9_ Diário de um Sobrevivente

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Junho de 2121, quinta-feira.

Estou de repouso há duas semanas num hospital das FAB. Sinto-me, às vezes, privilegiado por ser um Fabiano.
Piloto aviões desde os dezessete anos e, essa semana, após seis anos sem sofrer um incidente sequer dentro de uma cabine, sofrí meu primeiro acidente.
Os caças da FAB são realmente avançados em sua tecnologia, no que diz respeito aos painéis, radares e estabilidade de vôo. Mas sua carcaça já tem mais de 150 anos!
Na volta de uma missão humanitária na África, houve uma pane no motor. Depois que ejetei do meu tiger F5, o paraquedas demorou a se abrir. Caí com uma velocidade considerável na savana da Tanzânia. Quebrei algumas costelas, uma perna e minha confiança em aeronaves ultrapassadas. Quando será que vamos começar a voar de verdade? Com tranquilidade, segurança e elegância? Quando vamos, finalmente, voar como eles voam? Quando vamos começar a usar propulsores e controlar completamente a gravidade?
O governo brasileiro não quer permitir que minha patente torne-se pública. Quero compartilhar minha descoberta com o mundo, mas eles querem que tal tecnologia permaneça secreta. Penso que, em toda galáxia, há paranoias existentes apenas em mentes humanas.
O que eles querem que seja secreto, está diante de nossos olhos dia após dia.
Lembro- me a primeira vez que vi aqueles propulsores, dominando totalmente a gravidade. Eletricidade, magnetismo, gravidade e propulsores eram palavras que se misturavam na minha mente e me inspiraram a seguir a carreira de físico.
Essa semana recebi um convite da NASA. Estou quase certo que os americanos são os maiores interessados que a dominação da gravidade não torne- se pública. Irei pra América assim que me recuperar. Aliás, assim que me recuperar, irei me casar. Quando me resgataram na savana da Tanzânia, estava cercado por leoas famintas. Uma leoa enorme, cega de um olho, que chamei carinhosamente de Olho Prateado, salvou minha vida. Sei que, assim que ela se recuperasse da batalha que travou pela comida com as outras leoas, iria saborear sua magra, pálida e triste refeição: eu.
Achei, naquele instante, que minha aventura aqui nessa terra havia chegado ao fim. Orei ao Pai de todo meu coração, e já consolado, pedi a Ele que Olho Prateado me matasse sem muita demora, assim que decidisse me devorar. Após perder muito sangue, posso jurar que ouvi a leoa falando pra que eu ficasse acordado. Eu sei, animais não falam. Mas não posso negar que pensam. Embora eu não fazia a menor ideia do que se passava na cabeça daquela leoa.
Quando vi Bianca no hospital, percebi que a amava mais do que imaginava. Estou certo que é com Bianca que viverei por toda a eternidade. Ela me escolheu desde o princípio e, eu, me deixei ser escolhido. graças ao Pai Celestial e, graças a Olho Prateado, amarei Bianca de todas as formas possíveis, pelo resto de minha existência.

Maruan, sobrevivente.

O Homem Sentado Sozinho na NaveWhere stories live. Discover now