||_Guilherme e Beatriz, um conjunto de algo mais_||

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|A noite de domingo chegou depressiva e os sinos da igreja de Nossa senhora da Conceição tocara mais uma vez para avisar aos fies que logo mais, às 19 horas, teríamos mais uma missa. O céu estava nublado, mas os fiéis começavam a chegar ao lugar, e a rotina mecânica da vida daquelas pessoas que se espremiam nos bancos de madeira acabava junto com o lanche após a despedida do Padre. Cada badalada era sentida nas paredes da casa de Guilherme que ainda segurava a mão de Bia. As luzes estavam apagadas quando Guilherme despertou. O sol decadente da tarde de domingo deu lugar ao breu, e o jovem Guilhar agradeceu por ter Beatriz ao seu lado. Ele ficou por algum tempo contemplando sua aluna e o perigo daquela visita, pensou sobre o que as pessoas diriam se uma menina de 16 anos fosse pega dormindo no quarto do seu professor de matemática. No fundo, nada importava, Guilherme estava vivo e feliz, teria todo o tempo do mundo para analisar os próximos dias, mas hoje ele só queria que ela ficasse um pouco mais.
Quando Bia abriu os olhos encontrou os olhos de Guilherme em sua direção, ela se sentiu segura e confortável; parecia que tinha dormido por dias e dias, e ao acordar um anjo segurava sua mão. Guilherme estava mais bonito do que nunca aos olhos de Beatriz. Eles não falaram nada e ela só o encarou com toda força que possuía. Ele deixou os olhos dela entrarem com fúria e não desviou o olhar como de costume.
Guilherme passou a mão no cabelo de Beatriz e desceu pelas sobrancelhas e as acariciou, afastando os cabelos negros da menina para trás da orelha. Ela apenas sorriu rapidamente e levantou os ombros escondendo o pescoço.
— Professor...
— Oi, Bia.
— Alguém já te deu 100 beijos? — A voz dela se perdia.
— Nunca contei. — Riu ele desviando o olhar pela primeira vez.
— Em sequência, 100 beijos em sequência e contabilizados. — Ela tocou a mão de Guilherme.
— Não, não... Ninguém nunca fez isso.
— Esse é meu desejo! Dar 100 beijos em você. — Ela sorriu novamente segurando firme o lençol com o cheiro de Guilherme.
— Tem alguma condição?
— Tenho sim. — Disse Bia.
— Qual?
— Eu levanto, tomo banho. Daí você me empresta uma camisa sua e nós vamos até a mansão número sete. — Guilherme parou por um tempo sem entender.
— Mas naquela casa?
— Sim! Naquela casa velha. Eu sonhei com ela e tenho curiosidade. Na verdade todos tem curiosidade de entrar ali. — Ela sentou esquecendo seus pesadelos. — Assim, devo a você 100 beijos em sequência.
— Tudo bem... — Guilherme aceitou prontamente. A ideia de voltar à mansão com Beatriz em uma aventura deixou o professor excitado.
Beatriz levantou com a ponta dos pés por causa do chão frio, pegou uma toalha e foi procurar o banheiro, até parecia que ela já havia estado ali uma dezena de vezes.

||...||

|A missa já havia acabado, o domingo queria dormir e Guilherme e Beatriz atravessavam a praça central em frente à igreja em direção à mansão número sete.
Bia parou.
— Aquela é a casa do pervertido, não é mesmo? — Disse Beatriz focando as janelas com a vidraça quebrada.
— Sim...
— Essa Rua dos Sonhos é mesmo muito curiosa. — Ela soltou um sorriso leve e tocou a mão de Guilherme esperando que ele seguisse o resto do caminho de mãos dadas.
— Tão curiosa quanto o seu desejo de entrar naquela velha casa... — Ele segurou a mão dela.
— Todos nessa cidade querem entrar nessa casa e encontrar um corpo atrás da parede ou enterrado no jardim. — Os dois voltaram a caminhar e Bia chutava o vento com os passos juvenis. — Sem contar que é excitante.
Guilherme queria possuir Beatriz.
Os dois atravessaram o portão enferrujado, cortaram o jardim sob a escuridão e Guilherme acendeu uma lanterna que trouxe consigo. Beatriz guardava cada detalhe daquele casarão e não perdia a oportunidade de fazer perguntas. O professor ajudou Bia a entrar pela janela da fuga, ela estava extasiada e o coração dos dois estava acelerado. Voltar à mansão com alguém transformou aquela noite em uma oportunidade para Guilherme se libertar e viver de novo as aventuras que um dia passou naqueles corredores. A luz da lanterna penetrou a sala de música e o velho piano lá estava.
— Alguém esteve aqui, professor. — Disse a menina.
— Guilherme percebeu que o piano estava limpo e bem polido.
— O piano, professor, o piano está limpo.
— Já notei isso outras vezes... — Guilherme se abaixou e pegou uma moldura quebrada no chão sem foto. Bia tomou da mão dele.
— Quem a levou? Qual foto estava aqui? Eu queria ver Iris. — Os olhos de Beatriz brilhavam junto com a lanterna. — Queria descobrir a origem de tanto encanto por ela.
— Talvez não seja mais possível. — Guilherme seguiu pelos corredores. Beatriz parou ao notar as manchas de sangue na parede.
— Vocês fizeram muitas loucuras por aqui, não é mesmo? — Beatriz colocou a mão direita sobre a mancha de sangue de uma das mãos de Iris.
— Muitas...
Guilherme tocou os ombros de Beatriz, que estava de costas, beijou sua nuca e desceu com a língua em seu pescoço. Beatriz contraiu o abdômen e tirou o cabelo para facilitar o toque de Guilherme que com uma das mãos avançava sobre a pélvis de Bia. Entre pressão e toques mais suaves, o professor avançou com os dedos, afastou a calcinha de sua aluna, quatorze anos mais jovem e sentiu os sinais do desejo na lubrificação que molhava sua mão. Guilherme colocou as mãos de Beatriz na parede, baixou o jeans surrado da garota colocando suas mãos por baixo da camiseta que a tinha emprestado e pressionou os seios ainda em desenvolvimento da menina. Ele a penetrou intensamente sem preservativo, os dois corpos estavam de pé, iluminados pela lanterna ao chão e em volta das marcas de sangue de Iris Almeida. Era estranha aquela situação, mas instigante e excitante para ambos. Bia gemeu como nunca e conseguiu satisfazer Guilherme com seus movimentos acompanhados pelas sombras.

||...||

|Os dois ficaram abraçados por alguns minutos, seus corpos adormeceram  logo que seus corações se acalmaram. Entre sonho e realidade, uma doce canção os despertou do sono repentino.
— Você está ouvindo, professor? — Disse a menina em sussurros no ouvido de Guilherme.
— Sim... estou. — Disse ele sem ter medo levando o olhar até onde pôde.
— Parece que existe mais alguém aqui hoje. — Beatriz arregalou os olhos e sentiu os lábios tremerem. Guilherme pegou a lanterna e focou no fim do corredor até a porta aberta da sala de música enquanto Bia vestia com dificuldade seu jeans.
As teclas do piano tocavam uma canção antiga, bem conhecida de Guilherme. Beatriz também a conhecia. Aquele som fluía há algum tempo, e o casal notou que enquanto transavam ferozmente, ela já dominava os ouvidos e o ambiente
— Quem seria? Iris? — Disse Beatriz apertando a mão de Guilherme.
— Não... Eron! — A luz ao fundo mostrava ao casal a sombra de um jovem levantando e olhando para eles. — Desgraçado!
Guilherme avançou pelo corredor seguido por sua jovem amante, a porta fechou bruscamente sem nenhum contato. Guilherme a chutou com força e quebrou a fechadura. Quando a porta se abriu não havia nem som, nem imagem. A música acabou, Eron não estava mais ali.
— Você viu? — Perguntou Guilherme suando frio.
— Sim... — Disse ela querendo rir e mudando de expressão.
— Você ri? Aquele pervertido safado estava aqui brincando com a gente! Tocando nesse piano e observando a gente. — Guilherme pôs a lanterna sobre o Steinway e apoiou os cotovelos sobre ele, baixou a cabeça e quis retirar cada fio de cabelo.
Beatriz riu novamente.
Guilherme levantou a cabeça e encarou a garota.
— Você é louca? — Ela riu novamente.
— O pervertido pode ser você, professor... — A voz dela estava diferente e ecoava pelas paredes sujas e escuras.
— Você vem à minha casa alegando que foi estuprada, me oferece um passeio sinistro nessa casa, fazemos sexo em pé ao lado dos vestígios de Iris, aquele desgraçado presencia tudo e você ainda insinua que o pervertido sou eu? — Guilherme tinha sangue nos olhos.
Beatriz pegou a lanterna e focou na cara do professor.
— Porque você a matou Guilherme?
— Você é louca. — Ele tentou puxar a lanterna da mão de Bia, mas ela se desvencilhou na escuridão o deixando sem conseguir ver nada.
— Você a matou, professor, você sabe onde está esse corpo e deixou que Eron de Menezes fosse acusado. Eu pesquisei tudo sobre esse caso por anos.
Guilherme colocava as mãos sobre o rosto para tentar fazer algo.
— O problema é que me apaixonei pelo assassino da Rua dos Sonhos. E eu queria fazer amor com ele. Sou tão louca quanto você. — Ele se aproximou.
— Me dê isso, Bia!
— O corpo. Me diz, onde está o corpo?
— Louca... vamos pra casa! — Guilherme avançou para cima de Beatriz e jogou seu corpo pesado sobre ela. A menina caiu junto à lanterna no chão.

"ONTEM TE VI NA RUA" Where stories live. Discover now