33"Ethan"

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Acordei com o amanhecer invadindo a janela, me levantei devagar e fui até a janela, o orvalho ainda corria lento no gramado do jardim, me recostei nela e olhei Melissa dormir. Ela era um anjo com seus cabelos dourados, uma menina/mulher, graciosa e inteligente.

Já conseguia vê-la nos campos da África observando os leões e tigres, a savana no seu calor escaldante, cabelos ao vento enquanto sorri feliz pela aventura vivida.

Me aproximei cheio de desejo, queria sair daquele quarto levando seu cheiro comigo, tirei a coberta de seu quadril, roçando os dedos em seus pés, sorri feliz ao despertar e fizemos amor, lento e gostoso, mas não bastava, precisava mais uma vez dela.

Deixei o quarto assim que me vesti, nas pontas dos pés atravessei o corredor, destranquei minha porta com cuidado e entrei.

Tirei a roupa, molhei a toalha com a água para banhar o rosto e mãos, passei no meu corpo arfando, estava fria e meu corpo em brasa pelo amor vivido.

Sorri feliz por lembrar que estávamos bem próximos de ir embora daquela casa.

Peguei uma roupa limpa, me vesti e me sentei na cama para pensar como faria para pegar o mapa com Richard em casa.

Escutei batidas na porta e Richard entrou, nos olhamos.

— Bom dia, primo... Algum problema?

— Tenho que ir a Londres, gostaria que viesse comigo.

— Hoje? — Estranhei, normalmente Richard só vai a Londres em último caso.

— Um carregamento de vinho do palácio vai chegar, querem que eu inspecione o carregamento e de uma olhada nos marinheiros, estão achando que estão doente, último navio que chegou está em quarentena.

— Claro... Vou pôr os sapatos e já desço.

Richard deu as costas e saiu largando a porta aberta, respirei fundo, hoje não teria como ver o mapa e nem passar a tarde enroscado no braços de Melissa.

Calcei os sapatos, peguei um paletó e o casaco, meu relógio de bolso, dinheiro.

Abri a porta e segui pelo corredor, Doroti estava saindo do seu quarto, sorriu, estava mais corada e isso era um bom sinal.

— Bom dia, Doroti.

— Bom dia, Dr Ross!

Dei o braço para ela e descemos. Saber que estava bem e se recuperando era uma alegria para mim, não gostaria de tirar Melissa de perto dela sem estar recuperada, então teríamos que partir para um duelo, coisa que não estava torcendo para acontecer, mas se fosse preciso, seria inevitável, mas Melissa não se casaria com Dorian.

Na mesa do café Richard olhou para nós dois, depois encarou Doroti.

— Eu e Ethan vamos até Londres resolver um assunto urgente, voltamos a noite... Você quer algo da cidade?

— Achei que ficaria em casa? — Doroti estava surpresa.

— Recebi um pedido do Rei... Não posso dizer não.

— Certo.

Olhei para Melissa, esbocei um sorriso quase imperceptível de quem pedia para ter calma, logo estaria de volta.

— Eu não quero nada, meu marido! Obrigada.— Doroti sorriu tristonha.

— A Sta. Dukan deseja algo da cidade? — perguntei levando a xícara à boca.

— Não, obrigada! — Ela sorriu educada, percebi que não tocou o café e que fazia uma careta desgostosa, está odiando minha saída certamente.

— Precisamos ir... — Richard se levantou.

Eu fiquei olhando para ele, agora uma dúvida passou rapidamente por minha cabeça, aquela urgência não estava me cheirando bem.

Olhei rapidamente para Melissa, virei meu café na boca e me levantei.

— Senhoras! tenham um bom dia. — Sopro amável.

— Bom dia! — Doroti se pôs de pé. — Acompanho vocês até a porta.

— Bom dia! — Mel soltou com um suspiro e a testa vincada de preocupação.

Ao sair estranhei que iríamos de charrete e não em nossos cavalos, Matias nunca foi um homem de olhar para nós, mas aquele dia ele me deu uma olhada, depois voltou para sua posição.

Richard deu um beijo no rosto de Doroti, e desejei poder fazer o mesmo com Melissa, mas não podia, apenas mandei meu beijo pelo olhar, entramos na charrete e seguimos viagem em silêncio.

— Richard... — O encarei. — Tem algo de errado?

—Tem. — E ele se calou novamente.

— Pode me dizer?

Richard me olhou por um tempo.

— O Rei não pode esperar pela liberação de seu vinho.

Pisquei várias vezes achando que tinha algo muito maior por detrás daquela urgência, resolvi não insistir seja o que for, Richard não me afastaria de Melissa.

Chegamos em Londres por volta das 14 horas, parece que Matias estava sem vontade de conduzir aquela charrete e aquele silêncio estava me deixando nervoso e preocupado, na minha cabeça já fazia várias perguntas e tentava imaginar se ele nos viu juntos ou se o pedido que fiz ele no dia anterior o deixou cismado.

A preocupação passou momentaneamente quando chegamos ao porto e inspecionamos os barris de vinho que estavam sendo descarregados. Alguns marinheiros realmente estavam tossindo, nada preocupante.

Achei que iríamos embora, mas fui impedido de descer do navio por 5 homens fortes que bloquearam a minha travessia para terra firme, olhei para todos sem entender o que estava acontecendo, dei um passo para trás e Richard me segurou. Me virei para olha-lo.

— O que está acontecendo?

— Este navio vai te levar para os Estados Unidos.

— Está me mandando embora?

— Estou! Não tem mais o porquê de estar em minha casa, seus estudos já estão completos e agora é só seguir sua vida.

— Richard, você não pode estar falando sério. — O encarei, Richard como sempre sem expressão no rosto, mas vi um leve sorriso de satisfação em ver meu sofrimento. — Isso tem haver com o pedido que fiz a você?

Richard deu um passo à frente, olhou nos meus olhos.

— Eu vi você saindo do quarto de Melissa hoje de manhã, não parecia ser uma visita de amigos, e sim de amantes...

— Você está sonhando! — Ri sentindo meu coração disparar, ele continuou me olhando, agora com reprimenda. — Sim! Melissa e eu dormimos juntos e ela é minha, quer queira ou não... Quero reparar o erro e me casar com ela.

— Você desonrou a minha casa, a minha palavra e como se não bastasse quer manchar o meu nome.

— Richard! isso não tem nada a ver com você, ela é a sua cunhada e não sua filha.

— Dei a minha palavra ao pai de Dorian ao meu sogro e vou cumprir.

Richard estalou os dedos, os homens todos se juntaram, tentando me segurar, lutei com todas as minhas forças, vi Richard descer do navio, me algemaram e me amarraram ao mastro do navio, implorei para Richard me deixasse voltar com ele.

A ponte foi retirada da embarcação e lentamente e aos berros saímos do porto, deixando Melissa para trás, minha doce Mel iria sofrer a minha ausência e iria sofrer mais ainda um casamento com quem ela não ama, nunca será livre mesmo estando casada. Amarrado e sem voz para gritar, chorei como uma criança, vendo as imagens que fiz dela conquistando lugares e conhecendo tradições se esvair da minha mente.

INOCENTE TRAIÇÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora