34"Melissa"

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Depois que os rapazes saíram, ajudei Doris com a faxina da casa, isso acabou me distraindo do pressentimento que senti ao ver Ethan sair pela porta, eu não consegui tomar meu café de novo e agora meu estômago roncava alto querendo comida. Mas não dei atenção a isso até terminar de limpar minha parte da casa. Assim que acabei, meu corpo tremia levemente por ainda estar em jejum, então fui em direção a cozinha e cacei algo para comer. Mas nada me agradou, Doris entrou na cozinha com um cacho de bananas e o aroma chegou às minhas narinas fazendo minha boca salivar e meu estômago doer.

Fui até ela peguei quatro, Doris riu.

— Faz doce de banana para mim? — Pedi já sentindo o gosto em minha boca. Descasquei e mordi a fruta, gemi me deliciando. Banana nunca foi tão gostoso.

— Vamos deixar as bananas amadurecem mais, aí sim ela ficará melhor. — Doroti ajeitou a fruta numa prateleira e se virou para mim. — Pensei da gente ir até o riacho para refrescar os pés. Ver os patinhos deslizar pela água. Já tem um tempo que não vou até lá e com Richard e Ethan longe, podemos desfrutar deste momento... Quem sabe até tomar banho!

— Vamos sim! — Franzo a testa, no momento de fome, havia me esquecido por um momento sobre esta saída estranha. Eu queria tanto que Ethan entrasse por aquela porta que me sinto nervosa. Talvez a ida ao riacho seja algo bom para relaxar. — Não achou essa saída estranha, Doris?

— Não queria comentar, mas sim, achei. É a primeira vez que Ricard é chamado para ver algo que não faz parte do trabalho dele... — Ela deu de ombros, tirando o bolo do forno. — Quem sabe não tinha mais ninguém para ver o vinho do Rei para que não falte para beber com suas amantes! — Doris riu.

Assenti e guardei para mim a desconfiança, Richard sabe! Eu perguntei ao Ethan e disse que não estava preocupado. Preciso confiar que ele sabe o que está dizendo.

Na segunda banana eu já estava cheia, e ela não me parecia mais tão apetitosa. Guardei as que sobraram no armário em que Doris havia posto as outras e fui para fora. Sentei na escada de entrada do casarão e fiquei olhando para onde sei que a qualquer momento eles podem aparecer. Alguns tempo depois vi a carruagem e me aprumei. Enfim chegaram, entrei correndo para avisar Doris.

— Eles chegaram! Até que não demorou muito — Sorri.

— Vamos recebê-los. — Doris se colocou ao meu lado e seguimos para a porta.

A carruagem parou à nossa frente, Matias não desceu e nos olhou sisudo. 

— O patrão mandou dizer que voltará dentro de dois dias, precisarão ficar por lá. Eu vim para cuidar das Senhoras.

— Obrigado, Matias! Mas aconteceu alguma coisa? — Doris segurou firme no meu braço. — Ouvi comentar sobre a peste no porto!

— Eu não sei, Sinhá, o patrão desceu e me mandou voltar para cuidar da casa.

— Está bem! — Doris olhou para mim dando de ombros. — Ao menos temos Matias para a nossa segurança!

— Sim, temos! — Minha voz saiu trêmula, minhas pernas estão um pouco bambas, a ansiedade toma conta de mim e minha vontade é me trancar no quarto e só sair quando Ethan voltar para os meus braços. Nem percebi que estava chorando. Mas consegui limpar as lágrimas antes de Doris ver. — Já que não temos compromisso, vamos para o lago relaxar? — Dei-lhe um sorriso fraco.

— Vamos! — Doris subiu a escada e me respondeu já na metade dela. — Pegar algumas toalhas para nós.

Assenti distraída e esperei que voltasse. Caminhamos para o riacho de braços dados, e Doris falava sem parar, um monte de coisas que havia ouvido nas conversas com as senhoras da cidade, nada disso me prendeu. Eu me sentia triste e estranha. Chegamos ao lago, sentamos, tiramos os sapatos e como Doris havia sugerido molhamos os pés nele. Sorri com a sensação da água gelada em minha pele. Lembrei de Ethan e de como fizemos amor a primeira vez, em frente ao lago do outro lado da fazenda, embaixo da árvore e com os pássaros homenageando nosso amor. Dei suspiro pesado e Doris me olhou.

