Capítulo 1: Uma pequena Insensatez (segunda parte)

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No braço ele tinha uma pulseira bonita que parecia ser de ouro, experimentei para ver se saía e saiu fácil. Era pesada e provavelmente valia o que ele tinha prometido, mas não cumprido, e por isso, naquele momento, o ato me pareceu justo.

Experimentei sair pela porta por onde tínhamos entrado, mas ela estava trancada, então voltei e mexi nos bolsos da caça dele até encontrar a chave. Quando consegui abrir, vi lá fora o carro que em tínhamos chegado e o meu vestido jogado dentro dele. Tive receio de ser vista por alguma abertura no muro, ou que tivesse alguém no quintal, já que eu não estava vestida, mas não tinha ninguém. Experimentei a porta do carro, morrendo de medo de fazer soar algum alarme, mas senti alívio ao ver que ela estava aberta. Peguei meu vestido, tirei a camisa masculina que eu estava usando e o vesti, pondo a pulseira numa abertura secreta do bojo.

Vi também que não seria fácil sair dali para a rua já a garagem se abria com um controle e eu não sabia onde ele estava. Havia outro portão, mas eu não vi nenhuma chave que poderia servir nele. Voltei para onde o homem estava dormindo e procurei pelo controle. O blazer dele estava jogado num canto e por isso resolvi procurar lá, encontrando facilmente o controle em um dos bolsos internos. Com a nobre peça de roupa nas mãos, eu pensei que ela poderia me ajudar num outro problema que eu teria, o de andar àquela hora exibindo um decote ridículo, por isso o vesti sobre o vestido e lançando um último olhar sobre o bonitão que dormia de boca aberta num sofá menor que o seu tamanho, eu peguei minhas sandálias e saí a passos leves, deixando a porta encostada e a chave nela.

Do lado de fora, experimentei um botão do controle e o portão da garagem nem se mexeu. Apertei o outro, já com os dedos tremendo ante a possibilidade de chamar a atenção de alguém, e então ele começou a se abrir. Quase chorei ao descobrir que ele fazia barulho. Quando tinha aberto pouco mais de um metro, apertei o botão que deduzi ser o de fechar e o portão começou a retornar, então joguei o controle sobre o capô do carro e passei correndo pela abertura que já se estreitava. Estava livre!

Uma vez lá fora, uma sensação de medo e ao mesmo tempo de felicidade tomou conta de mim e eu me pus a correr. Corria como se tivesse cachorros e pessoas correndo atrás de mim, mesmo que não houvesse ninguém. O sol estava lindo, mas não tinha ninguém na rua.

Como eu previra, os chinelos me ajudaram a vencer a distância sem me machucar e as sandálias me incomodaram tanto na corrida que quando passei por uma lixeira grande o suficiente, atirei-as lá dentro. Não queria vê-las nunca mais. Não me perdi pelo caminho porque a avenida principal era inconfundível e os pontos de referência eram bem visíveis.

Quando cheguei nos arredores e no próprio hotel, vários olhares curiosos se espantaram ao me ver. Aquela mocinha recatada e miúda chegando àquela hora de chinelos velhos, blazer masculino, maquiagem toda borrada e cabelos desgrenhados. Uma noitada daquelas. Sem coragem de ir direto para o café, subi para o quarto, onde tomei banho e caí na cama, exausta.

Quando acordei, já por volta das quatro da tarde, estava com dor de cabeça e muito fraca por estar há muito tempo sem me alimentar. Com dificuldades devido à tontura, me levantei, peguei o refrigerante do frigobar e tomei, mas vomitei tudo logo a seguir. Só mais tarde, depois de melhorar um pouco, foi que eu saí do hotel, fui a uma sorveteria e tomei um milk-shake, o que fez com que eu me sentisse melhor. Naquela noite eu só fiquei no hotel e não aproveitei nada, já que manhã seguinte era a hora de partir.

Com as ideias mais claras, comecei a me recordar de tudo o que tinha acontecido e do que eu tinha feito e então comecei a me arrepender de ter pegado a pulseira do homem. No final daquela última noite no hotel, eu já estava totalmente arrependida.

Não bastasse ter me comportado como uma prostituta ao pedir dinheiro, ter perdido a virgindade com um desconhecido bêbado, ter ido à casa dele e corrido riscos sérios, eu ainda havia roubado, coisa que nunca tinha feito antes e nunca mais voltaria a fazer. Sim, eu roubei um homem desmaiado e isso ficou martelando na minha cabeça de forma dolorida, o tempo todo eu me recriminava por ter feito algo tão sujo.

Insensatez (Em Andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora