DEZEMBRO, 26. 2014.

66 16 0
                                    

Todos os dias, todos os meses, as células do seu corpo morrem e são renovadas por novas. Às vezes, são apenas átomos que a compõem que são renovados, um por vez, ou mais. Alguém, algum dia, disse que, em sete anos, a maioria das células do seu corpo seriam novas. A questão filosófica permanece – você seria a mesma pessoa, sete anos depois, quando seu corpo já não fosse o mesmo? Como você pode se reconhecer como um ser transcendental ao corpo? Quando a pele em contato com o mundo, o limiar entre o "eu" e o "outro", morreu? A nova pele tem novas marcas, não familiares, que distorcem a percepção de si? No espelho, encontra-se algo novo na pele que não estava ali meses, anos antes? Uma marca de quem?

O pensamento de ter um corpo que jamais foi violentado, que jamais experimentou o terror, que jamais foi tocado por indesejados, malévolos monstros, deveria reconfortá-la. Contudo, isso jamais seria verdade. Toda vez que ela fechasse os olhos, as mãos tocariam sempre o corpo dela. O corpo dela que viveu o terror, não a nova camada de pele, suave, que ainda não conhecia tristeza.

A SIDE: SELENA // Under Your Skin //Onde as histórias ganham vida. Descobre agora