Quatro - Deus Grego e Outros Problemas (Parte 2)

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Tentei, tentei com muito afinco, encontrar um lugar ao lado do qual ele não pudesse se sentar. Não havia lugares nas pontas. Encontrei um na última fileira, do outro lado da porta, um que ele não veria, a não ser que olhasse especificamente para lá. Coloquei a bolsa de um lado e apenas rezei para que outra pessoa sentasse do outro lado - consegui despistar Casey ainda na entrada da sala, poderia ser qualquer um, menos ela. Mas o destino estava a favor dele. Ninguém sentou naquela maldita cadeira, que parecia me encarar, vazia e pronta para recebe-lo, rindo interiormente de minha pequena desgraça pessoal.

O deus grego não chegou atrasado dessa vez. Entrou na sala junto com o professor. Eu soube porque a atmosfera mudou, daquele jeito com o qual já estava começando a me acostumar. Senti-me quente por dentro, e observada. Atenta e especialmente observada. Minha pele queimava e formigava em expectativa. O frio na barriga foi inevitável e apenas lidei com ele da maneira mais adulta possível - ignorando. Não ousei olhar para o lado, dar a ele a certeza de que eu sabia que viria até mim, como se esperasse ansiosamente pelo momento.

O impacto de seu perfume envolvente foi imediato quando ele se sentou. E eu não pude ignorá-lo por muito tempo.

-Vejo que sobreviveu. - ele comentou e eu sabia que sustentava aquele pequeno sorriso de canto.

Informação demais para as 7:30 da manhã, eu não era obrigada a ter que lidar com isso.

-Mais precisamente por 23 anos antes de você aparecer. E vou continuar se você sumir.

O riso gostoso e descontraído dele tomou meus ouvidos como música clássica em uma manhã chuvosa de domingo. Adequado e irritante ao mesmo tempo.

-Pandas costumam ser mais amigáveis...

-Eu não... - bati a mão na mesa e sem querer, o encarei. Mordi o lábio inferior quando o sorriso dele aumentou, logo após bufar inconformada - É inútil continuar com esse assunto, então vou apenas ignorar o fato de que você insiste em me chamar de Panda só para me irritar. Eventualmente vai perder a graça e você vai parar.

-Acredite, nunca vai perder a graça.

Revirei os olhos e escolhi manter minha atenção focada no que o professor escrevia no quadro: seu nome.

Meus pensamentos, no entanto, não ficaram lá por muito tempo. O deus grego se mexeu ao meu lado, recostando perigosamente no braço da minha cadeira, a centímetros do meu braço, e as imagens do meu primeiro sonho erótico me inundaram sem piedade.

Analisei sua mão, tão grande e forte, que pendia casualmente do braço da cadeira. A mão que me tocou em cada parte do corpo com autoridade e cuidado no sonho, como se quisesse sentir cada centímetro da minha pele sem perder qualquer detalhe. Minha boca secou e eu engoli em seco quando, da mão, meus olhos subiram para seu braço coberto por uma camisa branca, então os bíceps, que o tecido moldava na medida certa para instigar minha imaginação. Quando me dei conta, tinha olhado demais por tempo demais e ele me encarava curioso, uma sobrancelha arqueada, o sorriso de canto quase debochado.

Franzi o cenho, pigarreei e disse:

-Preste atenção na aula!

Ele soltou uma risada baixa e me perdi no desenho perfeito de sua boca vermelha e carnuda. Na barba rala que cobria seu rosto parcialmente. Lembrei da sensação áspera contra minha bochecha quando me beijou. E quando ele umedeceu o lábio inferior com a língua, recordei do orgasmo que havia me dado. Foi inevitável fechar os olhos.

-Você está bem? - o deus grego perguntou.

Cerrei os punhos, apertei os olhos um pouco mais e virei para frente.

Desvio de CondutaWhere stories live. Discover now