Prólogo

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Helena Ponto de Vista:

Nós somos feitos para nascer, crescer(fazer algumas besteiras) e morrer. No geral, é apenas isso.
A realidade humana é triste, e mais triste ainda é quando nós deixamos ela parecer normal.
Quando eu era uma garotinha, não pensava muito em um futuro porque sempre imaginei que papai e mamãe estariam ali para tudo que eu precisasse, mesmo com nossa instabilidade de um local fixo, eu sabia que sempre estaria com eles.
Na pré-adolescência, a fantasia acabou, depois de ter conhecido vários amigos e ter que dizer adeus a todos eles... eu simplesmente constatei que minha vida era uma droga, nunca disse isso aos meus pais, eles sempre tinham esse olhar preocupado no rosto, tentavam sorrir pra me confortar, mas falhavam miseravelmente.
Meus pais pensam que eu, como toda adolescente normal, adoraria viajar pelo país em busca de "novas aventuras"... mas pais normais não saem de um estado para outro em uma mínima de três messes.
O mais longo que eu fiquei em um lugar foi por volta de dois anos, era em Los Angeles no sul da Califórnia, eu tinha quatorze e fiz uma amiga, Hayley. Mas em uma noite fui acordada pelos meus pais, tínhamos que sair de novo, papai tinha recebido um novo emprego e teríamos que voar para o Alaska para que ele adiantasse a pesquisa. Naquela semana, Hayley não parava de moer meus miolos com a surpresa que estava preparando para mim... nunca soube qual era, posso imaginar seu olhar de desapontamento ao ver minha cadeira vazia na escola.
Isso foi a um ano, e sim, saímos do Alaska, ou como passei a chamar: O inferno congelado.
Agora?! Estou em um avião para Nova Iorque, tentando processar o "significado da vida", mas nas palavras de meu pai, o meu "monólogo dramático" só iria fazer o avião voar mais lentamente. Meu pai não era meu maior fã no momento.
— Estou falando sério, Helena, xingar o comissário de bordo não vai aliviar o seu humor — Henry, meu pai, falou revirando os olhos.
— Ele poderia ter derretido com o seu olhar, coitado... — Mamãe deu um leve risinho, adorando ver o quanto papai se esforçava para parecer sério.
— Ele me disse para sentar! E eu só tava guardando o celular! — Não era grande coisa, eu sei, mas odeio quando os adultos falam comigo como se eu não tivesse um cérebro.
— Verdade — Mamãe murmurou, voltando seus olhos verdes para a revista Vogue.
— Miranda, uma ajudinha seria bastante bem-vinda — A indignação na voz dele era visível, mas tão teimoso como eu sei que ele é, não iria dar o braço a torcer.
— Querido, não é grande coisa, você está só entediado — Mamãe fala, ainda com os olhos na revista.
— Ela tem que aprender a respeitar — Papai ajeita os óculos de aro fino — Assim que a gente pousar ela vai pedir desculpas pra ele.
— Sério, pai?! Com que cara eu vou falar com ele? — Minha voz emitiu um som estrangulado de desespero ao final da frase.
— Com a mesma que você usou para ofender ele! Você vai pedir desculpas para ele e ponto. — Meu pai disse, finalizando totalmente o assunto.
Bufei e voltei meu rosto para a janela, as nuvens dançavam sobre as asas do avião, fechei os olhos e suspirei, sem saber o que me esperava em solo nova-iorquino.

As horas passaram rápido e fui acordada com minha mãe puxando levemente meu ombro, e com levemente, quero dizer que era como um leão batendo sua enorme pata em mim, eu poderia dizer que aquela mulher poderia facilmente colocar 10 homens para baixo.
— Aí, mãe! — reclamei, massageando o ombro.
— Mas eu nem puxei com força! — Me olha com desconfiança — Ande, o avião pousou!
Com um bocejo, me levanto e recupero meu iPhone da bolsa, passando quase na frente do comissário... eu disse quase, papai pegou meu braço e sussurrou no meu ouvido:
— Aonde você pensa que esta indo, mocinha? — Pensava que ele já tinha esquecido! — Te esperamos lá fora. 
Caminhei silenciosamente até o comissario, ele cumprimentava as pessoas com um sorriso forçado. Chegando ao final da fila, eu me apressei para ser a última, quando chegou minha vez de passar, eu me virei para ele, com olhos incrivelmente "arrependidos".
— Então, senhor... — olhei para o crachá dele — Mesquita, hum, é espanhol?!
— Brasileiro — respondeu em um revirar de olhos — Posso ajuda-la com alguma coisa? — divagou um pouco olhando para as unhas bem feitas.
— Eu realmente sinto muito por ter lhe chamado de idiota, estou naqueles dias... você compreende, não é mesmo? — Olhei para ele com sinceridade. Em minha defesa, eu me sinto parcialmente culpada por te-lo atacado verbalmente, mas o jeito que olhava para mim desde que pisei naquele avião era nada menos que intimidador e desconfortável. Toda vez que ele passava no corredor da minha poltrona me lançava olhares furtivos, então não foi uma surpresa eu disser "ta olhando oque, idiota!?" quando mais uma vez o peguei me encarando enquanto eu guardava o celular na mala.

Helena - A Filha Do Mar E Da Sabedoria (Reescrevendo)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora