Capítulo 01

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Atenção: talvez contenha spoilers do terceiro ato de Ondas em Rebentação.


Luzes piscantes. Cheiro de cerveja e cigarros. Névoa de gelo seco refletindo as mil cores dos holofotes. Um pisca-pisca infinito em tons de vermelho, roxo e azul, enquanto milhares de fãs gritavam meu nome, competindo com a minha própria voz que ecoava pelos alto-falantes.

O clímax do show se aproximava. Eu arranquei o microfone do suporte e saltei pelo palco, rugindo até estourar minhas cordas vocais.

GWOOOOOH!

CORAÇÃO RASGADO POR DENTES!

SATANÁS ME DEVORA NO CAIXÃO!

GRAAAAH! GRAAAH! GRAAAAH!

O público foi à loucura, como sempre. Eu ergui o microfone e a guitarra aos céus e no mesmo instante fez-se o silêncio. A conclusão da última música daquele espetáculo. Os aplausos e gritos fizeram vibrar o chão até mais que meu death metal.

Ofegante, eu joguei meu topete verde e vermelho para trás e acenei aos meus queridos fãs, enquanto uma chuva de rosas, presentes e até calcinhas choviam sobre o palco. O cansaço e o calor de Las Vegas molhavam de suor as minhas roupas de couro preto, mas era o amor dos meus fãs que realmente aquecia o meu coração.

"Eu te amo, Shane! Eu te amo!" Berravam diversas pessoas, vozes perdidas em meio a todo tipo de grito.

"Obrigado, Las Vegas! Eu também amo vocês!" Anunciei, com a voz já rouca.

Era nessa parte que os fãs surtavam, todos já bêbados e desesperados por autógrafos, ou selfies, ou beijinhos. Minha equipe de seguranças logo entrou em cena, mantendo os mais loucos afastados enquanto eu contornava o palco na direção dos camarins.

Milhares de expectadores em uma das melhores casas de show de Las Vegas. Se fosse no começo de carreira eu estaria me borrando, mas após tantos anos de turnês e espetáculos aquela era apenas mais uma noite. Eu só precisava subir no palco, cantar, e depois relaxar.

E eu mal podia esperar pela parte do relaxar.

"Outro show perfeito, Shane. Agora só falta aquela cervejinha." Disse Rick, guardando seu baixo no estojo. "Vem com a gente?"

Eu tirei minha coleira de couro e metal e massageei minha garganta. Ah, como doía.

"Fica pra próxima, caras. Tenho outros compromissos."

O baixista e o tecladista se entreolharam, trocando uma risadinha safada. Eles tocaram na Death Cannibals poucas vezes, mas já me conheciam bem o suficiente.

"Quem diria, o grande Shane Velvet não tem tempo nem para a própria banda." Craig guardou as baquetas da sua bateria e tirou uma caixa do bolso. Apesar de ser um maço de cigarros comum, o cigarro que ele puxou não me enganava.

Antes que Craig levasse o baseado à boca eu o arranquei de suas mãos.

"Alguns dos nossos fãs são crianças, sabia?" Eu amassei aquela porcaria e joguei longe, já enojado pelo cheiro doce.

"Alguns dos seus fãs, você quer dizer. Você troca os membros da Death Cannibals como quem troca de roupa." Devolveu aquele caipirão loiro, e os outros membros engasgaram com tamanha audácia.

Eu torci o lábio, meio indignado mas não o bastante para me importar. Poucos passos me separavam de uma multitude de jovens capazes de tudo para me agradar. Após um show tão exaustivo eu só queria escolher os dois ou três mais gostosos e me entregar durante toda a noite.

Romance ao Som de Violão (AMOSTRA)Where stories live. Discover now