— O que foi? parece chateada? — Doris se deitou.

— Não é nada! — Pego uma pedra e lanço no lago com um suspiro, queria poder confiar em Doris, acabo deitando também e encarando o céu azul.

— Melissa... — Nos olhamos. — Me conte a verdade, seja franca comigo, meu anjo!... O Dr. Ross e você... São mais que amigos?

Não aguentei e desmoronei, comecei a chorar e Doris me abraçou.

— Me desculpe, Doris, mas eu o amo! — Solucei em seus braços. — Nosso amor é tão lindo. Eu não posso me casar com outro homem, Doris... — Não conseguia mais falar e ela me apertou forte. Se o Richard não sabe, agora estou muito encrencada.

— Ah, minha irmã... O que será de você! — Ela acariciou meus cabelos. - Desde quando isso vem acontecendo?

Funguei e olhei em seus olhos.

— Pouco mais de um mês! — Coloco minhas mãos no rosto. — Por favor, Doris, não conte ao Richard! — Imploro e Doris franze cenho.

— Mel! preciso saber o que vai acontecer daqui para frente? — Ela se levantou preocupada. — Richard não vai deixar isso barato. O Sr. Seward já pagou o dote, não tem volta, ao menos... — Ela me olhou. — Vocês vão fugir, não é? — Ela se abaixou a minha frente. — É isso?

— Doris, quanto menos você souber é melhor! — digo desesperada.

— Como melhor, Melissa! — Ela se mostrou chocada. — Como posso ajudar, porque acho que esse amor foi mais além de... De beijos!

— Oh Céus! — Exclamo nervosa. — Sim, Doris eu me entreguei a ele, sou sua mulher, e ninguém vai me tirar isso, ninguém! Se alguém se atrever, eu juro que nunca mais vai me ver. — Disse em um tom rebelde, porém comedido, não é minha intenção agredir Doris, ela não quer meu mal.

Doris caiu de bunda no cão chocada, com as duas mãos na boca.

Você pode estar grávida. — Ela disse baixo ainda em choque. — Eu... Acho que devemos esperar os dois voltarem e assim que Ethan voltar, quero vocês dois o mais rápido possível fora de casa. Não estou mandando você embora, Melissa! Mas se esperar até o dia do casamento para resolver a situação... Já digo que não vai dar certo! Vai haver morte e temo que não seja Dorian. — Doris ficou me olhando, estava passada.

— Vo-você, está me dando sua benção, Doris? — pergunto emocionada e pego suas mãos. — Não se preocupe, não estou grávida!

— Estou... Se tem algo que eu possa fazer e retribuir o que Ethan fez por mim, eu farei. — Ela segurou minha mão forte. — Eu tinha um amor antes de conhecer Richard... A gente se encontrava todos os dias atrás do velho moinho de casa. — Doris sorriu tímida. — Então ele se casou obrigado com a Valéria, minha amiga, lembra-se dela? Eu deveria ter fugido com ele quando tive oportunidade, mas fiquei com medo de deixar papai e mamãe tristes, desonrados, hoje vejo que deveria ter feito aquilo que meu coração mandava, acho que estaria muito mais feliz. — Ela me deu um beijo. — Faça o que seu coração mandar, e eu ajudarei no que precisar.

— Venha comigo, Doris? — A olhei esperançosa. — Vamos em busca do seu amor, não quero te deixar aqui com aquele homem, eu não acredito que ele vai cuidar bem de você! — Choro e a abraço forte, esperando que ela diga sim ao meu pedido.

— Obrigada minha pequena, mas meu lugar é aqui. Richard precisa de alguém que cuide dele e eu aprendi a amá-lo.— Ela me soltou e deu de ombros.— Vamos voltar para casa, arrumar uma malinha de viagem para que assim que Ethan chegar, vocês possam partir.

Deixei meus ombros caírem derrotada, Doris não viria comigo, e só espero de todo meu coração que ela não se arrependa.

INOCENTE TRAIÇÃOWhere stories live. Discover now