Você

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Eu estava trêmulo. Aquela árvore era muito alta, me deixava com a sensação de inferioridade. Haviam formigas me mordendo e em várias tentativas de expulsar cada uma, eu me desiquilibrava quase caindo no palmo de chão abaixo de mim. E ao pensar nisso, lembro que, caso eu me machucasse, eu me curaria - ainda sem saber como fazer isso, mas continuando a acreditar naquela possibilidade desde o dia da enfermaria e do soco que dei em Harry.

E por falar dele, volto a lembrança do seu pedido e no quanto eu precisava me concentrar no silêncio da floresta. Contei cada grito que ecoou depois da sua partida. Ao todo foram quatro. Eu ainda não tinha ouvido o grito de Harry e o de Zayn, comecei a achar meio difícil aquele lobisomem capturar o meu amigo vampiro, pelo simples fato dele não se entregar tão fácil a qualquer desafio. Contudo, meus pensamentos que sustentavam coisas impossíveis em uma lista fula, acabaram por ser pegos de surpresa quando ouço o grito árduo de Zayn. Surpreendentemente, ao meu contar, ele havia se tornado o número cinco.

Confesso que fiquei com o queixo no chão com aquilo. Pois, o que se alastrou pela floresta não havia sido um grito de dor, mas um grito de raiva. Foi quando eu senti que Zayn foi mais uma isca como os outros. O que me dava a ideia correta de que restava Harry e eu, naquela fuga idiota que Connor inventou. Embora eu não soubesse onde ele se encontrava, torcia mentalmente para que estivesse bem.

Além do medo do escuro, estar sozinho naquele lugar, me faz notar o grau em que a minha paranoia aumentava. Escutei barulhos entre os arbustos e lancei meu olhar até o lado mais obscuro da floresta, poderia ser o Lobisomem ou Harry - e se fosse ele, eu ficaria furioso caso tudo não passasse de uma enganação da sua parte, chegaria ao ponto de nunca mais lhe dirigir a palavra.

Meu nervosismo fez com que meus pés encostassem no galho debaixo, quando seguro o que está acima de mim para me manter firme e não virar amassado de Louis Tomlinson. Uma agonia fazia de refém aos meus medos, implorei mentalmente para que aquilo acabasse logo. As gotas de água escorriam pelo meu rosto lentamente, influenciando meus movimentos a coçar a área irritada. Ao pensar nessa possibilidade, ganho a noção da perda do meu equilíbrio, ainda mais pela posição em que me encontrava. Agora, as gotas estavam indo para o meu nariz e tive de contorcer ele para poder fazer com que elas caíssem em outra direção, e mesmo com todo o meu esforço a sensação permaneceu intacta.

Maldita hora seja essa para aquilo acontecer!

Um barulho atrás de mim, fez com que eu engolisse em seco. Procurei manter minha respiração normal, contudo estava sendo complicado quando os fragores pareciam estarrecedores, alimentando meu medo. Meu peito estava queimando e os ruídos aumentaram.

Será que Harry não conseguiu se entregar para o lobisomem e agora, eu seria a próxima vítima? Será que era outra pessoa? Outra entidade?

As árvores começaram a balançar de modo sombrio, batendo os galhos como se eles fossem mãos tentando amparar algo ou alguém. Minha espinha dorsal tremeu na mesma intensidade do resto do meu corpo. Fechei os olhos, lembrando do Shawn e seu rosto macabro. Conseguia sentir o cheiro da morte vindo acompanhada da sensação ruim e escuridão após isso. Pensar na situação em que me encontrava pela madrugada, não fora muito propícia. Eu tinha uma mania estranha de alimentar coisas na minha cabeça em momentos inusitados como esse.

Quando abri os meus olhos lentamente, tive a sensação ainda maior que o que me observava estava cada vez mais perto e a morte parecia tão próxima de levar a minha alma que ao pensar na minha partida, as minhas pernas estremecerem. O som dos esquilos comendo nozes e unhas arranhando a casca, começaram a fazer parte daquele assombro na floresta, deixando-a ainda mais medonha. Finquei os dedos no galho da árvore, trazendo as farpas para a camada sensível embaixo das unhas. O frio na minha pele se estendeu por todo o corpo quando percebi estar arrepiado dos pés à cabeça. Fechei meus olhos outra vez, querendo os abri ao mesmo tempo para não ser pego de surpresa pelo sobrenatural.

Eternamente -  O Beijo mortalWhere stories live. Discover now