Vida nova,escolhas antigas.

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 Aos 22 anos muitos conflitos se passavam em minha cabeça, terminado o ensino médio há alguns anos. Queria muito fazer um curso de medicina, e acabei entrando numa universidade no Rio de Janeiro, porém o meu receio de morar sozinho, ficar longe da minha família e com uma nova vida me fazia sofrer muito, apesar que também iria ajudar a esquecer algumas coisas. Sempre fui apegado a minha casa, pois tinha de tudo. No final do ano fiz vários vestibulares e a minha surpresa foi quando soube que passei entre os primeiros no curso que tanto queria.

Chorei de alegria e ao mesmo tempo de angústia....

Estava em dúvida se iria ou não iria.

Não conhecia ninguém no Rio, teria que me virar sozinho, num lugar que não sabia. Via na Tv a fama da cidade com a violência e morria de medo. Mas de tanto a minha família incentivar, principalmente minha mãe, resolvi ir, arriscar, realizar o meu sonho.

Qualquer coisa que desse errado teria minha casa, minha família de volta. Meu pai, como todo pai protetor, achou melhor alugar um pequeno apartamento em Copacabana, que foi realizado por um conhecido dele que morava no Rio. As aulas começariam na segunda semana de fevereiro.

No início de janeiro fomos para lá para conhecer o local e as redondezas. Realmente curti muito. Ficava a duas quadras da praia, a rua era bem arborizada, com tudo que precisava por perto, não muito longe de onde estudaria (já tinha meu carro), o apartamento não era muito grande (dois quartos pequenos), cozinha, sala pequena, banheiro e uma pequena área de serviço. Minha mãe deu seu toque de decoração nas duas primeiras semanas de janeiro, compramos o necessário para uma casa e depois disso, a partir da terceira semana, lá estava eu morando sozinho pela primeira vez.

A sensação de liberdade era incrível. Só quem já passou por isso sabe como é. Fazer seu horário, organizar as coisas da sua maneira sem ninguém para interferir.

Eu era, ou melhor sou, extremamente organizado, e mantinha tudo na ordem. Logo conheci os vizinhos dos andares de cima, de baixo. Todos simpáticos, e alguns renderam bons papos.

Também me habituei com as redondezas com facilidade.

Na primeira semana de fevereiro (última de férias) resolvi ir aproveitar o sol pela primeira vez.

Nunca fui muito fã de ficar "tostando" na praia, tinha vergonha por ser muito branquelo (apesar de ter morado em Pernambuco). Peguei minha toalha, bronzeador, coloquei minha bermuda e fui. Nessa virada de ano me rendeu uma boa quantidade de pêlos no meu corpo (pernas, braços e mantinha uma pequena barba).

Embora estivesse um pouco acima do peso por culpa das festas de fim de ano mas até que chamo atenção. Aproveitei o fim de tarde sentado na areia, tomando água de coco, observando as pessoas, os turistas que iam e vinham na areia e na água, arrisquei alguns mergulhos, enfim, uma tarde muito agradável. Num certo momento vi um grupo de pessoas reunidas assustadas, com três salva-vidas por perto carregando um rapaz. Pelo o que tinha entendido o rapaz surfista tinha se arriscado um pouco demais e acabou se afogando, tendo que ser socorrido. Eu, como todo curioso, cheguei perto para ver, porém não consegui por conta da quantidade de pessoas ao redor. Mas pela minha visão de longe o rapaz era muito lindo, pele bronzeada, corpo sarado de esportista.


Lá estava o rapaz deitado e os salva-vidas dando os primeiros atendimentos, tentando reanimá-lo. E eu só observando tudo de longe. Logo o rapaz voltou em si, acordou, todo assustado com tudo e com aquelas pessoas em volta.

Ele disse que estava tudo bem, que foi um susto.

Os salva-vidas tentaram convencer que ele fosse para um hospital, mas ele não quis.

Uma amiga que estava junto disse que levaria. Por fim, voltei para o meu lugar, peguei minhas coisas, e fiquei no calçadão apenas reparando na multidão que se desfazia e observando o final de tarde que estava lindo. O rapaz, juntamente com sua amiga, veio na mesma direção que eu estava e pude observar, com mais atenção na beleza daquele rapaz. Realmente ele era lindo! Sua amiga também e suspeitei que eram namorados.

Ao passar por mim os dois me olharam, fiz um oi com a cabeça, eles corresponderam e entraram num carro que estava próximo, e foram embora. E resolvi voltar para o apartamento.


Na semana seguinte lá estava eu indo todo eufórico para o primeiro dia de aula. Resolvi pegar um táxi por não saber muito bem o caminho (coisa que fiz nas semanas seguintes até me acostumar com o trajeto).

A Universidade parecia um sonho, pessoas novas, situações novas... E o frio na barriga. Minha turma contava com uma média de 40 alunos.

Pessoal divertido, mas como sou muito tímido sempre tive muita dificuldade para puxar assunto e fazer novas amizades. Mas isso não me incomodava.

Ficava na minha.

Em alguns dias da semana teria aula tanto no período da manhã, como no período da tarde (É claro que minha família me sustentava).


No segundo dia aula eu ficaria nos dois períodos e resolvi, logo após o término do período da manhã, comer algo na própria faculdade. Enquanto esperava o meu pedido na lanchonete, escutei risos e gritaria de um grupo de alunos que chegava próximo. Traziam tesouras, tintas, gritavam muito.

Juntos tinha 6 alunos com a cara toda pintada, alguns com os cabelos cortados...

Eu gelei na hora, não queria ser alvo dos veteranos e participar do trote.

Sempre tive horror a isso. Pegaram alguns outros alunos que estavam ali na lanchonete e participaram numa boa do trote e logo vieram para o meu lado.

Um dos alunos falou que era novo e que era para participar do trote.


Qual foi minha surpresa ao ver que o aluno veterano que comandava o trote era o rapaz que tinha se afogado alguns dias antes na praia. Não tinha como não reconhecer. Ele estava mais lindo ainda.

com uma camisa polo branca, calca jeans e um belo sorriso nos lábios, diferente da cara assustada de alguns dias antes.

Eles me puxaram pelo braço e tentaram cortar meu cabelo ali mesmo. Me esquivei, falei que não queria, que teria aula a tarde, realmente estava assustado.

O rapaz da praia, talvez me reconhecendo e percebendo a minha cara de assustado interferiu e disse para os outros que apenas pintaria meu rosto. Ele mesmo fez isso... Enfiou os dedos num pote de tinta e passou sobre minha barba, testa e nariz. Deu um leve sorriso, falou que não era para tirar a tinta, e saiu dali. Envergonhado com tudo voltei para o lugar que estava sentado e esperei meu lanche.

Não tirei a tinta com medo que voltassem e meu castigo fosse maior. Esperei um pouco, fui para a sala onde teria aula no período da tarde, mas antes passei no banheiro.

Não poderia assistir aula com a cara toda pintada.

Tirei a tinta e fui para a sala.

Escolhi um lugar num canto e me encolhi esperando a aula começar. Os outros colegas começaram a chegar e observei alguns também limpando o rosto da tinta, outros pintados mesmo. Qual foi meu susto quando escuto uma voz atrás de mim falando...
- Quer dizer que resolveu tirar a tinta? Olhei para trás e lá estava ele rindo e olhando para mim. Era o tal veterano da praia. – Falei que não era para tirar. Acredito que eu tenha feito uma cara de espanto, pois ele começou a rir.

ǹc

AMIGO DA FACULDADE (Romance gay) #Wattys2018Where stories live. Discover now