— Shoto! — chamou-o alto, sua voz reverberando pelo espaço entre eles, rapidamente captada pela audição aguçada do alfa cuja primeira reação foi balbuciar seu nome, consternado, antes de se levantar e ir ao seu encontro. 

Foi como se reencontrasse uma parte de si que fora arrancada. Para Izuku não havia a rejeição de horas atrás, da qual nem mesmo se lembrava, apenas a intensa necessidade de estar ali, nos braços dele, aquecendo-se enquanto sentia o aroma inconfundível dos feromônios que o acalmavam. 

— O que está fazendo aqui? — a voz dele saiu um pouco embolada devido ao uso do álcool. 

Como explicaria aquilo? Nem mesmo ele sabia o que tinha acontecido, se o que vivia era real ou apenas um sonho e realmente pouco se importava naquele momento. Passou alguns segundos apenas aproveitando a companhia de Shoto, necessitado dele como se não se vissem há anos. 

— Eu não sei. A última coisa que me lembro é de ter sido dopado no hospital e daí acordei aqui.— aspirou com sofreguidão a camisa dele — É como se o meu corpo não me pertencesse e me trouxesse aqui por vontade própria — os braços do alfa ao redor de si lhe davam a sensação de segurança. Porque está aqui? Você bebeu. 

A presença dos feromônios de Izuku estava agindo como uma espécie de desintoxicante para o alfa que percebia a consciência retornar aos poucos, como se ele fosse capaz de anular o estado ébrio no qual seu sistema se encontrava e a cada segundo mais cônscio da realidade o deixava mais amargurado. 

— Me desculpe, é que eu pensei que não ia querer me ver de novo, que estraguei tudo. 

— Não, não estragou. — levantou a cabeça dele, beijando-lhe as bochechas com ardor — Tudo vai ficar bem, eu prometo. 

O alfa o abraçou com ainda mais necessidade, buscando nele a presença, aroma e carinho que precisava. 

— Eu me descontrolei, Izu, me deixei levar pela minha natureza mais uma vez, te fiz mal...

— Apenas esqueça, Shoto. 

— Como poderia? Eu quase te matei por puro ciúmes, não confiei em você por causa dessa mania de achar que pode me deixar por outro a qualquer instante, essa maldita insegurança de saber que você é bom demais para mim. 

Decidiu não tocar no assunto bebê por ter medo de uma possível confirmação, ainda que a possibilidade fosse pequena. 

Aquela altura ele já não sentia mais os efeitos da embriaguez, como se não houvesse ingerido uma única gota em horas. Era incrível como a presença de Izuku o mantinha alerta a ponto do corpo se obrigar a tratar os sintomas. 

— Shoto, me escuta um pouco. — entrelaçou  seus dedos nos dele — Se controle, vai ficar tudo bem conosco, não precisa se preocupar. O que aconteceu foi uma série de infelicidades, apenas isso. Eu tive uma crise de pânico por causa da minha depressão, o Shinsou fez aquilo de propósito para te afetar, o idiota do meu pai reaparecer... tudo foi uma combinação de infelicidades, somente isso. Você se descontrolou por não saber lidar com isso, foi errado o que você fez? Sim. Mas isso não é motivo para a gente romper ou algo assim, foi apenas um contratempo. 

— Não, Izu, foi culpa minha, eu deveria ter me contido, estar usando a maldita coleira de contenção que eu decidi deixar em casa. Se eu tivesse sido mais atento, menos dominador tudo isso não teria acontecido. 

O ômega sorriu compreensivo, sentando na areia e convidando o alfa a fazer o mesmo. 

— Quantas vezes você acha que eu tive que lidar com esse tipo de situação? — indagou docemente, beijando as bochechas gélidas do alfa. O vento balançava os fios de seu cabelo suavemente — Eu sou um ômega lúpus, Shoto, já vivenciei situações que o deixariam abismado, momentos horríveis que fizeram de mim a pessoa quebrada que sou hoje. Vivo cercado de alfas que me oprimem ou incitam com sua presença, sou o único ômega em uma família de machos majoritariamente alfas cujas reuniões já não posso participar por conta da minha condição. Eu vivo o inferno diariamente, lutando contra o mundo, as pessoas e meus próprios instintos. Desde o meu primeiro heat, quando me descobri ômega, eu não sei o que é ser feliz, completo e realizado, mas tudo isso mudou quando eu te conheci. — aproximou-se dele, sentando em seu colo, se apoiando de costas em seu busto e buscando os braços que ele passou ao redor de sua cintura, enrodilhando-se como um casulo ao seu redor — Foi bem complicado no começo, meio estranho e sem noção porque eu tinha medo de me render e ser dominado, diminuído pela presença de um alfa. Com medo de me entregar e me perder em preocupações fúteis — ergueu a cabeça encarando os olhos bicolores lacrimejantes, sentindo a mágoa dele em si. Era a primeira vez que estava se abrindo de verdade com ele — Quando se é ômega a sua imagem meio que está ligada a submissão, e eu quero ser a diferença. Para isso acreditava que tinha que me manter centrado nos estudos, sem me entregar. Hoje entendo que essa minha postura defensiva foi uma estupidez, porque você não é o alfa que vai me apagar, mas sim o que sempre vai me apoiar, oferecer suporte e sabe, eu amo isso em você, já lhe disse. O fato de me ver como um igual, sem me diminuir... — riu em tom baixo, quase um murmúrio — .... desculpe, eu acabei entrando em um monólogo aqui. Só queria que soubesse que é importante para mim, e que eu não vou deixá-lo partir assim da minha vida. 

AlvorecerWhere stories live. Discover now