Capítulo 17

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Organizar minhas coisas não demorou muito. A maioria das minhas roupas se perdeu no naufrágio, restando apenas o shortinho de jeans desfiado que eu vestia naquele momento. Byron falou que roupas não seriam importantes em Egarikena, mas bem que eu gostaria de algumas calças, ou pelo menos um par de tênis, sei lá. Em menos de cinco minutos eu já havia esvaziado a mala no armário e encostado meu violão à parede.

Pelo menos o quarto era bonito, ainda mais com aquela varanda cheia de flores. A cama de casal me trazia alguma esperança de que surgisse um clima interessante.

O berço, por outro lado, dissolvia minhas fantasias tórridas.

"Vai mesmo confiar em mim para cuidar dos bebês?" Provoquei Byron, que me assistia da porta do quarto.

"Apenas do Ronan. Precisamos manter uma fachada até meus pais decidirem o que fazer."

"Cara, seus pais? Tá me tirando? No que seus pais mandam, mesmo?" Perguntei.

"Ahm... eles são os reis da ilha e de todo o povo do mar?" Byron arqueou uma sobrancelha. "É necessário agir aos poucos. Eles vão enlouquecer quando te descobrirem, mas um humano em Egarikena é a menor surpresa. E meu pai Arian já deve saber, de qualquer forma."

"Arian, o pai que engravida? Quando contou a ele sobre mim?"

"Não preciso contar. Ele é um oráculo, pode ver tudo o que acontece no oceano e prever o futuro."

Eu comecei a rir de nervosismo.

"É zoeira, né, Byron? Me fala que não tô na uma ilha de um tritão-rei-deus-onipresente que quer me matar."

"Não, pai Arian é tranquilo, às vezes. Quem vai querer te matar é o meu outro pai."

"Ele também é um semideus dos tritões?"

"Não, não. É apenas o general do nosso exército. Ele treina as tropas, coisa assim."

"Ah, tô muito mais calmo!" Eu joguei os braços pro alto, dando voltas pelo quarto em histeria total. "Byron, nós viajamos por um mês, não acha que poderia ter me preparado mais cedo?"

"Eu poderia, mas..." Byron baixou a cabeça, com os ombros murchos. "Mas talvez você quisesse ir embora."

A tristeza do Byron esfriou meu ânimo. Cara, eu já esperava uma aventura louca, era o motivo de eu estar ali. Se Byron pediu minha companhia, era porque confiava em sua capacidade de me proteger. E eu também precisava confiar nele. Aliás, eu já confiava nele desde o instante em que o conheci, não é mesmo?

Eu verifiquei o bercinho do Ronan, que dormia tranquilo após esvaziar a mamadeira. Aquela fofurinha valia o meu esforço e com certeza Byron também.

"Cara, eu sou um metaleiro. Precisa mais que uns gritos e cara feia pra me assustar. Me ajuda sobre como impressionar seus pais, vou mostrar que cuido bem do filhotão deles."

"Claro!" Byron vibrou, estranhamente empolgado. "Vou preparar um café enquanto planejamos sua apresentação. Prefere com adoçante?"

"Açúcar." Respondi, descendo as escadas logo atrás dele. Então ouvi batidas na porta. "Está esperando alguém?"

"Ah, os vizinhos devem ter sentido meu cheiro." Byron revirou os olhos. "Acostume-se com isso, a vizinhança é bastante intrometida."

"Nada muito diferente da sociedade humana." Brinquei, seguindo adiante para a cozinha. Talvez eu devesse me esconder, mas a curiosidade falou alto então fiquei espiando pelo cantinho.

Byron abriu a porta de entrada e recebeu dois homens. Um era gigante e musculoso como ele, com os mesmos ombros largos e olhos verdes, mas já tinha ruguinhas e alguns cabelos brancos. Ele vestia apenas uma calça de couro vermelha e gasta, e encarava Byron com uma expressão severa.

Romance ao Som de Violão (AMOSTRA)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora