q u a r e n t a & s e i s

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Olho fixamente para ele, para os olhos azulados e vazios, e sou dominada por espasmos de tristeza.

- Você está mesmo aqui -Ele sussurra. Parece mais como uma afirmação para si mesmo do que uma pergunta para mim.

Respiro fundo.

Todas as minhas tentativas de falar com ele de maneira civilizada são deixadas de lado no instante em que sinto seu toque. Basta apenas aquilo -aquele pequeno ato de nossa pele se encontrando depois de tantos meses afastados- que sinto-me fervente.

Estou no centro de um furacão.
E não tenho mais medo.

- Eu vou dar um tempo pra vocês conversarem -anuncia Théo, nervoso, sumindo pelos corredores.

Eu tento me afastar de Antoine, mas ele me puxa ainda mais e recosta sua testa sobre a minha. Vislumbres de um passado recente tomam conta daquele espaço e invadem meus pensamentos fazendo o chiar de um fogo ilícito por minhas entranhas.
Incertezas de que eu havia o superado tornaram-se invisíveis como o vento quando o vi.

- E pensar que eu quase fui pra Mâcon por achar que tudo tinha acabado -Respira contra o meu cabelo. O peito subindo e descendo numa sinfonia alta como se lhe faltasse ar - E você voltou pra mim! Aqui! Nesses hospital!

É então que, criando coragem, balbucio:

- Eu não estou aqui por sua causa -afirmo, afastando-me de seu toque sutil.
Minhas costas se chocam contra a parede gélida.

Ele corre os dedos pelo cabelo dourado faíscante, com a postura um pouco mais séria pergunta:

- Se não está aqui por mim, está pelo quê, então? -suspira. - Me odeia tanto ao ponto de querer presenciar o meu fracasso?

Há algo emotivo em seu tom. Algo que me abala.

- Antoine... Não! Não é isso!

- Então -sussurra - me diga por quê está aqui! Pois se não me quer, me deixe ao menos te esquecer pois está sendo doloroso... Tudo isso...

Minha tentativa de não ficar assustada fracassa.

Eu queria abraça-lo, mas não podia.

- É... muito mais forte que possa imaginar.

Me recosto contra a parede fria e ele me cerca, apoiando a mão na parede, com o braço passando por cima de meu ombro esquerdo. Eu suspiro.

- Eu não consigo pensar em algo que possa ser maior que o amor que eu sinto por você, cherri.

Bato os cílios, contendo as lágrimas.

- Você vai me odiar... -balbucio.

- Eu jamais faria isso. Você é... Eu nunca a odiaria, amor. Sei que fui um imbecil na última vez que nós vimos mas eu... Te esperei. Sempre vou te amar.

Meu peito aperta.

Eu também. Sentia como se tivesse necessidade de dizer para ele que era recíproco. Porém, eu não ia fazer aquilo depois de tudo que sofri por sua causa.

- Eu só quero que você saiba que eu fiquei nervosa e assustada e... Droga! Eu devia ter sido sincera com você desde o início. Eu devia...

Paro.

Ele segura meu rosto e me fita com intensidade, esboçando um pequeno sorriso confortador. "Me conte, baby"

- Você e eu... Nós....

Durante toda a gravidez eu jurei a mim mesma de que seria o suficiente para Mia.
Achava que afirmando aquilo para mim, faria com que ela se contentasse com o mesmo quando crescesse. Sendo sua companheira fiel e dando-lhe amor, carinho e compreensão, quem sentiria a falta de um pai? Bem... Poderia ter dado certo em Valencia.
Uma cidade distante. Pessoas desconhecidas.

Mas com a gravidez veio o meu amadurecimento como mulher. Eu não podia fazer aquilo. Mesmo sendo grande o meu orgulho, maior era a gravidade do que eu estava a esconder de alguém que também possui direito legal sobre ela. Uma coisa era Antoine saber disso e renega-la, e outra era eu esconder. Eu não poderia me prestar ao papel de fazê-lo pagar pelo que fez comigo com a ausência de sua própria filha. A nossa filha.

