XVII - Never Be The Same

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Quando a luz do sol atravessa as janelas, sinto que essa é a manhã mais feliz da minha vida. Lauren e eu nos reviramos na cama, mas nossas pernas continuam enroscadas.

Observo com fascínio o cabelo despenteado e seu corpo. Toco suas costas com a pontinha do dedo. Lauren se vira e sorri para mim, com certa sensualidade. Satisfação.

Chego mais perto para beijá-la.

- Hum... Falta muito para o próximo fim de semana? Para a gente fazer isso de novo?

Suíça. Vamos para a Suíça - diz ela.

- No próximo fim de semana você vai estar em Nova York.

O sorriso dela desaparece.

- Então a gente vai no fim de semana depois desse.

- Combinado!

Lauren afasta meu cabelo do ombro, deixando-o descoberto.

- E aí, me fala. Quem é melhor de cama? Eu ou o Shawn?

- O Shawn, óbvio.

- Eu sabia.

Ela beija meu nariz e se levanta.

- Já volto.

- Pode pegar meu celular? Quero confirmar a hora do check-out.

Lauren pega o telefone na minha mochila, joga para mim, vai para o banheiro e fecha a porta. Desativo o modo silencioso. A tela se ilumina. No mesmo momento, meu coração para.

- Ah, não - sussurro.

Vinte e nove mensagens. Shawn. Joseph. Sofia. A escola. Meus pais.

- Lauren? Lauren!

Ela abre a porta na mesma hora, nervosa.

- O que aconteceu? Você está bem?

Então ela vê meu celular e empalidece.

- Ah, não - sussurra.

Começo a chorar. Em um movimento brusco, Lauren abre a mochila, pega o celular e, ao olhar para a tela, solta um palavrão.

- Shawn. Joseph. Minha mãe. Umas cem ligações. Meu pai.

Estou me debulhando em lágrimas. Lauren anda de um lado para o outro no quarto e bagunça o cabelo com as mãos.

- Tudo bem. Vai ficar tudo bem. Já fui pega outras vezes. Vai ficar tudo bem.

- Como é que vai ficar tudo bem? Isso vai para o meu histórico!

Todo o meu futuro universitário vai por água abaixo. Estou tonta. Meu estômago se revira. Tenho plena consciência da confusão gigantesca em que me meti.

- Não. Eu vou assumir toda a culpa. Você não vai ser punida.

- Como é que eu não vou ser punida? Estou aqui tanto quanto você. Na Espanha.

Vasculho as mensagens de texto, tentando entender a sequência dos acontecimentos, mas não consigo me concentrar.

Ouço o recado que Shawn deixou na caixa postal, apavorado. Sofia andou perguntando por você e o Joseph ouviu, e aí eles perceberam que a Lauren também não estava na escola e vieram falar comigo. Tive que falar onde você estava. Me desculpa, Camila. Eu tive que contar.

Sou uma idiota.

Sou muito idiota.

Como fui esquecer a Sofia? Ela é a única pessoa que com certeza sempre vai dizer ou fazer a coisa errada. É claro que ela está por trás disso. E é claro que o Shawn não conseguiria ficar de boca fechada nem por um minuto sequer.

Lauren desmorona na cama, ao meu lado. Ela segura meu rosto e encosta a testa na minha.

- Respira - pede. - Respira. Respira.

- Não quero respirar!

- Tudo bem. Vou ligar para a escola. Você liga para os seus pais - diz ela.

[...]

Todos estão furiosos com a gente. Maman grita tanto que tenho que afastar o telefone do ouvido. Lauren leva uma bronca de Joseph e, depois, eu a obrigo a ligar para a mãe dela. Ela não atende, então ela deixa um recado. Lauren se recusa a ligar para o pai, mas insisto, novamente, então ela liga para o assessor dele.

Eu envio uma mensagem para Shawn e Sofia. Eles não estão bravos, só querem saber se estamos bem, mas não me sinto tão benevolente quanto Lauren em relação aos dois. Respondo que estamos bem e que estamos voltando. Ponto final.

O trem que vai para Paris é o oposto do que pegamos para Barcelona. O céu está limpo, o dia ensolarado, mas aqui, dentro do trem, tudo está anuviado. Ficamos de mãos dadas, não nos separamos, mas nosso desejo permanece o mesmo. O desejo de quero mais. Como se estivéssemos tentando agarrar alguma coisa que está escapando por entre nossos dedos. Nem Lauren nem eu falamos sobre o medo do que está prestes a acontecer. Caio no choro, e Lauren me abraça. Foi egoísmo da minha parte pensar só em mim, nos meus problemas. O que Lauren terá que enfrentar é muito, muito pior.

Estamos no jardim da escola, quase chegando ao dormitório, cada vez mais apavoradas, quando Lauren me leva até uma área mais afastada. Há dois alunos franceses sentados nas espreguiçadeiras, fumando cigarro de cravo e curtindo os últimos raios de sol do ano. Eles nem sequer piscam quando passamos por eles.

- Quero que saiba que eu amo você - afirma Lauren. - E que quero ficar com você. Não importa o que aconteça.

Meus olhos se enchem de lágrimas.

- Não diga isso.

- Não sabemos o que pode acontecer.

- Não diga isso!

Ela parece apavorada.

- Eu amo você. Você ainda me ama?

- Como você pode me perguntar isso?

A mudança no comportamento de Lauren é assustadora. É como se ela fosse se despedaçar a qualquer momento.

- É claro que eu amo você. O que aconteceu não mudou nada entre a gente.

- Mas foi culpa minha. Eu que inventei essa viagem.

Ela está ofegante, e seus olhos estão inquietos, em pânico.

- Ei! Ei!

Eu a abraço e encosto a cabeça no peito dela.

- Eu quis ir com você. Foi uma decisão minha também.

Mas ela não consegue mais dizer nem fazer nada. Tudo que quer é ficar ali abraçada comigo. Seus dedos em meus ombros me apertam com tanta força que chega a machucar.

- Eu amo você - digo, baixinho. - Sempre amei.

Sinto o batimento cardíaco dela desacelerar e acelerar de novo.

- Como assim, sempre? - pergunta ela.

Eu me afasto um pouco para olhar para ela. E, com firmeza, digo:

- Quero dizer que você não precisa se preocupar, eu nunca vou terminar com você, porque sempre fui apaixonada por você. Desde o primeiro ano do colégio.

Minha confissão a deixa embasbacada.

- Eu bati os olhos em você e me apaixonei. E foi isso - explico.

Lauren me encara. Ela olha para dentro de mim. Então, me beija de um jeito ainda mais apaixonado, como se nunca tivesse me beijado antes. É isso que nos dá força para encarar o futuro. Para ir até o dormitório. E para bater à porta de Joseph.

Infelizmente, não é Joseph quem nos recebe. É a sra. Jauregui.

Kismet [concluída] Where stories live. Discover now