6_ Olho Prateado

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Maruan fez juramento diante da Bandeira Nacional e colocou sua vida a serviço da pátria brasileira.

Após duas tentativas frustradas de ingresso na Força Aérea, finalmente conseguira.

Agora, além de físico, era também Sargento. Sargento Mar.

Coronel Gangalupe o convidou para uma conversa particular. Disse, entre tantas coisas, que estava muito orgulhoso de ter um físico, reconhecido, entre seus subordinados.

- Seja bem vindo Sargento Mar - Cumprimentou, apertando firme sua mão.

Embora a humanidade, desde a grande inundação, tenha se tornado pacífica, não abriam mão de suas forças militares. E se houvesse uma guerra estelar, estariam, minimamente, preparados. Jamais haveria uma guerra estelar. Tais pensamentos existiam, apenas, na paranóia humana.

Os caças eram usados para missões humanitárias. Astronautas da NASA usavam-os para treinamento de vôo, ganhando assim, mais experiência. Os aviões eram usados, também, para escoltar naves estelares. Visitantes simpáticos, vindos de outros planetas, eram levados para lugares onde podiam recolher suas pedras, plantas e insetos sem serem incomodados.

Em seu primeiro ano como Fabiano, Sargento Mar já acumulava missões de treinamento, escoltas a naves estelares e ajuda humanitária.

Foi voluntário em uma missão de ajuda humanitária na África. Após um surto do vírus ebola na Tanzânia, o país localizado ao sudeste do continente africano, que teve metade de seu território devastado após a grande inundação, ficou em estado de quarentena. Comida, remédios e máscaras eram lançados todos os dias dos caças e caiam de paraquedas na região afetada.

Na volta para a base, localizada no oceano índico, onde outrora havia a Ilha de Madagascar, totalmente desaparecida com a grande inundação, houve uma pane no motor. Sargento Mar fez de tudo, até o último instante, para salvar a aeronave.

Teve que ejetar. O paraquedas demorou abrir e a queda não teve nenhum amortecimento. Caiu, espatifado, numa savana de arboredo escasso, no coração da África.

A perna estava quebrada. Talvez algumas costelas também. Arrastou-se com muita dificuldade para uma região rochosa. Não quis se apavorar, mas viu, ao longe, leões se aproximarem.

Era um grupo de sete leoas que caçavam juntas. Estavam frustradas, pois tentavam capturar búfalos aquele dia e, já sendo a tardinha, não haviam conseguido nada para a comunidade faminta dos leões. Olhavam para aquele humano caído nas rochas e agradeciam, ao Leão de Judá, pelo presente enviado dos céus.

Já estavam em posição de espreita. A qualquer momento lançariam seu ataque. A presa já estava completamente cercada. O batimento cardíaco de Maruan estava acelerado. Arrancou da botina uma faca, seu instrumento derradeiro de auto defesa e sobrevivência. Estava estirado, mal podia se mexer. A perna sangrava, revelando uma fratura exposta. Uma leoa se aproximou um pouco mais. Maruan fez uma oração. Controlou a respiração e pediu ao Pai, já consolado, que não sofresse tanta dor.

- Seja rápida - Murmurou.

Pensava nos pais. Pensava em Bianca. Sentiu um conforto na alma e o medo dormiu, como dorme uma criança ninada pela mãe. Fechou os olhos aguardando o ataque feroz de sua oponente. Fechou os olhos aguardando a morte. Fechou os olhos no mesmo instante que surgiu, num salto atrás das rochas, uma leoa. Maruan se assustou. Era enorme, os pelos castanho-dourados. Seu olho direito tinha uma cicatriz e a cor de sua íris era prateada. Sim, era uma leoa cega de um olho. Urgiu brava para as outras leoas, se impondo sobre elas, como se fosse dona de todo o universo. Se os leões são os reis da floresta, Olho Prateado era a rainha. Se Olho Prateado era a rainha, aquelas não eram suas súditas. Atacaram-na. Iniciaram uma batalha feroz pela comida. Se aquelas leoas não eram súditas de Olho Prateado, passaram a ser. A leoa vencedora deitou exausta diante de Maruan, lambendo as patas, enquanto suas novas súditas se afastavam derrotadas.

Já havia se passado meia hora desde a chegada de Olho Prateado e Maruan não sabia ao certo o que se passava na mente daquela leoa.

Já havia perdido muito sangue. Sua cabeça já começava rodar. Seus pensamentos variavam. Olho Prateado soltava urgidos breves.

- Tente ficar acordado - Disse a leoa.

Maruan se espantou. Uma leoa falando? Se já não estava morto, estava louco.

- Tente ficar acordado!

Maruan abriu os olhos. Estava deitado numa maca com uma médica em cima dele, fazendo os primeiros socorros, gritando para que tentasse permanecer acordado. Enquanto o helicóptero ganhava altura, viu ao longe, deitada no chão, com um tranquilizante enfiado no lombo, Olho Prateado. Sorriu, agradecendo sua salvadora. Não a médica, a leoa. No fundo sabia que Olho Prateado iria comê-lo a qualquer momento. Mesmo assim, crescia em Maruan um sentimento de gratidão:

- Obrigado Olho Prateado, obrigado.

O Homem Sentado Sozinho na NaveWhere stories live. Discover now