Amor nas Urgências

Capitulo 75

           

Os olhos de Marco se enchem de lágrimas. Eu penso em lhe oferecer um lenço de papel, depois mudo de ideia quando lembro da reacção dele da outra vez.

O pai de Marco está chorando, atrás da cadeira onde seu filho está. Aqui, nesta unidade, muitas vezes a vida e a mortes caminham juntas, inseparáveis, na verdade.

É sempre perturbador pensar sobre isso.

MARCO: Tudo bem.

PAI: Marco?

MARCO: Eu disse tudo bem! É verdade, eu acho... acho que ela vai ficar feliz em saber que os órgãos dela vão salvar vidas. A mãe era muito generosa...

Ele coloca o rosto entre as mãos, seu peito treme com o choro, soluçando. Ryan coloca a mão no ombro dele.

RYAN: Tenho certeza disso.

Marco de repente levanta a cabeça.

MARCO: Eu poderei saber quem vai receber os órgãos da minha mãe? Por favor, doutor?

RYAN: Infelizmente não, as doações precisam ser anónimas. Mas a pessoa que poderá falar com você melhor sobre isso é o Doutor Daryl.

Eu entro na conversa.

NICOLE: Quando todos os testes forem feitos e tudo estiver pronto... Eu levarei você para falar com o Doutor Daryl, Marco, tudo bem?

Ele enxuga as lágrimas com o antebraço, em um gesto que tenta mostrar a sua masculinidade.

MARCO: Tudo bem.

Seu pai, atrás dele, enxuga os próprios olhos com a mão. Eu ainda me sinto muito emocionada, mas estou aliviada.

Mais tarde, Adam volta da operação de hemostasia. Seu rosto está coberto de curativos.

ENFERMEIRA: O cirurgião me disse que tudo correu bem, Nicole. Ele será levado daqui a meia hora para cuidar da fractura da tíbia. O Doutor Ryan pediu para verificarmos a temperatura, contagem de glóbulos brancos, e também o seu CRP, para evitar qualquer risco de infecção...

Eu continuo a lista para ela.

NICOLE: E a hemoglobina, o nível de plaquetas.

ENFERMEIRA: Sim, claro, ele está sendo monitorado com muita atenção.

Eu sorrio para ela, agradecida.

NICOLE: Obrigada por me tranquilizar. Vocês são muito gentis.

ENFERMEIRA: Nós somos como uma grande família aqui na unidade.

Eu lembro de Caroline, que me disse a mesma coisa. Mas eu sei que Lisa não pensa assim em seu departamento de oftalmologia...

Eu me pergunto se isso está relacionado ao departamento ou às pessoas que trabalham lá...

ENFERMEIRA: Todos temos as nossas diferenças, é claro. Veja a doutora Cassidy e o Doutor Daryl, eles estão sempre discutindo um com o outro. Na vida cotidiana, parecem uma montanha russa, atacando um ao outro sempre que estão juntos. Isso cria um vinculo. Quanto a mim, eu não gostaria de trabalhar em outro lugar, nem pensar.

Eu concordo. Eu acho que entendo.

O dia longo e conturbado finalmente chega ao fim. Ryan está sentado em sua mesa, ocupado no computador.

NICOLE: Eu gostaria de agradecer a você por hoje...

Ele olha para mim.

NICOLE: E por tudo, na verdade... Suas palavras, sua tranquilidade e maturidade.

RYAN: Com prazer. Eu passei por problemas semelhantes, acho que a minha experiência pode ajudar... E quanto ao seu amigo, eu realmente acho que ele vai ficar bem. Cuidaremos da tíbia hoje, e amanha voltaremos para o rosto... Depois, faremos os exames na cabeça, apenas para evitar qualquer edema cerebral. E tudo o que podemos fazer depois, é esperar que ele acorde.

Eu concordo com a cabeça lentamente.

NICOLE: Eu sei.