Alguns meses antes, em Valencia, eu teria tido coragem de seguir com o meu plano de contentamento com Andreas. Mas, de todos os lugares do mundo, estar justamente em Madrid quando a bolsa rompeu me fez pensar em um destino óbvio. Eu tinha de contar a ele.

Durante a madrugada, quase não dormi. Receberia alta no dia seguinte e não consegui pensar em outra coisa além de esperar o primeiro horário de visitas para ir atrás de Théo e pedir que me levasse a Antoine.

Érika disse que ele pediu o divórcio e iria para Mâcon, sua cidade natal na França. Eu implorei toda a noite aos céus para que ainda tivesse tempo.

- Dites-moi, mon cher. s'il vous plait!

Ele sussurra contra os meus lábios, quase beijando-o. Sabendo que ele só vociferava frases em francês quando estava nervoso, deslizo minha mão até a sua e o puxo em direção ao elevador.
Ele não compreende a princípio, nem eu compreendo.

QUANDO O ELEVADOR ABRE NO TERCEIRO ANDAR, eu o puxo ultrapassando diversos visitantes com crachás estampados em seus peitos.

Ele está pressionando os seus dedos encalados contra os meus quando percebe que está sendo reconhecido pelos outros pais do lugar. As portas dos quartos ficam obrigatoriamente abertas, dando-nos visão de um mutirão de bebês recém-nascido.
"Pra onde estamos indo?" Ele sussurra próximo ao meu ouvido. Sua voz está baixa e eu percebo um pequeno tom choroso no fim dela talvez causado por ultrapassarmos um lugar onde é notório diversos pais segurando os seus bebês.

No fim do corredor, as vozes familiares são escutadas de longe. Quando chegamos na porta do quarto, eu paro e olho no fundo de seus olhos.

Temendo o momento a seguir, suspiro:

- Não me odeie por isso.

- Pelo quê?

Empurro a porta e o puxo para dentro. Sua postura fica enrigessida quando ele vê o meu ex namorado segurando Mia no colo. "Finalmente!" Théo retruca, nervoso, puxa o irmão mais velho num abraço não correspondido.

Antoine o empurra, assustado.

Pisca repetidas vezes antes de me encarar.

- Me perdoe!

- Eu estou entendendo agora! Foi... por isso que me deixou...? Você estava - A voz está por um fio. O rosto vermelho. - G-grávida dele?

Estapeio o próprio rosto.

"Puta que pariu" Andreas gargalha. "O cara é péssimo em matemática"

Théo o acompanha na crise de risos fazendo um sinal positivo sobre Antoine ser ruim na matéria. Por um minuto, quase esqueço de que toda minha vida depende daquele momento e sorrio.
Não consigo controlar as emoções quando estou nervosa. Antoine olha para mim e há tanta inocência em seu olhar que eu me sentia horrível.

Andreas balança o bebê que dorme serenamente em seu colo e continua.

- Mesmo que eu quisesse, não haveria qualquer probabilidade de eu ter um filho de cabelo louro.

Antoine encara o pedaço de gente nos braços de Andreas e parece meio... Desesperado.

Prende a respiração e me fita, atônito.

- Nove meses atrás, eu estava morando com você -fecho os olhos ao sussurrar, envergonhada. - Quando fui embora com meus pais, eu realmente não sabia o que estava acontecendo. Não até me dar conta do atraso. Não até aquele dia em que te deixei esperando no Old Trafford por desmaiar numa rua...

Ele pisa fundo até mim e segura os meus braços.

A pupila dilatada.

- Você quer dizer que ela é minha... Filha?

Inverte o seu olhar entre o bebê no colo de Andreas e em meus olhos encharcados de lágrimas.

- Sim, Antoine! É isso que estou tentando dizer!

STRIPPER [GRIEZMANN] ✨जहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें