Estava tão ansiosa pelo encontro com o professor Vidal após aquela estranha tocaia, que mal vi a aula passar. Também não prestei atenção como deveria, mas tinha problemas maiores para lidar naquele instante. A noite toda virei na cama pensando em todas as informações bizarras que haviam se acumulado durante aquele dia. O cowboy brega, o olhar matador de Dylan para ele, a necessidade da perseguição, então a pesquisa sobre o professor Vidal e, especialmente, o que diabos a femme fatale tinha a ver com ele, afinal? Pensei, pensei muito, e não consegui concluir nada, porque nenhuma daquelas informações, em conjunto, faziam muito sentido. Mas elas tinham sentido. Cabia a mim descobri-lo. E eu descobriria, nem que tivesse que apostar o pau gigante do Dylan no processo.
Depois de me aproveitar dele um pouquinho (muito), claro.
Almocei correndo, e Imogen não me cobrou pela falta de atenção em seu papo sobre o seminário complicado que precisaria preparar para a semana seguinte. Ela também estava muito interessada no desenrolar daquela história, como gostou de lembrar em todas as mensagens que me enviou durante a manhã, na intenção de me lembrar de confrontar o professor.
"Se precisar, senta na mesa dele, joga as pernas que nem a Sharon Stone, mas faz ele contar alguma coisa de útil."
"Certifique-se de que saiu sem calcinha para que esse plano funcione."
"Estou falando sério."
"Se rolar um sexo no escritório, não esqueça de me contar todos os detalhes sórdidos."
"Mas não perde o foco, queremos saber qual é a dele."
"Mafioso."
"Gostoso, mas mafioso."
"Ok", foi o que respondi, incapaz de acompanhar o raciocínio de Imogen, que, depois de dar voltas, sempre acabava em sexo.
"Já pensou se o professor topa fazer um ménage com Dylan?", foi a mensagem que veio logo depois.
A imagem mental me ocupou o caminho todo até o escritório. Uma imagem mental tão interessante que quase subi no meio-fio quando cheguei ao prédio. Durante esse tempo, ela mandou várias interrogações e exclamações. "????????" "?!!!!!!?!" "????????????????" "!!!!!!!!!!!!" "???!!???". "Vai estudar para o seu seminário" respondi, quando o elevador abriu no andar do escritório.
Concluí, enquanto passava pela secretária - que, já de praxe, me encarava com aquele olhar estranhamente encantado -, que o problema maior seria convencer Dylan de fazer um ménage com o professor, não o contrário. A vergonha pelo pensamento absurdo nem chegou a me atingir.
Todos os meus colegas já estavam na sala e me olharam com especial curiosidade quando entrei. O único olhar distinto era o de Dylan, que sempre que podia gostava de me lembrar, com o uso indevido daquelas íris azuis do mar do Caribe, que estava me despindo com a força do pensamento.
Fui até a cadeira ao lado da dele, o lugar estrategicamente reservado para mim. O silêncio perdurou na sala durante alguns minutos, aqueles em que o professor não chegava. Dylan aproveitou o momento para me lembrar de que existia (como se eu pudesse esquecer). Digitou alguma coisa no celular. A mensagem chegou no mesmo instante.
"Saudades de te provocar"
Sorri sem querer. Um lado meu quis responder algo fofinho, como o que ele havia dito, mas lembrei de que avisara a ele para não agir daquele jeito. Fui direta.
"Saudades da sua língua na minha bo..."
Dylan riu mais alto do que deveria. Lancei a ele um olhar feio, porque chamara a atenção desnecessária dos colegas. Ele digitou e o meu celular apitou.
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Desvio de Conduta
RomanceMadison Turner só queria se formar, tornar-se advogada militante dos Direitos Humanos, fazer alguma diferença no mundo, ser uma mulher forte, destemida e determinada. Mas os eventos misteriosos que passam a atormentá-la assim que pisa em Harvard não...