Capítulo 12

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Eu ajeitei a última caixa nos fundos do porão e precisei sentar, exausto. Um dia inteiro encaixotando minha bagagem, e mais um para transportar tudo ao veleiro. Foi cansativo, Mas enfim poderíamos zarpar.

A despedida dos garotos ainda apertava meu coração. Byron insistia que acertei ao terminar meu lance com eles, e eu até concordava. O casamento dos meus pais ocorreria em apenas um ano, então Maikon seria o meu irmão. Mas nosso súbito parentesco não era o único motivo.

Transar com eles ou com qualquer pessoa simplesmente... havia perdido a graça.

Hian entendeu isso, eu notei em seus olhos quando nos despedimos, pouco antes. Maikon teria muito a chorar ainda. Apesar do tamanho, ele lidava com despedidas e rejeições pior que uma criança. Doeu demais dizer adeus aos dois. Mas era uma dor tão necessária quanto a longa viagem que nos aguardava.

Eu subi de volta ao convés.

Aquele veleiro era bastante grande e parecia caro e novinho, mas não me importava como Byron o conseguiu. Já havia doideiras demais na minha vida. E a maior doideira estava bem diante de mim, dividindo o bercinho com o pequeno Madhun.

Ronan. O bebê do Hian, que ele entregou ao Byron para ser criado como seu próprio filho.

Byron terminava de amamentar Madhun, debruçado sobre o berço com uma mamadeira. Ronan permanecia quieto, com o olhar para o nada, sem a menor pressa em se alimentar.

Será que Ronan compreendia a própria situação? Eu não manjava muito de crianças, mas ele devia ser novo demais para entender aquele abandono. Em alguns anos ele nem lembraria do Hian e do Maikon, e era exatamente isso o que Hian desejava.

Eu já sabia sobre a decisão do Hian. Ele mesmo contou que precisava se desfazer do bebê, e seria crueldade não apoiá-lo. Todos sabiam o quanto ele tentou amar Ronan, mas precisávamos ser realistas. Ronan era o fruto de uma violência e o único gesto de amor possível, para Hian, era entregá-lo a quem pudesse amá-lo de verdade.

Claro, o assassinato devia pesar bastante em uma decisão tão grave. De algum jeito os garotos mataram o selkie estuprador, então Dylan sumiu com o corpo e eu mesmo me livrei das armas do confronto, um revólver e um tridente ensanguentado. Seria legal algumas explicações, mas Maikon e Hian choraram tanto, e por tanto tempo, que concluí que era melhor não saber.

O que importava era que Byron tornou-se pai de um segundo bebê, do qual eu era padrinho.

"Quer me ajudar?" Byron sorriu para mim e apontou com o olhar para a outra mamadeira.

"Ah, cara. Tá ligado que vou derramar tudo?" Eu dei uma risadinha, pegando a mamadeira mesmo assim. "Abra bem a boquinha, Ronan. Vai que eu acerte a mira, dessa vez."

Ronan nem reagiu, como um bonequinho de porcelana. Apenas continuou olhando para o alto, na direção dos meus olhos, mas como se olhasse além de mim.

Eu me preparei para virar a mamadeira e torci pelo melhor, quando ouvi um grito.

"Shane! Ei, Shane!"

Eu corri para o parapeito do barco e vi duas pessoas correndo entre os muitos barcos, ao longo das plataformas do cais.

"Pai? Mãe?" Eu arregalei os olhos, mais do que surpreso.

Assim que desci do barco, os dois se jogaram em mim e me abraçaram apertado.

"Ah, que bom que deu tempo." Meu pai sorriu e se afastou, seus cachos loiros pareciam um arbusto após a longa corrida. "Desculpe a demora."

"Desculpa o caralho!" Minha mãe resmungou e tossiu, acendendo um cigarro. "Se não enrolasse tanto naquele hospital, não teria acabado com os meus pulmões."

Romance ao Som de Violão (AMOSTRA)Where stories live. Discover now