Nossas espadas se chocam novamente. Não tão barulhentas quanto meu caos, minha sede de vingança e o meu lado que apenas quer parar de lutar brigam entre si.

Fecho os olhos, me concentro nesse temporal interno e quando abro os olhos minha espada está envolta em energia vermelha.

Ohnin sorri para mim.

Avanço com tudo, sem dar chances para ataque, minha espada corta o vento com as defesas dela. Estalo os dedos e o chão abaixo de mim sofre mini explosões até se desprender do chão num círculo perfeito, o faço levitar e saio do chão enquanto ataco Ohnin.

Ela luta como uma deusa. Sua defesa é perfeita, seu ataque é sanguinário, sua lâmina é fatal. Sequer consigo desestabiliza-la.

Crio uma camada de gelo cortante em torno da minha espada, olho no profundo de seus olhos amarelos-ouro. A espada desce na sua lateral como uma guilhotina, ela ampara o golpe com dificuldade, as lâminas de gelo e energia raspando o metal da sua espada. Aproveito que ela usa as duas mãos para segurar a espada e amparar o golpe e aperto seu pescoço. Seguro sua garganta com força, pronta para estrangulá-la.

De repente o inesperado acontece, minha mão transpassa seu pescoço como se ela fosse feita de névoa. Agarro o ar enquanto a imagem dela trêmula como se não fosse nem real e ela aparece a alguns centímetros segurando a espada, seu corpo tremula entre projeções dela em diversos pontos ao seu lado, como se se fundissem e se separassem a cada segundo.

Sinto a falta de ar no mesmo instante. Eu não estou na Prisão de Vidro, estou? Ohnin é real. Tem que ser.

Minhas mãos trêmulas largam a espada. Começo a voltar para o palácio, como num flash do passado.

Mais uma noite gelada na Prisão de Vidro, o chão duro machucava minhas costas e eu engulia as lágrimas a todo custo. "Ray" ouvi a voz distante. Não me virei. "Ray, por favor." Kadash está morto, repeti à mim mesma. "Você me deixou morrer, Ray." Ele choramingava. "Olha pra mim." Não resisti, eu sentia saudades, eu o queria ali comigo. Não era ele, claro que não, era apenas uma imagem sua, tremulando no ar, mais uma maldita projeção. Uma lágrima escorreu pelo meu rosto e eu a sequei rápido.

- Não posso voltar pra lá. - ponho as mãos no rosto.

De repente sinto um baque no peito, caio de costas no chão sem ar.

Ohnin me olha de cima, as duas espadas apontadas pra mim. Ela põe a bota em cima da minha barriga e põe parte de seu peso, arfo.

- O que acontece com os fracos, Rayrah? - ela pergunta com voz general.

- Os fracos não sobrevivem. - digo entre ranger de dentes e me levanto para a próxima rodada.

Era real. Felizmente era real.

Enquanto lutamos ela explica que aquilo foi o poder dela que faz com que cada célula do corpo se destrua e se recomponha tão rápido que só se pode ver quando ela o desacelera e acontece aquilo de minha mão transpassa-la.

É uma habilidade interessante, lembra-me da Zara, a menina de olhos de relógio no Palácio, acredito que ela foi uma experiência desse poder, mas uma experiência que deu terrivelmente errado.

Dessa forma, é impossível acertar Ohnin. Qualquer ataque que tenha capacidade de atingi-la não a atinge por causa de seu poder, então entramos num ciclo infinito de perfurações fantasmas.

Me canso disso, rapidamente condenso uma nuvem de gelo em volta dela que tenta se desvencilhar, a cubro por completo e quando só há gelo, tomo sua espada.

As Crônicas de Rayrah Scarlett - Esperança Em Arnlev [RETIRADA EM 25/08/22]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora