VIII - Sledgehammer

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- E você, já? - pergunto, porque muitos dos alunos da nossa escola já têm alguma experiência profissional.

Lauren franze o cenho. Ela fica envergonhada, e a resposta que sai de sua boca é uma confissão de uma única palavra:

- Não.

- Nem eu.

Nós duas carregamos a culpa por esse privilégio.

Lauren olha para o celular novamente. Eu me aproximo e observo a foto de novo.

- Nossa, que uniforme horrível! Será que tem alguém no mundo que fica bem com poliéster marrom?

Ela abre um sorriso.

A escada chega ao fim. Lauren digita uma resposta rápida, põe o telefone no modo silencioso e o guarda no bolso. Fico me perguntando se ela contou para Dinah sobre o nosso encontro. Se sou uma novidade digna de ser contada para sua melhor amiga.

Seguimos em direção às galerias, mas a multidão no restaurante da cobertura nos impede de chegar até lá. As mesas foram retiradas, e um exército de modelos esqueléticas, com perucas crespas e brancas, batom branco e o rosto pintado com blush branco bem no estilo marionete fazem malabarismos com bandejas de champanhe por entre o enxame de corpos.

Lauren se vira para mim.

- Podemos?

- Por que não? - digo, tão cintilante quanto o champanhe. - Acredito que sim.

Nós nos enfiamos na multidão, e Lauren pega duas taças da primeira bandeja que passa por nós. Somos as mais jovens aqui, por enquanto. Deve ser uma festa particular. A vibração das vozes entusiasmadas e a música bizarra e caleidoscópica torna o ambiente estranhamente barulhento para Paris.

- Isso aqui está parecendo ano novo - grito.

Lauren se abaixa para responder:

- Mas não o ano novo verdadeiro. Está mais para aquelas festas cheias de frescura que a gente vê nos filmes. Sempre passo a virada do ano vendo TV sozinha no meu quarto.

- Isso! Eu também!

Lauren me entrega uma das taças e meneia a cabeça em direção a uma das prateleiras gigantes e decoradas do restaurante. O barulho diminui um pouco. Eu ergo minha taça.

- Ao ano novo? Ao nosso novo ano na escola?

Ela leva a mão ao peito, em um gesto de lamentação.

- Desculpa, mas eu simplesmente não posso fazer um brinde àquele lugar.

Sorrio.

- Ok, ok. Que tal, então... aos quadrinhos? A Joann Sfar?

- Proponho um brinde... - declara Lauren, com uma seriedade brincalhona - ...a novos começos.

- A novos começos!

- E a Joann Sfar.

Rio de novo.

- E a Joann Sfar.

Fazemos tim-tim com nossas taças e ela mantém os olhos vidrados em mim. Meu sorriso fica ainda mais largo, e malicioso.

- Há! Eu sabia! - digo.

- Sabia o quê?

- Você me olhou nos olhos enquanto brindávamos. Você finge que não se importa, mas se importa, sim. Eu sabia. É uma excelente observadora.

Tomo um gole triunfante do meu champanhe. As bolhinhas efervescentes fazem cócegas na ponta da língua, e eu sorrio com tanta intensidade que Lauren cai na gargalhada.

Kismet [concluída] Where stories live. Discover now