Capítulo 11

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Depois de acompanhar o parto de um cara, nada mais deveria me surpreender. Então, poucos dias após o nascimento do bebê, Alisson acordou do coma e recebeu alta. Isso sim foi estranho pra caralho.

Com tantas coisas acontecendo, passar um tempinho com Byron ficou complicado. Mas nós dois organizamos um chá de fraldas para o recém chegado, o que foi bastante divertido, e eu consegui apresentar-lhe meu Porsche. Byron adorou pendurar-se na janela para apreciar o vento.

Nunca gastei tanto tempo com um cara sem levá-lo para a cama, mas por algum motivo o distanciamento não me aborrecia. Depois daquele climão que o Maikon interrompeu, não teve sequer outra tentativa de beijo. Claro que eu tentava avançar as coisas, mas Byron se revelou um tanto... evasivo.

Após diversos dias auxiliando meu pai com a transferência do Alisson de volta à casa, nós compramos uma van adaptada para cadeira de rodas, algo que irritou Alisson profundamente. Ele odiava a dependência causada pelo coma e pela perna a menos.

Meu pai não ligava para as reclamações, claro. Ele estava tão eufórico que eu temia que o sorriso constante deformasse sua cara. E a euforia aumentou ainda mais com o pedido de noivado. Meu pai não passava cinco minutos sem mostrar a aliança a alguém.

Em breve Maikon seria o meu irmão, o que era incrível e talvez um pouquinho embaraçoso. Ele parecia alegre mas não demonstrava muito. Era difícil sorrir quando o namorado chorava literalmente o dia inteiro.

Meu coração doía pelo Hian, mas minhas ideias se esgotavam. Sugeri escurecer o cabelo do bebê, mas Byron tinha razão. Hian precisaria aceitar a aparência do menino, tão idêntico ao monstro que abusou dele.

Pelo menos Gabe recuperou a alegria altiva de sempre, empolgado pela recuperação do Alisson e com a idéia de ser vovô. Quando ele nos convidou para um churrasco na mansão, meu pai quase soltou fogos de artifício.

Lentamente as peças retornavam ao lugar e minha família recuperava a felicidade.

****

Meu pai garantiu que ele e Maikon conseguiriam ajeitar Alisson na van, então apareci mais cedo na casa do Gabe. Eu queria demais ver meu afilhado e também temia pela segurança da casa: A mãe decidiu que cozinharia os acompanhamentos e a chance de um apocalipse era bem alta.

Entrei correndo já preparado para conter um incêndio, mas minha mãe não estava na enorme cozinha. Havia ali apenas o Gabe e... Byron.

Quando me viu, Byron sorriu tímido e acenou todo encolhido, envergonhado pelo avental cor-de-rosa que mal cobra seu peito. Ele terminava de fatiar um maço de salsa com uma tesoura de culinária.

"Meu cunhado está aprendendo a preparar salada." Gabe segurou o riso ao notar o vermelho no meu rosto.

Nada contra Byron usar um avental, mas precisava ser tão curtinho, por cima do corpo seminu?

"Cadê minha mãe? Ela disse que cozinharia alguma coisa." Perguntei, desviando o olhar.

"Ela que tente. Proibi aquela louca de encostar no fogão depois daquele chá de rúcula com raiz de laranjeira. A laranjeira do meu quintal, ainda por cima! Ela matou minha árvore!" Gabe brandiu os braços no ar, exasperado.

Eu ri. Parecia bem normal, vindo da minha mãe.

Byron começou a picar o agrião, fazendo chover pedacinhos verdes em uma linda travessa de folhas mistas e tomates. Aquele cara nunca usou talheres, não conhecia o conceito de culinária e passaria mal se comesse qualquer uma daquelas coisas. Ainda assim, com certeza era um assistente melhor que a minha mãe.

Romance ao Som de Violão (AMOSTRA)Where stories live. Discover now