Thirty Six

519 51 50
                                    

Peter e eu seguimos a moto de Scott á caminho da clínica veterinária. Não sabemos exatamente o que fazer, mas de Deaton quase sempre tem resposta pra tudo.

- Não acho que você esteja pronta pra uma luta. - Peter anuncia, quebrando o silêncio que havia sido estabelecido dentro do carro, exceto pela música no rádio. Eu abaixo um pouco o volume.

- Eu estou bem. - Mostro meus braços e estão quase curados.

- Isso não significa que a ferida sarou por dentro. Você foi envenenada, Malia. De nada adianta toda essa dedicação a salvar o Isaac se no final das contas você estiver morta. Falando nisso, como consegue ser tão obcecada por ele?

Sinto uma veia saltando na minha têmpora, mas apenas cerro o maxilar e controlo minha fala. - O que quer dizer?

- Eu quero dizer, você não tem certeza que ele existe. Apenas sabe porque eu te disse, porque eu vi.

- Não é uma questão de ver, nem de contato físico. Eu apenas sinto.

- Esse é o problema, você está apaixonada e cega, não vê onde está se metendo. O Isaac é pior do que o Scott em bancar o herói. Ele é louco, suicida, arrisca tudo pra salvar alguém e pra mostrar que é diferente do pai dele. Mas ele não é tão inteligente como o Scott, ele não pensa nas consequências, apenas faz. Ele poderia muito bem caminhar para a sua morte e ainda sem perceber de carregar junto. Ele é um homem morto, Malia. Não seja apaixonada por um homem morto.

- Ele não é um homem morto. - Eu respondo, rosnando. - Você não o conhece quando tem a mim, você só conheceu o Isaac sozinho. Eu sei que ele me dá forças e eu sei que eu dou forças a ele, onde quer que ele esteja. Eu não vou deixar ele morrer.

O silêncio entre nós dois volta e tudo o que se pode ouvir é o som do motor acelerando cada vez mais. Quando finalmente chegamos na clínica, Deaton já nos espera no consultório.

- Não temos tempo pra conversar. - Ele já anuncia. E então despeja um saco de gelo em uma banheira de metal. Scott tira a jaqueta e começa a fazer o mesmo com os outros sacos próximos a banheira. - Há um ano e meio atrás quando o Darach levou Melissa, Argent e o xerife para realizar seu sacrifício, fizemos esse mesmo procedimento. Você precisa entrar em uma espécie de hipnose, junto a uma relíquia e seu subconsciente vai te mostrar o que precisa.

- Ok, eu faço.

- Calma, - Peter põe seu braço á minha frente, me parando. - isso é muito perigoso. Você ainda não está recuperada.

- Eu meio que não tenho outra alternativa.

O último saco de gelo é colocado na banheira e eu tiro minha camisa. Ao meu lado, Scott me dá a mão para me ajudar a entrar. Assim que a ponta do meu dedo entra em contato com a água, um calafrio sobre pelo meu corpo. Tiro a chave da moto do meu bolso traseiro e o aperto enquanto me agacho na banheira. Sinto que estou tremendo e ofegando, nunca senti tanto frio.

- Certo, agora nós precisamos te manter submersa. Você tem que focar em tudo o que sabe sobre ele agora. Está pronta?

Eu faço que sim com a cabeça e fecho os olhos me agarrando em tudo sobre ele. Sinto os braços de Scott me empurrando pra baixo e eu começo a ofegar quando o ar ameaça deixar meus pulmões. Eu sinto que estou me contorcendo mas é como se eu não tivesse nenhum controle sobre meu próprio corpo.

E então tudo fica preto.

É como se tudo o que acontecesse comigo, na verdade estivesse acontecendo. Eu sinto o momento em que "acordo" depois de soltar um rugido.

- Malia? Pode me ouvir? - Eu ouço a voz de Deaton. Sua voz é um eco.

- Sim. - Eu respondo baixinho enquanto uma imagem forma se no meu "sonho".

- Pode me dizer o que vê?

A imagem é um pouco desfocada e confusa. Eu demoro algum tempo para identificar formas, sons e cheiro que me rodeiam. Aos poucos, consigo notar um céu escuro e árvores por todo lado.

A minha frente uma silhueta se torna visível. Parece ser um homem de terno, ele está de costas pra mim.

Eu quase perco o ar quando ele se vira.

Uma de suas mãos está em torno do seu pulso.

- Sabia que não desistiria de mim, amor. - Tudo nele é angelical. Face, voz, sorriso... ele sorri e eu percebo porquê o amo tanto. - Sabe onde estamos?

Eu sei que balanço a cabeça e ele põe as mãos no bolso. Isaac olha por cima do ombro com um sorriso nervoso. Atrás dele há uma tenda e uma mesa com velas e taças.

- Esse foi o lugar em que nos vimos pela última vez.

Olho em volta e me lembro de quando vi Isaac pela primeira vez na vida. Eu ainda estava no corpo de coiote e nunca mais o vi até o dia em que ele voltou de Londres.

- Por que me trouxe aqui?

Ele caminha até mim e põe um de seus braços em em torno da minha cintura e o outro nos meus ombros. Ele me puxa pra mais perto, me fazendo sentir seu cheiro.

- Porque você tem andando meio perdida, ultimamente. Foi aqui que eu disse que você é a minha casa, e eu acredito que eu seja a sua casa também. Você sabe onde me encontrar, amor. E eu estou voltando pra casa. Estou voltando pra você. - Ele sussurra no meu ouvido, como se me contasse um segredo.

Recupero o ar quando parte do meu corpo sai da água fria. Em meio á minha respiração ofegante, grito: - Eu sei onde encontrá-lo!

Peter solta o ar que prendia e Deaton me entrega uma toalha enquanto Scott me pega no colo para me tirar da bandeira, já que estou tremendo demais para conseguir ficar de pé.

Eu me seco e visto minha camisa de volta: - Nós temos que ir, agora!

Entramos no carro e Scott vai comigo no banco de trás, me abraçando na tentativa desesperada de esquentar meu corpo.

Eu só consigo pensar naquele abraço. E eu estou voltando para seu abraço.

Back HomeWhere stories live. Discover now