JANEIRO, 01. 2015.

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Talvez, fosse nesse cômodo que ele desaparecia certos dias, em que Selena não conseguia se erguer para ir ao banheiro, exceto em situações extremas.

– Por um tempo, tipo, no século passado, meu irmão queria que eu aprendesse a me defender. Eu fui para duas aulas de alguma dessas artes marciais da moda, mas definitivamente não sirvo para isso. Eu sou muito preguiçosa, e eu não acredito em violência como um método eficiente de resolver problemas. Diferente dele... – ela revirou os olhos Essa deveria ser uma discussão antiga, pelo tom de tédio na voz dela. – Talvez você goste. Se você o pedir, Marcus irá lhe ensinar. Mas devo lhe precaver: ele tem zero paciência para iniciantes.

Em outra época, Selena poderia ter rido. Nesse exato instante, ela simulou um sorriso fraco que nunca chegou aos seus olhos.

Lucinda deu um soco fraco no saco, o objeto mal se moveu. Contudo, Selena interpretou o gesto como um tímido incentivo para ela liberar a tensão acumulada durante os dias em que dormia encolhida, suando frio e tremendo na cama.

Ela deu um soco para tentar, e a sua mão voltou vermelha, ardendo. O soco parecia ter a machucado mais do que causado qualquer dano no objeto. Selena tentou de novo, colocando mais força e coordenação no ato, dessa vez o saco moveu-se. Ela socou com a outra mão.

Ela não sabia dizer quando começou a imaginar o objeto como algo a mais. Ela imaginou que ele tinha um sorriso sinistro, escarlate, manchado com o seu sangue. O objeto tinha diferentes rostos, alguns que ela havia aprendido a temer, outros que ela podia apenas inventar a configuração. E o objeto tinha membros e uma boca que dizia o seu nome como uma piada suja. Todos os monstros num mesmo objeto. Dessa vez, ela chutou o saco, equilibrando-se fracamente quando a intensidade do impacto a atingiu. O saco voou, dando uma volta, Selena afastou-se para não ser atingida. Atingiu-o mais três vezes com as mãos fechadas em punhos enfurecidos. Então, ela atacou com a extensão da sua perna. Ela caiu, e levantou-se no mesmo instante. Havia uma força nela, que ela também não sabia de onde havia surgido. Energia esta dos seus medos, a ira, os gritos de horror convertidos em ato potente. Era dessa forma que ela deveria ter lutado contra os seus agressores, até o final, com força, com dentes, mãos e pernas, com toda a fúria incontrolável do seu corpo. Mas ela estava amarrada e fraca. Havia rasgos, inúmeros, nas suas articulações. Ela não podia se mover, o grito agudo e desolador era a única forma de proteger-se do medo do incerto. O que aconteceria com ela se Marcus não tivesse chegado a tempo?

Eles teriam a estuprado. Devorado-a viva. Sugado-a até a última gota de seu sangue, enquanto os órgãos desfaleceriam aos poucos. Mesmo no seu último suspiro, eles teriam a torturado. Teriam a feito implorar pela morte derradeira. E ela teria aceitado, teria implorado, se rendido facilmente, como ela quase o fizera.

Ela socou os corpos deles cada vez mais forte. O suor escorria em camadas grossas pela testa, serpenteando em suas costas. As mãos e as pernas ardiam, e ela tinha uma vaga impressão de que havia sangue nas suas mãos. Mas ela não conseguia parar. Eles estavam rindo dela, tão alto, era a única coisa que ela conseguia escutar. Eram risadas histéricas. Ela precisava fazê-los parar. Ela só queria estar livre do som, das visões que a atormentavam. Ela só queria estar segura em sua própria mente.

Ela escutou um grito rouco, e só depois percebeu que ele era seu. Era um grito estrangulado de horror e ira. Ela bateu ainda mais forte, e o saco moveu-se num grande arco ao seu redor. Selena girou com ele, chutando-o repetidas vezes. Ela caiu de novo, e ergueu-se com a mesma rapidez. Os seus membros gritavam por descanso, mas ela não podia parar. Sua vida dependia disso. Ela tinha que continuar a lutar. Na terceira vez que caiu, Lucy a tocou no ombro, a boca abrindo-se para dizer algo. Selena afastou-se rapidamente, uma expressão de horror tomando conta de sua face.

A SIDE: SELENA // Under Your Skin //Where stories live. Discover now