Capítulo 14

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"Raaaaarr, marujos! Hoje a pesca foi das grandes!"

Eu arregalei os olhos, tentando entender o que eu estava vendo e ouvindo.

Assim que o navio emparelhou com o bote, um grupo de crianças com chapéu de corsário e colares de miçanga jogou cordas e nos ajudou a subir. Esta não foi a parte estranha. O estranho foi conhecer o capitão. O homem era magro, com uma bandana de onde escapava um cabelo preto e muito bagunçado. O único olho verde nos encarava alucinado e intenso. Ele parecia ter a minha idade, mas as roupas de pirata e o sabre o faziam parecer uma criança no halloween.

Abraçado aos dois bebês, Byron curvou o corpo ao suposto capitão.

"Quarto irmão Clyon, sou eternamente grato por seu auxílio." Disse ele. "Este é Shane Velvet, e os dois pequenos são..."

Clyon nem ouviu o resto, sua atenção focou-se em mim como se eu fosse um unicórnio, ou sei lá. Eu soltei o violão e a bagagem para cumprimentá-lo e ele olhou pra minha mão, e de volta para a minha cara.

"Por isso implorou ajuda? Ayyy que as ondas me chicoteiem por dividir sangue com esse irmão idiota. Me fizeste salvar um inferior."

Byron afinou os olhos, com cara de quem sabia que seria um dia muito, muito cansativo.

"O quarto irmão não precisa nos levar a Egarikena, se for de seu desagrado. Nos deixe no porto mais próximo e nós..."

"Pretende levá-lo a Egarikena?" Clyon bateu os pés até mim, agarrou meu braço e fungou meu pescoço. "Arrr que fiz pra ser castigado com um irmão desses? Os progenitores foram tolerantes com seu predestinado, pretende testar a sorte com um humano comum, ou esse é seu lanchinho de viagem?"

"Clyon, não assuste ele." Pediu Byron.

"Pah! Assustado estou eu, com essa sua cabeça de bacalhau." Clyon coçou acima do tapa-olho e virou-se para a única menina, uma garota de pele escura e olhos verdes com lilás, a mais velha dentre as três crianças. "Debren, prepare as cordas. Hoje é dia de oferenda aos mares."

Eu apenas assisti a conversa, confuso sobre absolutamente tudo. Tentei fazer minha parte, sorrindo meu sorriso mais afável.

"Muito prazer, senhor Clyon. Cara, é uma honra conhecer mais tritões. Você é um tritão, certo?"

"Precisa perguntar? Seu olfato primitivo me faz rir! Rarr, rarr, rarr!" Disse ele, rindo a risada mais falsa e idiota que já ouvi na minha vida. E ele ainda se virou aos meninos e deu um peteleco na cabeça de cada um. "Vocês não me ouviram rir?"

"Rarr! Rarr! Rarr" As crianças imitaram, empolgadas.

"Excelente, jovens marujos. Içar as velas ao vento noroeste! A velha Anjo do Mar não se navegará sozinha."

As crianças correram para as imensas cordas dos mastros, mudando a direção das velas com maestria. Nunca imaginei que um navio tão grande movido a vento ainda existisse.

Ahm... pensando bem, não fazia sentido, porque o navio chegou rápido demais, e contra o vento. Só então ouvi zunido do motor e avistei a fumaça de combustível atrás do navio.

Onde Byron foi nos meter?

"Achei as cordas, papai!" A menina voltou empolgada, balançando seus longos cabelos. "Qual laço devo fazer? Sufocamos o humano aos poucos ou deixamos o pescoço quebrar?"

Eu abri a boca, me perguntando para onde fugir. Como Byron podia estar tão calmo?

"Quarto irmão, compreendo que esteja se divertindo, mas foram dias longos e exaustivos. Os bebês precisam repousar."

Romance ao Som de Violão (AMOSTRA)Where stories live. Discover now