17"Ethan"

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Sentia a presença forte de Melissa e isso me trazia um grande conforto, saber que ela estava tão próxima me deixava com a sensação de que estava protegido e amado.

Os dias que se seguiram foi de recuperação, mesmo minha cabeça doendo muito e sentindo muita tontura, Doroti e Melissa cuidaram de mim com muito carinho.

Melissa no começo se sentia muito tímida e deslocada quando pedia para ela ler Dom Quixote para mim, a minha vista do lado direito onde levei a pancada, ainda estava embaçando, não conseguia ler e ao forçar a leitura, a dor de cabeça vinha com força.

Richard apenas ficava na porta, olhando Melissa ler para mim enquanto me convalescia na cama.

Depois de duas semanas na cama, finalmente consegui me sentar e não me sentir tão cansado como antes, Melissa entrou no quarto repreendendo-me pela minha ousadia.

— Estou... — A olhei ajeitando os meus cabelos. — Eu preciso andar, meu corpo parece que tem alfinetes entrando. — Puxei o ar com força, e ela me ofereceu ajuda, segurei em seus ombros e me levantei. — Pode pegar uma camisa para mim? E não olhe para baixo, estou apenas de ceroulas! — Ri desconcertado, me sentindo mal por ela me ver em trajes tão simples.

— Não pensei em olhar, Dr. Ross!— Seu semblante se torna vermelho, ela trás a camisa e me ajuda a colocar.

— Obrigado. — Vesti com calma a camisa e ela me ajudou a abotoar. — Faça um pedido e eu atenderei.

— Não preciso de nada, mas estou feliz por estar se recuperando bem! — Ela me presenteou com o sorriso mais aberto que já vi em seu rosto.

—Tem algo que deseja, não é um vestido, não é uma jóia, mas é algo que tenha vontade de fazer, Melissa... Vamos, eu quero realizar um desejo seu... — Segurei seu rosto e a fiz olhar para mim. — Você não é uma mulher como as outras, você ama as aventuras de Dom Quixote, você ama os lugares em que ele está passando, as cavalgadas... Deseja cavalgar?

— Já cavalguei antes — diz com um sorriso travesso, então fica séria — mas não parece ser tão divertido com um vestido atrapalhando, não gosto de fazê-lo de lado, gostaria da liberdade de cavalgar com as pernas abertas e sentir o vento no rosto. — Melissa respira frustrada e seus olhos é puro fogo e sede de aventura. — Sei que parece tolo, mas... Eu amo isso, a liberdade, mas é uma coisa que mesmo que prometa ou tente fazer por mim, jamais será visto com bons olhos, então não, Dr. Ross, não há que possa fazer por mim.— Seus olhos marejados acabam comigo.

Não resisti, da forma que segurava o seu rosto a puxei depositando um beijo calmo em sua boca.

— Fuja comigo... ou eu disputo você num duelo. — Olhei em seus olhos. —Fuja comigo e viverá todas as glórias e montar da forma que quiser, será vista, será a primeira mulher a cavalgar com sela normal, usando calças, cabelos presos para não embaraçar. Mas venha comigo, case-se comigo.

— Não faça isso, Ethan! Não pode me oferecer o mundo e achar que vou abandonar minha irmã, ela é a única família que tenho, e meu sobrinho? Eu quero conhecê-lo, não posso ter tudo, eu cresci sabendo e a família é importante para mim. — Ela acaricia meu rosto e vejo em seus olhos a luta que trava com si mesma.

— Melissa... Doroti, vai continuar sendo sua irmã e não vai mudar nada... Pare de lutar, eu abri meu coração, eu lhe dei ele de livre e espontânea vontade. — peguei sua mão e a fiz tocar o meu peito. — Sinta o quanto ele bate por você, ele é seu e a família que você terá é a nossa... Eu tenho propriedades, tenho como te dar uma vida abastada, levarei para conhecer as pirâmides do egito, as montanhas da transilvânia, Levarei você para andar em elefantes, comer frutas que jamais imaginou saborear. — Sorri de lado. — Não me faça disputar você em um duelo, eu não sei atirar muito bem!

— Richard jamais permitiria que a última palavra de meu pai fosse quebrada, eu não quero que dispute em um duelo, quero que desista de mim, eu não mereço que faça isso, Ethan! — Ela limpa uma lágrima — fugir seria a única maneira de ficarmos juntos, e desta maneira eu perderia minha família.

— Porque é tão covarde? — A soltei lentamente. — Como pode desistir de ser feliz e a se entregar a um homem que vem aqui e só sabe falar de política e concordar com seu cunhado que deve ser uma esposa exemplar se você é muito mais que isso!

— Não me chame de covarde, não sabe nada pelo que já passei e superei! — Um soluço sofrido escapa de seus lábios e ela vai em direção a porta. — Não importa o quanto pense que sou covarde, mas abrir mão de você, será a coisa mais difícil que já fiz.

— Melissa... — Chamei, mas ela me deixou só, falando com meus fantasmas.

Me sentei na cama, puxei uma calça que estava na beirada da cama, a vesti com calma pensando no que poderia fazer por ela, pelo menos um último desejo antes de se casar, viver uma vida que a fará infeliz, podando sua inteligência e força de vontade de viver coisas novas. Não, Melissa seria feliz, convenceria de que podia se libertar do convencionalismo em que todos insistiam em colocá-la.

Desci a escada com calma, me segurando no corrimão para não rolar, ainda sentia a cabeça doer a cada passada que dava.

O sol que entrava pela porta da casa deixava minhas vista doendo, mas estava na hora de me acostumar com o dia, com a noite e com a solidão dos dias.

INOCENTE TRAIÇÃOWhere stories live. Discover now