32_ Caça ao Godzila

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Na fé tudo é possível. Felizes são os que, sem ver, creram. Não era bem o caso de Maruan. Que esperança há para um homem fora do seu tempo? Um homem sem família, filhos, pais ou parentes? Um vazio pairava no seu coração. Seus pensamentos cirandavam com as lembranças de seu amor. Não parava de pensar em Bianca.

Aguardava ser chamado na sala do Conselho Lunar. Naquela base na Lua todos se vestiam de branco. As paredes eram brancas e bem iluminadas. Tudo estava branco e triste. Lá fora, até mesmo as trevas do espaço haviam pontos de luz causada pela rede de satélites com tecnologia avançada, elaborada por Iris. Basicamente havia comunicação para todos os lunares.

A parte mais dramática era quando a Lua ficava mais perto do Sol. Uma imensa lona protetora era aberta no espaço. Tinha o tamanho da lua e filtrava os raios ultravioletas lançados por um Sol doente, velho e triste.

- Capitão Mar, por favor, entre – disse um dos membros do Conselho. Era o Bispo Justino. Alem de membro e presidente do Conselho Lunar, era também um dos lideres de uma seita religiosa baseada em fé cristã.

Leram o relatório de Maruan. A viagem no Tempo já era uma realidade para os lunares e o que os admiravam e causavam espanto não era a viagem no tempo em si - um salto no futuro de noventa anos - mas a maneira como tudo se deu os causavam ainda mais espanto. As teorias de viagem no tempo por meio de fendas no espaço sem uso de tecnologia avançada agora era uma realidade e estava sentado sozinho diante deles. O Conselho Lunar era formado por homens e mulheres de grande valor. A virtude descansava na integridade daquelas pessoas. Eram gente do bem.

Decidiram oferecer a Maruan uma função. Basicamente se tornaria um professor e contaria sua experiência na Nave; os planetas que visitou, a vida no espaço, a convivência com Iris, a viagem no tempo. Era fantástico ter uma pessoa que vivera na Terra antes do Grande Colapso do Sol e do êxodo para Lua. Maruan era uma memória ainda viva e um privilegio para uma geração inteira nascida na Lua. Compartilharia em salas de aula sua historia e a historia de toda a humanidade. Um brilho no escuro, pois quem não conhece o passado vive nas trevas e não enxerga o futuro, mesmo se o futuro tiver a um palmo do nariz.

Maruan imaginou que isso aconteceria na Terra após sua viagem de cinco anos explorando e desbravando o espaço. Estava fazendo o esperado, porem antes do termino da viagem de cinco anos e noventa anos adiante no tempo, com remanescentes da Terra vivendo na Lua.

- Esperamos que aceite nossa oferta, Capitão. Se precisar de tempo para colocar a cabeça em ordem, descanse o quanto achar necessário. Estamos disponibilizando um acompanhamento psicossocial, um alojamento confortável para os parâmetros de astronautas e uma função para você – Disse Bispo Justino com um ar cordial e extremamente educado. Trazia segurança a Maruan.

- Estamos numa batalha política com o Império Estelar. Estamos a procura de um planeta semelhante a Terra, que esteja inabitada, um novo lar para a raça humana. E mesmo se encontrarmos essa nova Terra, não temos autorização para habitá-la. A Lei Universal diz que cada planeta deve ser habitado somente pela vida de origem. Vidas de outros sistemas tem autorização para permanecer temporariamente e não de forma definitiva – Lamentou Bispo Justino.

Maruan lembrou-se do japonês sentado sozinho na nave. Sato Hiroshi dizia que "uma nação sem chão, se perde aos poucos". Se havia alguém nesse espaço capaz de encontrar uma Nova Terra, esse alguém era aquele velho samurai.

Já em seus aposentos, Maruan entrou em profunda meditação sobre sua nova realidade. Fez a barba, cortou o cabelo, retomou a leitura e seu gesto diário de oração; joelhos dobrados, olhos fechados e mãos entrelaçadas, exatamente como aprendera com os pais. Era hora de despertar e lembrar-se de quem realmente era. Pediu perdão a Deus, restaurou a fé, levantou-se e estava novamente no domínio das duas únicas coisas que o homem realmente controla no universo: suas ações e seus pensamentos.

- Iris, por favor, mostre registros antigos. Quero saber quantos de nós retornaram daquela viagem de cinco anos ao espaço – ordenou com voz firme e determinada.

- Capitão, apenas o senhor e Sato Hiroshi não retornaram à Terra.

"Como imaginei", pensou Maruan.

Estava aberta a temporada de caça ao Godzila...

O Homem Sentado Sozinho na NaveWhere stories live. Discover now