9 "Ethan"

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Aquela noite eu praticamente caí na cama e apaguei, estava exausto, cansado o suficiente para não ver nada.

Na manhã seguinte se seguiu a rotina, eu e Richard depois de tomar o café da manhã seguimos para o plenário, enquanto ele discursava, eu anotava algumas coisas curiosas. Na minha mente não saia o rosto angelical de Melissa, eu queria conhecê-la melhor e saber quem iria desposar aquela linda jovem.

Ao retornar para casa, não foi diferente como no primeiro dia. Percebi que Richard não mudara nada, continuava um homem sem expressão do que estava sentindo. Doroti parecia ser uma mulher encantadora, amável e cuidava muito bem dele e da casa.

Melissa tinha no rosto a tristeza, mas olhos expressivos de quem queria ganhar o mundo.

Finalmente chegou o fim de semana, a casa ficou cheia de gente, aristocratas com suas Damas fúteis para um Branch.

Melissa estava sentada em um banco de jardim, era a única que não segurava uma taça de bebida.

Me aproximei tomando cuidado para não ser visto.

— Sta. Dukan? — Parei a sua frente. — Porque não se junta a outras damas para conversar e se inteirar dos assuntos femininos? — Apontei para as senhoras rindo sem parar reunidas num canto com Doroti.

— Oh! não, prefiro ficar aqui! — Seu olhar era desgostoso na direção das senhoras.

— São como gralhas, loucas para chamar a atenção. — Suspirei. — Gostaria de caminhar um pouco? — Estendi a mão para ela. Melissa encarou minha mão. Então negou determinada e parecendo temerosa.

— Não, obrigada! — Percebi que mexia a perna por debaixo do vestido, devo estar deixando-a nervosa.

Sorri achando graça daquele nervosismo.

— Não é elegante uma dama recusar apenas um passeio pelo jardim, não irei lava-la para longe. É até ali. — Apontei para o lago.— nada mais que até ali. — Estendi novamente a mão. Ela ficou um pouco vermelha.

— E- eu... — Seu olhar ficou perdido fazendo uma careta, levantou-se parecendo incomodada e um pouco brava, não aceitou minha mão e se colocou a andar, fiquei confuso, confesso.

— Vejo que não faço o papel de um bom amigo! — Nos olhamos enquanto caminhávamos. Seu olhar sobre mim se acende mas ela não demonstra simpatia. — Gostaria de saber mais sobre a Senhorita, estou curioso de conhecer tal Dama que assola meus sonhos... — disse em modo natural. — Espero não ter ofendido.— Sorri amável querendo arrancar um sorriso dela.

— Não sou boa amizade para ninguém, Dr. Ross! — diz séria e determinada, por segundo pensei que fosse bater os pés. — Não há nada de interessante em mim, por sinal, eu tenho inveja dos homens, aposto que ninguém usa de artimanhas da sociedade para lhe forçar uma caminhada. — Seu tom de voz é desafiador, a danadinha me surpreendeu empinando o nariz e cruzando os braços sob seus fartos seios, os deixando mais atraentes em minha direção. — E sim, o senhor me ofendeu de todas as maneiras possíveis, não me conhece e usou de um truque covarde! — Seu rosto agora estava tomado de uma tonalidade vermelha, seus olhos estão esbugalhados e suas mãos vão a boca.

Sorri lentamente até começar a gargalhar.

— Você é muito engraçada Sta. Dukan! gosto desse seu jeito marrento.

Voltei a caminhar ainda rindo.

— Adoraria ter uma dama ao meu lado que gostasse de desbravar lugares desconhecidos, aproveitar os prazeres que terras longínquas nos dá... — Parei e me virei para ela, seu olhar agora era mais brando, notei que gosta quando falava sobre minhas aventuras. — Está apaixonada pelo seu noivo? — Seu olhar se torna duro novamente.

— O senhor faz muitas perguntas! — Melissa não foi rude e sim direta.

Coisa que é difícil senhoritas fazerem, já percebi que não será fácil lidar com esta menina e isso me deixou mais determinado.

— Estou apaixonado, Melissa!... Entraria num duelo se precisasse. — Me afastei olhando o belo lugar que estávamos, voltei a olhá-la. — Permita-me recitar um poema?

Melissa soltou um suspiro e um sorriso quase imperceptível cruzou seus lábios. Não disse nada, mas me autorizou com um aceno positivo com a cabeça.

"Eu sou mas o que sou ninguém se importa ou conhece,

Meus amigos desistiram de mim, como uma memória perdida.

Sou o consumidor das minhas próprias mágoas.

Elas ascendem e desaparecem em chão estéril,

como sombras em dores delirantes de um amor sufocado.

E ainda assim eu sou, eu vivo – como vapores tremulantes.

Em meio a uma nada ruidoso e escarnescente,

Em meio a um vivo mar de sonhos vigilantes,

Onde não há sentido de vida ou alegrias,

Só o vasto naufrágio das minhas aporias,

E a mais desejada, a que eu amei mais,

É-me estranha – ou pior, mais estranha que as mais.

Anseio por cenas onde o homem nunca trilhou.

Um lugar onde as mulheres nunca sorriram ou choraram.

Há a cumprir com o meu Criador, Deus.

E dormir como eu dormia docemente na infância.

Tranquilo e despreocupado onde repouso.

A grama abaixo – por cima o céu abobadado."

"Eu sou - John Clare"

Melissa se provou sensível as belas palavras quando tocou o coração, enquanto eu recitava os versos.

— Foi lindo, Dr. Ross! — Sua voz agora é doce, apesar de permanecer séria, nenhum sorriso despontou de seu belo rosto.

— Sou um apaixonado por poemas ingleses, os britânicos tem uma sensibilidade nata, não acha, Sta. Dukan? — Sorri, estava feliz por ter tirado dela um sorriso emocionado.— Quero conhecer melhor você, Melissa! permita-me essa dádiva.

— Não é certo, Dr. Ross! — diz séria e incomodada, suas mãos se mexem nervosamente e ela olhou para todos os lados, menos para mim.

— Porque não? — Dei um passo em sua direção. - Ama seu noivo, Sta. Dukan? se sim, paro imediatamente. Me transformo em um estranho para a senhorita... Se quiser, vou embora desta casa, mas não me rejeite se não o ama, se não é o que quer.

— O senhor não entenderia...— Sua voz tremeu se afastando com um passo para trás.— Esse casamento é... — Ela travou por um momento perdida em pensamentos — é a última palavra de meu pai, eu...— Ela apertou os lábios com tanta força que eles ficam marcados. — Com licença, Dr. Ross! — Ela tentou sair em direção ao casarão, mas estou bem à sua frente e para ela ir, eu tenho que dar passagem.

— Tudo bem... Não irei insistir. — Dei um passo ao lado, deixando que se vá, não iria insistir para não sufocá-la.

INOCENTE TRAIÇÃOWhere stories live. Discover now