AGOSTO, 31. 2014.

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Ele veio cedo demais, Selena pensou. Mas ela estava preparada dessa vez. A chegada veio como uma surpresa para ele, não o contrário.

Selena surgiu do banheiro enrolada num kimono preto, seu comprimento terminando na altura dos joelhos. Ele não estava sorrindo quando ela soltou o laço que prendia o tecido ao seu corpo, revelando a pele negra por baixo dele. A criatura dentro do homem manteve o olhar soberbo fixado no vale dos seios da mulher, o suficiente para convencê-la de manter o tecido escondendo parcamente os contornos de suas formas, a largura do quadril, o volume da cintura, a carne grossa das coxas. Uma provocação, pensou Selena, com um sorriso delirante se apossando de seus movimentos. Selena – ou talvez tivesse sido aquele maldito sorriso – enlaçou os braços ao redor do pescoço do homem, deixando que ele experienciasse o mais sútil dos toques. Um desafio, dessa vez. Ela gostaria de saber se ele quebraria com o desejo de tocá-la?

Esse era um jogo perigoso – quem sucumbiria primeiro?

O dourado dos olhos dele brilhava com uma intensidade que Selena jamais vira em outro homem. Ele havia a oferecido diferentes feições no tempo em que ficaram juntos – olhares de desejo, gargalhadas genuínas, sorrisos ambiciosos, palavras provocadoras, toques cruéis. Nunca aquela feição de curiosidade. E de... Ele abaixou o olhar para o dela, sua expressão parecia relaxada, mas também imperiosa; como se uma ordem não dita se infiltrasse nas bordas de seus lábios pressionados numa linha inerte. Nada foi pronunciado. Ele sequer se moveu.

O sorriso de Selena aumentou. Ela inclinou a cabeça para trás, para encará-lo no mesmo nível.

– Dessa vez, será como eu quiser – ela exalou o ar na boca dele.

Com uma mão pressionada no pescoço dele, Selena o empurrou para baixo. De joelhos, ele a encarou, esperando uma ordem que não precisava ser pronunciada. Mas ele ansiava que ela a dissesse de qualquer forma.

– Me coma.

A respiração quente dele fez cócegas no sexo dela. Ele a beijou por cima do fino tecido da calcinha, a única outra peça de roupa que ela usava além do kimono. O beijo era um simples toque, como foi o peito dela contra o seu. Ele aceitava o desafio dela.

Bom, Selena pensou. Eu não o deixarei controlar meu corpo.

Ele ergueu a cabeça para depositar pequenos beijos ao redor do umbigo dela. Quando a sua língua o penetrou, Selena arfou. O ato parecia mais obsceno do que realmente era, e a língua áspera dele circulou o pequeno buraco, insinuando o que aconteceria. Ele arrastou os lábios pela coxa esquerda dela, lambendo a pele antes de mordiscá-la. As mãos dele prederam-se no tecido da calcinha e puxaram-no aos poucos. Ele ia beijando cada novo espaço de pele visível, até que esfregou uma longa lambida no sexo dela.

Selena suspirou, contente por finalmente tê-lo onde queria. Apertou as mãos nos cabelos dele para forçá-lo a permanecer ali. Ele não parecia disposto a contrariá-la dessa vez.

Ele abriu os lábios dela com os dedos, contornando-os com sua língua quente para, em seguida, girá-la sobre o clitóris dela. Ele começou a espalhar rápidas lambidas na região. Subitamente, cessou o movimento, somente para chupar o botão de nervosos entre os dentes. Onde a língua dele era macia e envolvente, os seus dentes eram duros e ríspidos. Selena teve dificuldade em manter-se em pé; se não fosse pela mão dele em sua cintura, tinha certeza que teria caído sobre a boca dele.

Ele a encarou, enquanto estimulava o sexo dela, espalhando sua umidade nela.

A língua dele fez maravilhas no corpo dela. Contudo, Selena manteve-se quieta, observando-o banhar-se em seu mel de prazer. Quando ele finalmente ergueu-se e beijou os lábios dela, Selena liberou o ar preso nos pulmões e permitiu-se ceder à sua libido.

Após ter atingido o segundo orgasmo, ela o deixou beber de seu sangue. Se tivesse que ser sincera, admitiria seu impulso – o homem tinha os dentes penetrando a pele da curva de seu seio, enquanto o seu membro ainda pulsava dentro dela, ameaçando rompê-la com a força que ele usava para socar o ar para fora dos pulmões dela.

Esse orgasmo foi diferente dos outros. Todos eles possuíam uma qualidade espetacular, mas a mordida parecia ter eliciado uma série de eventos cósmicos sob a sua pele. Ela não viu fogos de artifícios estourando; ela se sentiu como parte de uma supernova, com todo o poder da explosão vibrando em seus ossos. Ela não estava consciente do grito agudo que irrompeu o silêncio da noite, de forma que ele teve que a calar com um beijo forte do qual ela também não conseguiu sentir.

Nesse momento, ela teve uma lembrança. Antiga. Alguém havia a dito antes acerca do terrível êxtase de viver uma experiência radicalmente inscrita no corpo, de tal forma que ela não poderia ser colocada em palavras. Pois essas palavras, esses conceitos universais, jamais comportariam a singularidade extrema dessa experiência.

Selena a vivia agora.

Pequenas de milhares de chamas se alastrando em seus nervos. Ameaçando consumi-la.

Quando ela finalmente retornou ao seu quarto, esperava estar em outro corpo, em outra vida. Mas ela era a mesma Selena, com a velha vontade de comer fritura após o sexo.

Ele continuava uma verdade não dita também.

Ele beijava o vale de seus seios. Ao perceber que Selena havia recuperado algum nível de consciência, ergueu os olhos para encará-la.

Não havia sentimento que ela pudesse nomear, apenas aquela curiosidade que havia detectado antes. E aquele outro contraste que fazia seus olhos parecerem suaves, enquanto seus lábios permaneciam inflexíveis, quase como se ele estivesse com raiva.

Ele ergueu-se nos cotovelos e aproximou-se do rosto dela, os narizes tocando-se com uma suavidade insustentável. Selena pensou que ele fosse beijá-la ou deixá-la. Mas ele simples permaneceu encarando-a.

E ela encarou de volta, com alguma coragem que encontrou nas profundezas de si.

Ainda sentia descargas elétricas percorrendo seu corpo quando ele desapareceu nas sombras da noite.

A SIDE: SELENA // Under Your Skin //Onde as histórias ganham vida. Descobre agora