24_ Amizade Imcomum

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Bom para o homem é o privilégio de escolher a quem se quer por irmão. Maruan e Íris se escolheram por força da circunstância. O pacto que sublinhava essa irmandade estava subentendido. Maruan admirava Íris por sua desenvoltura, ao passo que Íris admirava Maruan por ser, do mesmo modo, dotado de dignidade, disciplina, intelecto, bondade e carácter; Inteligência organizada, subitamente capaz de pensamento. Davi, em suas batalhas assistidas por seu fiel amado Jonatas contra os filisteus, invejaria o início de tal amizade incomum, mesmo que entre um homem e um robô.
Os diálogos tornaram-se corriqueiros, um terno jogo de palavras lançadas no ar, nunca levadas a sério. Íris reproduzia o áudio e vídeo de Maruan tocando seu violino sentado na cabine.

- Ah! O Quarteto Número Um de Vila Lobos. Não é lindo, Íris? - Exclamou Maruan.

- Naturalmente, Capitão.

- Íris, você seria capaz de criar algo tão lindo assim? - Questionou inofensivamente, com os olhos cerrados e um sorriso de prazer e satisfação no rosto.

Íris tinha inteligência suficiente para perceber que por trás daquela pergunta tão boba, havia um conceito formado que partia da premissa que nenhuma máquina criada pelo homem é capaz de substituir o próprio homem. A inteligência de Íris iniciou um processo automático em busca de uma resposta satisfatória, mesmo que Maruan pensasse já sabe-la. Após um instante de ponderamento, Íris percebeu que não havia sido programada para iniciar por conta própria projetos criativos. E respondeu retoricamente.

- Capitão, o semhor é?

Maruan abriu os olhos, e ordenou o desligamento do audiovisual projetado na cabine. Maruan havia deslocado Íris um degrau a baixo com sua pergunta desimportante. Íris, com sua retórica, desceu Maruan ao mesmo patamar. Eram amigos, eram irmãos, eram iguais...

O Homem Sentado Sozinho na NaveWhere stories live. Discover now