conta própria, e, acredite, eu vou descobrir. E se, nesta empreitada, eu descobrir que você está armando alguma coisa, seja em função do Legado Vermelho ou qualquer outra merda que tenha chegado antes a você, não vou poupá-la, apesar de apreciar diversos aspectos da sua pessoa, senhorita Turner.
Respirei fundo porque, em minha cabeça, um vergonhoso ataque de pânico se iniciava. A mera possibilidade de Vidal descobrir o que eu estava tramando, já me dava quinhentos e noventa e cinco tipos de acessos nervosos. E a possibilidade não era pequena, porque ele era Benedict Vidal, e eu duvidada muito de que fazia ameaças vazias. E de que não era capaz de descobrir, de fato, sobre a Operação Armagedom.
Independentemente disso, mantive minha pose forçada de tranquilidade.
— Olha só, já está ficando chata essa insistência a respeito de Dylan ou essa nova desconfiança com relação a mim. É difícil, num minuto você quer transar comigo, no outro acha que eu tenho um plano secreto para acabar com La Recocha. Decida-se, não tenho tempo para joguinhos mafiosos.
Ele sorriu ladino.
— Eu sei separar a cama dos negócios.
— Eu também. E você é negócio. Então larga do meu pé, se for para continuar com esse papo de ameaça e Dylan e traição e sei lá mais o quê. Você era mais interessante quando só queria me levar para a cama.
Vidal arqueou uma sobrancelha, fitando-me com incômoda insistência.
— Não sei por que estou acreditando em você... — Ele meneou a cabeça — E ainda nem comecei as aulas de negociação. Será que você já nasceu sabendo blefar, Madison?
— Por que não paga para ver? — respondi, e, em seguida, saí da piscina, trazendo comigo mais uma vez o olhar esfomeado dele.
Peguei minha toalha jogada em uma das espreguiçadeiras e não olhei para trás quando saí da área da piscina, deixando que ele desvendasse o enigma que eu aparentemente tinha me apresentado para ele.

Desvio de CondutaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora