Capítulo 1: Uma Pequena Insensatez

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Eu não era a única premiada na promoção da rede de supermercados. Havia um pequeno grupo de ganhadores, todas pessoas simples e deslumbradas e entre eles eu era a mais jovem e a que estava a fim de sair fora da linha. Todos ficamos no mesmo hotel e tínhamos um guia para nos orientar. O hotel não era o mais luxuoso da região, mas para mim era um verdadeiro sonho. Quarto de casal enorme, televisão com trocentos canais pagos, café da manhã farto, vizinhança bonita. De lá eu podia ir a pé a vários locais interessantes, além da praia. Por ser ainda setembro, o clima não estava adequado para o mar, ventava e fazia frio, mas ainda assim a vista era linda e a praia sempre frequentada por idosos e mulheres correndo. Logo que cheguei na região, eu fui lá observar.

A primeira noite transcorreu sem maiores novidades, ainda estava conhecendo o local. O segundo dia foi legal, mas cansativo por causa do roteiro da viagem e somente à noite eu dei um jeito de me desgarrar do grupo sair sem eles. Foi muito mais divertido e proveitoso assim e então eu estava pronta para aproveitar a viagem à minha maneira.

Dentre os itens que faziam parte do pacote da promoção, estava um ingresso para um evento muito chique, mas chato. Havia mais mulheres do que homens, uma mais linda do que a outra, e os poucos rapazes estavam acompanhados. Não era assim que eu pretendia passar a minha noite.

Fiquei até certa altura, depois saí, fui para outro lugar. Entrei numa casa noturna que parecia bem animada e comecei a circular. Estava cedo demais para estar animada e tinha poucas pessoas interessantes. Mesmo assim, eu me sentei no balcão e pedi uma bebida que depois descobri ser à base de vodca. Foi a primeira vez que ingeri álcool. Um rapaz sentou-se ao meu lado e sorriu para mim, mas depois passou a me ignorar completamente. Notei que ali os homens ou tinham algum compromisso ou tinham outra preferência, de forma que eu não chamava a atenção.

Na falta do que fazer, pedi outra bebida que também me pareceu ser vodca. A primeira tinha descido bem, mas a segunda só foi até metade. O fato de eu nunca ter bebido e à minha massa corporal reduzida fez com que o álcool me tonteasse logo. Também senti enjoo e dor no estômago.

Desanimada com o lugar, eu saí e comecei a andar pelas ruas, era por volta de duas da manhã. Se estivesse raciocinando bem, eu saberia que não era uma boa ideia andar sozinha àquela hora, mas o pouco que eu bebi fez mudanças bem grandes no meu juízo e entendimento.

Era um lugar muito bonito, cheio de casas antigas, pousadas, casas chiques e mansões enormes. Não era movimentado, nem barulhento, não parecia ser perigoso. Era um bom lugar para os ricos descansarem e os pobres se deslumbrarem.

A noite estava agradável, então eu estava usando meu mini vestidinho branco, saltos altos e maquiagem nos olhos, coisa que eu tinha acabado de aprender num tutorial da internet. O ar frio era amenizado pela vodca recém-ingerida e caminhar também ajudava a aquecer. Andar naquele tipo de calçamento era uma prova de fogo para os meus pés cansados e desacostumados com saltos e por isso eu ia ziguezagueando pela rua estreita. As pessoas que andavam pela rua àquela hora estavam pouco se importando com a forma que eu andava, alguns estavam até descalços.

Quando eu me abaixava para tirar as sandálias para poder carrega-las nas mãos, um carro daqueles esportivos importados passou a poucos centímetros da minha cabeça e parou logo à frente. Dele saiu um homem bem gato e vestido socialmente, mas que não parecia nada bem. Ele se encostou ao carro e então eu vi que ele tinha na mão uma garrafa e estava bebendo. Sob o terno, a camisa estava meio desabotoada e toda amarrotada e os olhos e a barba indicavam que ele já estava assim há algum tempo. Parei de tirar as sandálias e meio cambaleante me aproximei.

— Ei, moçooo.

Chamei-o, mas ele não me deu bola, virou a cara para o outro lado e continuou a beber. Eu estava bem corajosa e rindo o tempo todo. Álcool, ainda que em pequenas quantidades, no meu sangue, me fazendo tomar atitudes que nunca imaginei que teria. Estava bem alta, como costumam dizer, e minha língua estava um pouco enrolada, mas estava consciente.

Insensatez (Em Andamento)Where stories live. Discover now