Capítulo 15

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As semanas de viagem foram como uma aula sobre a cultura dos tritões. Aprendi que Egarikena era a capital do povo do mar, mas haviam diversos reinos menores espalhados pelo mundo, a maioria deles em aliança com a família real que governava Egarikena.

A parte chocante foi descobrir que os Makaira eram uma linhagem de sangue real. Dylan era um ex-príncipe, que renunciou ao trono para viver com Gabe entre os humanos, mas os caras sempre desconversavam quando eu perguntava a respeito. Byron e Clyon também eram príncipes, mas estavam tão baixo na ordem de coroação que viviam vidas normais, quase como plebeus. Byron era comerciante e Clyon vendia artigos de Egarikena no continente, sendo um dos raros tritões que socializava regularmente com humanos.

Egarikena exportava principalmente obsidiana, cristais e seda-do-mar, um tecido dourado feito de cola de mariscos que valia uma fortuna absurda. Eu nunca ouvi falar dessa coisa até Oberon me mostrar um retalho, então lembrei que Babelyn trajava um vestido nesse material. Parecia tão simples, apesar de lindo, mas valia milhares de dólares. Algo digno da princesa que ela era, e também valioso aos tritões por não desgastar no mar.

Tritões também vestiam tecidos de humanos, mas estes estragavam facilmente e complicavam a mudança de forma. A sunga vermelha do Byron acompanhava sua transformação, mas ele não me dizia do que era feita. Devia ser super rara, porque Clyon, Oberon e seus filhos apenas vestiam saiotes comuns, sem nada por baixo.

A cultura dos tritões era fascinante, mas legal mesmo era conviver com aqueles caras do navio. Após os conflitos do primeiro dia Clyon se mostrou um cara legal pra caramba. Oberon demorou a se abrir comigo, mas a gente trocava umas frases. Ele só rosnava às vezes.

Meu único desconforto era que Ronan tornou-se assunto proibido. Ele devia permanecer isolado no quarto em todos os momentos, saindo apenas para banhos curtos no mar. Apenas Byron aceitava conversar sobre ele, e ainda assim desconversava todas as minhas perguntas. Ele também me proibiu de contar sua origem aos outros, como se eu fosse burro. Se a segurança do Ronan dependia de segredos, claro que eu nunca contaria nada a ninguém.

Eu não me abalava com detalhes assim. Tritões eram meio teimosos, eu sabia que um dia aceitariam Ronan como um dos seus, até porque suas escamas indicavam o sangue de meio-tritão.

Conforme nos aproximávamos de Egarikena o meu coração se enchia de ansiedade. Logo eu me tornaria o segundo humano a pisar na capital de tritões. O primeiro deles sendo Isha, o falecido predestinado do Byron. O homem que Byron nunca deixaria de amar.

Ah, cara... eu não queria me deprimir em um dia tão lindo. E daí que Byron nunca tocava em mim, apesar da química tórrida entre nós dois? E daí que dormíamos no mesmo quarto, ele na cama ao lado, sem nunca tentar fazer uma visitinha? Eu não queria ser interesseiro e fútil. Não com ele. Havia algo em Byron que fazia compensar os desafios mais frustrantes, como por exemplo seu sorriso de açúcar e a sua dedicação em me agradar o tempo todo com receitas gostosas e conversas agradáveis.

Após alguns dias de chuva o tempo havia aberto em um lindo céu azul, com ondas calmas e revoadas de gaivotas. Clyon sugeriu que eu os acompanhasse em seu mergulho diário.

Claro que o convite não foi feito de forma normal.

"Haaaaaarr! Marujo! Mexa esses apêndices primitivos! As ondas gargalham da sua covardice!" Clyon brandiu seu sabre de plástico, dentro da água.

Eu estremeci, agarrado ao parapeito do navio. Eu até sabia nadar, mas saltar de vários metros no oceano aberto era loucura. E apesar do sol havia vento, a água parecia fria, e eu não havia esquecido do naufrágio do veleiro.

Romance ao Som de Violão (AMOSTRA)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora