A alma

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A sombra daquela noite me envolveu com o mais forte abraço, dando-me calafrios porque eu não parava de pensar no que havia acabado de acontecer. Senti meus pés me guiarem por aquele corredor, pois a minha mente estava nele, a criatura que me recepcionou de modo mal educado. Eu nem ao menos o conhecia ou sabia quem ele era, mas o odiava.

As árvores começaram a bater contra as janelas de maneira mórbida, olhei para os lados e vi uma sombra humana parada no parapeito, balancei a cabeça negando e voltei a encarar naquela mesma direção, notando que havia desaparecido. Mantive meu olhar sobre a janela, perguntando a mim mesmo se era audacioso desafiar o perigo, até escutar algo de ferro caindo no chão e tudo começar a perder o foco por causa do meu susto. Mesmo que meu corpo estivesse me alertando para ficar longe, meus pés me guiaram para a escuridão como se estivessem agindo por conta própria. Toquei na porta que ligava a algum tipo de sala vazia e mantive meus dedos pressionados na grande maçaneta enferrujada com formato antigo.

Eu não sabia se deveria fazer aquilo, mas por que não?

Engoli seco e fiquei paralisado, ouvindo murmúrios do outro lado da porta e risadas como se tivesse alguém me esperando. Minha palma estava suada e por segurar a maçaneta de ferro, temi encontrar algo ruim do outro lado. Dou um pulo, travando minha posição ao sentir um castiçal bater contra meu pé. Encarei com os olhos fixos no objeto prateado, nele havia algo que brilhava e que me chamou a atenção. Movido pela curiosidade, abaixo e puxo apenas o papel de alumínio idiota que estava embolado. Reviro os meus olhos e jogo o metal no chão, em seguida, chuto aquela “lata” para longe.

Não sei o que me deu de continuar naquele lugar.

Dou as costas enterrando as minhas mãos no bolso do moletom e sigo o caminho de onde vim. O vento sorrateiro soprou contra meus ouvidos e atraiu meu olhar de volta a janela, meu rosto chocou contra os pares de olhos vermelhos no batente. A figura escondida na escuridão, era de um homem sadio e por eu nuca ter visto algo tão bizarro quanto aquilo, soltei uma lufada de ar pesada. O que era ou como surgiu? Eu não fazia ideia. Mas me fazia temer e atraia a curiosidade tola que habitava dentro de mim.

Uma tempestade se iniciou fazendo a figura sumir e aparecer. Será que vou até ele ou apenas corro como covarde? Aperto minha mão e afundo a unha na minha carne, meu coração acelerou e o lado covarde gritou para eu sair dali. O que eu estava pensando? Estou em uma morada com seres que jamais vi na vida, eu não poderia simplesmente desafiá-los.

Corro na primeira oportunidade que tenho e paro, quando o vejo na minha frente.

Louis. — Meu nome saiu em um sussurro dos seus lábios. Suas mãos frias pousaram sobre os meus braços.

Concentro nos poucos detalhes que a luz refletia sob seu semblante: os lábios hidratados e rosados, dentes afiados para fora e olhar penetrante no tom vermelho vinho. Estranhamente, fui atraído pelas suas pupilas dilatadas e senti que ele agia do mesmo modo ao abrir os lábios e os fechar.

— O que você é? — perguntei depois de muito tempo de silêncio.

Ele aperta os meus pulsos e solto um gemido de dor. Percebendo minha reação, a criatura de dentes afiados se afastou rosnando e lutando contra as próprias atitudes. Toquei na região que ele teria ferido e encarei a marca vermelha que deixou, ergo meu olhar e ele já não estava mais lá. Meu corpo suou conforme eu lembrava de alguns detalhes do ser sobrenatural. Como aquilo poderia ser possível? Ele ser completamente apavorante e ter me atraído a continuar na sua frente sem temê-lo.

Será que estou ficando maluco?

— Ei, garoto! — dou um grito ao ver uma velinha e corcunda parada do outro lado. A verruga no meio do seu nariz trazia a lembrança de uma bruxa triste e amargurada. — Ouviu o que eu falei? — perguntou ranzinza.

Eternamente -  O Beijo mortalNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