Capitulo 110

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DORIS: Sim, estamos optimistas que o senhor asiático vá sobreviver, mesmo que ele ainda não tenha voltado do centro cirúrgico. Os seus ferimentos no baço causaram hemorragia, mas conseguimos cuidar de tudo a tempo. E eu imagino que o bandido que o atacou também vai se safar?

NICOLE: A situação é a mesma, ele não voltou do CC ainda, mas Daryl diz que é muito provável.


Ela dá uma fungada de nojo.


DORIS: Você deve achar que a minha reacção é inadequada, desumana, não?

NICOLE: Bem...

DORIS: Você acha que só porque você não precisa manter a calma e se controlar de novo e de novo, enquanto alguém ataca continuamente a sua raça, com indiferença e preconceito.

NICOLE: Doris...


Ela não me escuta e continua falando, totalmente stressada. Parece que ela guarda muitas coisas negativas dentro dela.


DORIS: Toda a minha infância, a minha juventude, até agora... Eu ouço alguém dizendo que eu não tenho senso de humor, porque não dou risada de 'piadas' sobre asiáticos. Eles só sabem falar de arroz, Kung Fu, Bruce Lee, mangás... Sem esquecer os clássicos 'ching chong' e 'ni hao', sendo que eu nem sou chinesa. E dizem que não é racista, apenas engraçado, porque, bem, 'isso é totalmente normal'. Diziam que é minha obrigação tirar as melhores notas da escola, não porque sou inteligente ou estudei a matéria, mas porque 'asiático já nasce com isso no sangue'. Esperam que a minha família esteja trabalhando sem descanso, porque 'os asiáticos nunca param'. E é por isso que todos eles têm muito dinheiro, porque somos todos movidos a trabalho. Esses estereótipos matam, como poderia ter matado o dono do restaurante atacado hoje. A indiferença da população com esse cenário racista, do qual os asiáticos e outras minorias são vitimas, mata. Tudo por debaixo dos panos, com risadinhas, porque 'é humor', mas não, não é. Então, tente entender o meu nervosismo... e a minha falta de tolerância a essa agressão, mais uma vez por motivos racistas.


Eu mordo os meus lábios.


NICOLE: Eu não sabia disso, não sabia que isso afectava você tanto assim... eu... É verdade que nós não recebemos tantas criticas e preconceitos assim... E acho que foi por isso que reagimos daquela forma. É como o Daryl, mais cedo. O que ele disse... eu não acho que ele queria negar a agressão.

DORIS: Eu sei, é claro, nós devemos salvar todos os pacientes. Eu concordo com isso. Mas às vezes, diante de uma situação assim, é complicado guardar o que está dentro de mim, uma experiência pessoal.


Eu concordo.


NICOLE: Eu sei, às vezes é difícil para mim também, manter o desapego e o profissionalismo, quando algo me emociona. Meu ex-namorado, Adam... Eu sinto que estou envolvida demais neste caso, emocionalmente. Acho que é algo que vamos aprendendo com o passar do tempo... Daryl, Cassidy... eles parecem capazes de se distanciar, certo?

DORIS: Talvez, sim.


Ela me lança um olhar mais calmo.


DORIS: E seu ex, está bem?

NICOLE: Pois é, eu acabei de vê-lo. Ryan diz que ele vai acordar em breve. Mas estou com medo, de qualquer maneira...


Eu solto essa frase em um tom baixo e aperto os meus dedos no tecido das minhas calças.

Amor nas UrgênciasOnde histórias criam vida. Descubra agora