31_Diário de um dinossauro

14 6 0
                                    


Setembro de 2125, ou melhor, 2215, terça-feira.

Hibernei um ano e meio, ou melhor, noventa anos. Minha hibernação durou até o encontro de Iris com uma tempestade de cometas colossais, velozes e em chama, num corredor gravitacional fora do comum. Tenho uma leve desconfiança que Iris nos conduziu diretamente para a tempestade e retardou o alarme. Decidi enfrentar e atravessar a tempestade. Iris discordou e, ousadamente, desacatou minhas ordens. Seu calculo concluiu que não seriamos capazes de atravessar aquela tempestade. Não sei se ela pensou na minha segurança ou se em si mesma. A gravidade da tempestade nos puxava direto para o centro da morte. Nesse momento de incerteza, vimos uma fenda, um buraco de minhoca. Iris direcionou a nave para a fenda. Nosso desbravamento não era mais do espaço somente. Agora nos tornamos desbravadores do tempo. Ao sair da fenda havíamos acabado de realizar um salto de noventa anos em apenas noventa segundos. Não estamos mais em 2125, mas sim em 2215. Ao final da fenda nos deparamos face a face com a Lua. Vi a Terra e metade dela estava em chamas. Fomos contatados pela Frota Estelar Imperial. Fomos escoltados e pousamos numa base lunar. Toda a Lua agora era uma imensa cidade e cheia de iluminação artificial. Uma nova geração de seres humanos estava nascendo na Lua e não eram chamados de terráqueos, mas de Lunares. A tecnologia estava infinitamente avançada. Fiquei um tanto assustado e desconfortável com isso. Tantas coisas mudaram! Por que aquelas chamas na Terra? Por que aquela nova situação dos humanos? Uma breve pesquisa na Iris revelou uma nova catástrofe. Ainda mais avassaladora que a Grande Inundação. O Sol entrou em colapso. Nossa estrela explodiu enviando à Terra uma onda de calor que elevou a temperatura até 120 graus Celsius. As arvores queimaram. O Brasil e sua floresta Amazônica agora eram pó e cinzas. As geleiras derreteram ainda mais e uma nova inundação acabou com mais vinte por cento das costas marítimas de todos os países que faziam fronteira com mar. O ar ficou irrespirável. A temperatura tornou a baixar após alguns anos, mas o que antes não passava de quarenta graus Celsius, agora tinha em media setenta e cinco graus Celsius. Sem ar adequado, sem água, sem terras, o planeta inteiro se tornou inabitável. Tudo ruiu. O sistema político e econômico. O sistema artificial e o ecossistema. A religião e a ciência. Tudo! Os humanos que não morreram foram direcionados para a Lua. Os que insistiam em permanecer na Terra ou estavam com sede ou estavam com fome. Sendo um ou sendo  o outro, o certo é que estavam com medo e voltaram ao modo primitivo de vida. Sem comunicação, sem conforto, sem perspectivas e sem esperanças. Nunca mais verei Bianca. Nunca mais verei meus pais. Nunca mais viverei na Terra. Toda essa perda, esse salto no tempo e essa tecnologia assustadoramente avançada... Tudo gira na minha mente e me coloca numa imensa confusão. Estou sendo encaminhado para um Conselho. Irão decidir o que farão comigo. Será que sou uma ameaça? Ou será que sou um herói? Será que ainda sou um capitão? Não sei. Só sei que após noventa anos sinto-me um peixe fora d'água, um antiquado, um verdadeiro dinossauro em extinção.  

Maruan, o último da especie.         

O Homem Sentado Sozinho na NaveNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