Capítulo 04

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A brisa morna de Waikiki flamulou meu cabelo, trazendo seu cheiro nostálgico de maresia e paz.

O Porsche prateado que ganhei do meu pai ainda aguardava no estacionamento do aeroporto. Pela tranquilidade no ambiente, o Havaí ainda não sabia sobre aquela foto.

Era uma calma temporária mas eu a aproveitaria ao máximo. Só de abrir a porta do Porsche e cheirar seu aroma de couro e pinho, eu já me senti em casa. Eu nasci e cresci em Manhattan e minha mãe ainda morava lá, mas Waikiki... Waikiki era o meu novo lar.

Eu não gostava que dirigissem meu carro, e justamente por isso minha mãe se jogou na minha frente e sentou no banco do motorista. Eu precisei me contentar com o lugar do acompanhante enquanto descíamos os andares do estacionamento.

Já no térreo, a mãe separou o dinheiro para pagar o guardinha, que assistia distraído a uma pequena televisão na guarita.

A princípio não prestei atenção, mas quando notei a foto por trás da apresentadora o meu coração despencou aos joelhos.

"...um dos maiores escândalos da indústria musical. Fundador e único membro permanente da Death Cannibals, Shane Velvet extorquia músicos desesperados, lhes garantindo seus cinco minutos de fama em troca de favores sexuais." Dizia a apresentadora.

O guardinha enfim pegou o dinheiro com a mãe, e quando olhou pra dentro do carro quase teve um troço.

"Nossa. Shane Velvet. Cara, o mundo tá doido te procurando."

Eu vesti os óculos escuros tarde demais. Puta que o pariu, mas que merda.

Minha mãe meteu a mão na bolsa e enfiou um maço de dinheiro na mão do guardinha.

"Conhece o empresário Gabriel Dolinsky? Nós também, e ele vai adorar destruir a sua vida se você abrir a boca." Minha mãe chiou os pneus e disparou adiante.

Eu espiei para trás. O guardinha parecia bem feliz contando o dinheiro, e também assustado. Gabe era um empresário dócil como um carneirinho, não um mafioso. Mas se a ameaça louca da minha mãe funcionou, eu não iria reclamar.

Ainda assim... Ah, cara, eu estava muito ferrado.

"Desmancha essa cara de defunto, Shane. Não te criei pra se abalar com bobagem."

"Bobagem? Aquele cara destruiu a minha vida, a minha carreira! Logo as revistas chegam por aqui e o meu pai vai ver, e meus amigos também."

"Shane, se eu te conheço, não vai ser nada que seus amigos já não conheçam." Ela sorriu com o canto da boca, e de certa forma ela não estava errada. "Não é como se fosse você chupando outro cara, e seu pau é super grande e bonito. Quando colocou um piercing?"

"Mãe, isso não tá me ajudando!" Eu levantei a voz, indignado. "Podemos fingir que aquela foto não existe, pelo menos entre nós dois?"

"Tá bom, tá bom." A mãe virou a esquina e pegou a avenida beira-mar. "Mas se eu tivesse um pau desses eu mostraria pra todo mundo. Deveria se orgulhar."

Eu cobri minhas orelhas, não querendo aumentar meus traumas ainda mais. Eu sabia que a minha mãe só queria me animar, mas que merda, ela realmente não conseguia entender certas coisas.

"Onde estamos indo? O hospital fica para o outro lado." Falei, percebendo tarde demais a linda praia de Waikiki e todas as suas mansões luxuosas.

"Onde mais? Você vai visitar seus amigos e melhorar essa cara de cu. Pode se deprimir com seu pai mais tarde. E não adianta resmungar, o Michel nem sabe que chegamos mais cedo, e você precisa de inspiração."

Romance ao Som de Violão (AMOSTRA)Where stories live. Discover now