27"Melissa"

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Doroti chorava e pedia o bebê de volta, mas eu não podia dá-lo a ela. Ele não respirava, ele fedia já entrando em um estado de decomposição.

Comecei a niná-lo, sem forças ou palavras que pudesse dizer neste momento de dor. A cada hora que passou e Richard não apareceu, mais a raiva me corroía. Ele não se importou com ela.

Ele a abandonou e não foi apenas hoje.

Chorei querendo limpar as lágrima de minha irmã, mas eu estava com o feto em meus braços, Ethan voltou depois de se livrar da placenta estragada e nos olhava com a mesma dor nos olhos que minha alma deve refletir.

— Eu não sei o que fazer, Ethan!? — Ele me olha desolado. Doroti grita rouca, mas já começando a perder as forças.

— Me dê ele? — Ethan esticou os braços, relutante lhe entreguei.

Ele se aproximou da cama, se sentou ao seu lado.

— Doroti, ele é pequenininho demais e infelizmente não sobreviveu, se despeça do seu filho... Tenha força para passar por essa dor.

Doroti concordou em prantos, Ethan deu a ela o menino enrolado no pano, ela descobriu o rostinho dele, baixinho ela cantarolou para niná-lo, Richard apareceu ao seu lado, subiu na cama, visivelmente transtornado pela dor.

Ethan veio para o meu lado e me puxou para fora do quarto.

— Deixe os dois com as dores deles. Não podemos interferir.— Ethan fechou a porta e me abraçou apertado e então ele desabou num choro, tremia o homem.

— Ele é tão pequeno! — Ethan concorda, e nos abraçamos apertado.— Não quero passar por isso, Ethan! Eu não suportaria. Como posso deixar Doris assim. E se ela não superar, e se Richard continuar sendo relapso e distante? — Choro desesperada e Ethan me aperta mais forte em seus braços, como se estivesse evitando que eu fugisse por entre seus dedos.

— Nunca vou deixar que passe por algo assim, eu vou te dar muito amor, vou cuidar de você como minha preciosidade. —- Ele me beijou sem se preocupar se seríamos vistos. — Não podemos voltar atrás da nossa decisão, ou eu terei que matar Dorian, só assim para ficarmos juntos, Richard não vai voltar sua decisão mesmo salvando a esposa dele, não vai. — Ethan pegou no meu rosto. — Richard tem uma concepção distorcida sobre o amor.

— Eu o odeio tanto! — Solucei e tremi nervosa, minhas mãos mexiam sem minha permissão. — É tudo culpa dele, Ethan, se tivesse cuidado dela... — Eu queria sentar e chorar, então me afastei de Ethan e sentei no chão mesmo, como uma criança que perdeu o brinquedo preferido. — Quase perdi a última família que me restou e jamais vou perdoá-lo por isso.

— Melissa! Sua irmã dentro de alguns meses pode vir a engravidar novamente, isso que aconteceu talvez nem seja culpa de Richard. — Ele acariciou meus cabelos. — Anda, levante-se e vá tomar um banho, foi um dia difícil, vou esperar o médico lá embaixo. Descanse e mais tarde vamos conversar sobre o que aconteceu, mas não odeie Richard, ele só é um homem problemático.

Encaro-o com os olhos em chamas.

— Eu vou esperar o médico, Ethan! Eu não vou descansar enquanto minha irmã precisa de mim! — Soluço forte e o olhar de Ethan sobre mim é preocupado, como se eu estivesse desmoronando. E talvez, esteja mesmo.

— Tudo bem... Então vamos descer, assim você recolhe o que tem do bebê e esconde, não vamos deixar lembranças pela casa.

Concordo e Ethan me ajuda a levantar, minhas pernas tremem um pouco, acho que isso mexeu demais comigo. Mas preciso e vou ser forte por Doris. Recolhemos tudo que tricotamos nas últimas semanas e eu mesma, não conseguia conter as lágrimas, fizemos tudo com tanto amor e dedicação. Peguei tudo que havia do bebê e levei para o meu quarto, Ethan me seguia no que podia, mas quando subi ele ficou na sala para caso o médico chegasse, o choro me deixou com dor de cabeça, e as lembranças que estava guardando de minha irmã me causava uma dor inexplicável, não quero nem imaginar a dor que ela está sentindo, se esta acabando comigo, com ela deve ser muito pior.

Desci e encontrei, Ethan andando de um lado para o outro.

— O médico não chegou? — Perguntei sentando no sofá, minhas pernas ainda tremem levemente. Ao contrário do Ethan, não quero ficar andando, me sinto estática.

— Sim... Está vendo a paciente e não gostou muito do que fizemos. — Ethan sorriu achando graça.

— Ele não sabe o que nós vimos! — Penso que o importante foi ter salvado Doris. —Obrigada, Ethan. Se não tivesse assumido e tomado as providências... Ela estaria morta!

— Sim... não precisa me agradecer. — ele se aproximou de mim, se abaixou a minha frente. — Eu aprendi muito nessas minhas caminhadas, vi coisas que qualquer mortal duvidaria.

Aliso seu rosto, olho em seus olhos verdes esmeralda e passo minha mão por sua barba rala e loira.

—Eu não dúvido, para mim, você é incrível. Tenho muito que agradecer a Deus por estar aqui comigo! Eu sou uma rebelde nata, Ethan, se você não viesse aqui e me resgatasse. — Sorri triste. — Com certeza estaria morta antes mesmo do primeiro ano do meu casamento.

— Você já está casada comigo, então está viva e não vou deixar que morra, nunca. — Ele me deu um beijo rápido e se levantou.

Senti falta dele na hora que se levantou e se manteve distante, esperamos que o médico viesse nos dar alguma notícia, mas ele demorou tanto, quando finalmente saiu. Me levantei rápido, querendo saber como estava Doris.

— Como ela está? — O médico mal me deu atenção e se dirigiu a Ethan, como se fosse invisível. Cruzei os braços com raiva.

— Meus parabéns, meu rapaz, você salvou a Sra. Gatman... Eu não sei como conseguiu, mas seria um ótimo médico se quisesse seguir a carreira. — O homem apertou a mão de Ethan.

— Eu deixei a carreira médica, Dr. Owen.

Os dois ficaram se olhando por um bom tempo.

—- Deveria repensar nisso. — O médico se afastou. — Boa noite!

Ele foi embora, e não me dei ao trabalho de responder seu boa noite e ser ignorada, ao invés disso preferi matar minha curiosidade.

— Achei que fosse advogado!? — Levantei as sobrancelhas me sentindo um pouco enganada. Ele se apresentou como advogado, agora me vem com essa? Não que eu esteja brava por isso. Estou brava por não saber quase nada dele. Isso me incomoda.

— Eu sou advogado. — Ethan me encarou com um leve sorriso no rosto.— Abandonei o estudo na área médica, porque não consegui salvar... — Ele se deteve. — Não importa... Eu não sou médico, não me formei nesta área.

Entendi na hora o que quis dizer, queria abraçá-lo, mas já abusamos Muito da sorte hoje.

— Desculpe, não queria te fazer lembrar de algo tão doloroso -— franzi a testa culpada. — Acho que não vai dá para ver a Doris hoje, estou mais tranquila por saber que está fora de perigo. — Mudo de assunto — Quer comer algo ou prefere ir descansar? — Minha voz é uma carícia e gostaria que Ethan sentisse o amor que demonstro.

—Eu quero você... — Ele disse baixo.

E escutamos passos na escada, Richard trazia seu bebê enrolado no pano, atravessou a sala com eles nos braços e seguimos o meu cunhado.

No pequeno armazém pegamos uma caixa, colocamos o pequeno dentro, eu cuidei para que ficasse bem enroladinho no tecido, cada um depositou algo estimado e enterramos ele longe da casa, próximo ao túmulo dos pais de Richard.

Voltamos para casa, fechamos tudo e esperamos Richard se fechar com a esposa no quarto, olhei para Ethan e não tivemos como resistir, não era para sexo e sim para não nos sentirmos sozinhos, abalados, iremos unir forças para nos aquecer e sofrer juntos a tristeza que se assolou naquela casa.

INOCENTE TRAIÇÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora