Capítulo 05

1.2K 135 24
                                    

O hospital de Waikiki fazia voltar lembranças horríveis, mas eu subi pelo elevador até os quartos sem hesitar.

A mãe concordou em ficar no Gabe, o que era ótimo. Era óbvio o quanto ele precisava de ajuda, mas eu também apreciava um pouquinho de privacidade, preferia ver meu pai a sós.

Eu logo avistei o quarto do Alisson. Não havia como esquecer após tanto tempo visitando diariamente, na tentativa de levar meu pai pra casa ou pelo menos fazê-lo almoçar. Quando viajei esta tarefa ficou ao encargo do Gabe e dos outros, e eles tiveram tanto sucesso quanto eu: quase nenhum.

Quando eu já chegava no quarto, alguém abriu a porta. Maikon saiu com o olhar inchado e os ombros baixos. Ele sofria muito com o acidente do pai, mas nunca o vi tão devastado.

"Oi, Maikon." Eu acenei a ele.

"Oi." Respondeu ele, passando reto por mim, com o olhar baixo. "Desculpa, falamos depois."

Eu assisti confuso Maikon acelerar o passo, até sumir nos elevadores. Nem havia visto o meu pai, mas já pressentia uma tragédia das piores.

O quarto de internação permanecia idêntico. Era um setor de luxo do hospital, mas ainda assim bastante simples, com geladeira, televisão, sofás, e, claro, a cama hospitalar no centro, ladeada por tanques de oxigênio, hastes de soro e vários aparelhos que apitavam.

Sob os lençóis, Alisson adormecia profundamente, em um coma irreversível. Seu rosto parecia ainda mais afundado e branco, quase oculto por trás dos tubos e eletrodos.

Ao lado da cama, encontrei meu pai na exata posição de sempre: sentado no velho banquinho, debruçado no colchão e segurando a mão fria do Alisson entre as suas. Ele mantinha o olhar em seu peito, como se cada respiração pudesse ser a última, tão concentrado que nem me viu chegar.

"E aí, pai." Eu puxei outro banco e sentei com ele.

Esperava que pelo menos meu pai sorrisse ao me ver, mas ele parecia tão devastado quanto o Maikon.

"Vão desligar os aparelhos, Shane." Disse ele, seu olhar cinza e sombrio como nuvens encobrindo a lua. "Não consegui salvar ele."

Eu abracei meu pai de lado e beijei sua testa. Os cachos loiros pareciam uma juba dura e disforme.

"Vamos para o Gabe, pai. Você precisa tomar banho, comer alguma coisa."

"Maikon trouxe uns biscoitos." Meu pai deu um leve sorriso e me entregou um pote. "Pobre garoto. Perder o pai desse jeito horrível, e tão cedo."

Eu abri o pote e consegui que ele comesse mais um biscoito. O pai parecia um esqueleto vivo, e eu precisava fazer alguma coisa.

Meu pai deitou a cabeça nos lençóis, agarrado ao Alisson como se fosse o último bote em um naufrágio. Ele soluçou por um tempo e eu não soube o que dizer, então apenas fiz companhia.

"Desculpa, você viajou até aqui e me encontrou desse jeito." Ele disse após um tempo, secando as lágrimas. "Já conseguiu resolver sobre aquela foto?"

"Ah, meu Deus, você já sabe?" Eu avermelhei intensamente. "Sinto muito que tenha visto aquilo."

"Se precisar de advogados, conheço os melhores. Eu mesmo acabaria com a carreira daquele idiota, mas sinto que a Kandi quer ter este prazer."

"Ela tem tudo sob controle, eu acho." Eu escondi o rosto nas mãos, ardendo de vexame. "Desculpa, eu sou uma vergonha completa."

"Não foi culpa sua. Só fiquei sabendo por causa dessa televisão, as notícias chegam devagar aqui nas ilhas. Fizeram certo em fugir para cá."

Romance ao Som de Violão (AMOSTRA)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora