Acampamento meio-sangue

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Helena Ponto de Vista:

Tudo que vi assim que meus olhos se acostumaram com a luz foi verde, verde para todo lado, e depois uma luz branca quente —mais conhecida como sol — iluminar meu rosto.
O cheiro de terra molhada entra pelas minhas narinas, junto com o perfume de rosas margaridas, as preferidas da minha mãe.
— É lindo, não é? — A voz de Lyra me tirou do transe.
Era, no geral, uma floresta normal.
Não sei se o enorme pinheiro que se estendia a nossa frente ou a incrível sensação de segurança que fazia ela diferente.
— Sim — Respondi — Muito bonito — Não sabia realmente do que ela falava.
Vi o Sr.Hastings tirando bolsas pretas do porta malas, foi só aí que consegui reparar em quão musculoso era o meu pseudo professor.
— Ella, temos que ir antes que Quiron corte nossas cabeças pelo atraso — Hayley falou, o nome ainda soa estranho, mesmo na minha mente.
— Quem é Quiron? — Lyra perguntou.
— Um velho amigo — Respondeu Sr.Hastings aparecendo atrás de mim, me fazendo pular.
De repente, talvez um pouco do meu pensamento lógico me fez duvidar das verdadeiras intenções do casal de "professores" com três adolescentes.
Será que tudo o que a gente "viveu" foi o efeito de alguma droga que eles nos deram porque eles são serial killers que vão nos matar e vender nossos órgãos no mercado negro por milhões de dólares?!
Srta. Blanchard revirou os olhos, aparentemente percebendo meu olhar de apreensão, ela disse:
— Este é o acampamento meio sangue, vocês vão estar seguras enquanto estiverem aqui — Sua voz se tornou arrastada — O pinheiro vai nos proteger.
— Como uma árvore vai nos proteger?! — Olhei para ela como se fosse louca.
Seu olhar poderia, facilmente, ter atirado facas em mim. Ela respirou fundo, mas quando ia me responder com algo desagradável, a copa da árvore se remexeu.
— O que foi isso?! — Perguntei, dando dois passos inteligentes longe do Pinheiro.
— Parece que Peleu também não gosta de você — Ela falou rindo, porém senti sua malícia no "também".
— Quem é Peleu?! — Lyra indagou, tentando miseravelmente manter-se quieta.
— A coisa que você nunca vai querer bater de frente — Quem respondeu foi Hayley, com um sorriso divertido brincando nos lábios.
— Vamos pessoal, não quero ter que escutar Quiron rinchar no meu ouvido — Veio Sr.Hastings caminhando com as duas bolsas nas costa e nos guiando à frente do Pinheiro.
Quando o ultrapassamos veio uma sensação estranha no fundo do meu estômago... como se eu estivesse literalmente em outro mundo, até o ar desse lado é diferente.
Olhei para a entrada de madeira, que possuía uma gravura esculpida na madeira com alguma língua estranha... espera... serrei um pouco os olhos, como se de alguma forma, os rabiscos na madeira significassem algo para mim.
— Meio-sangue — Sussurrei o que consegui ler, demorando um tempo para me dar conta da minha própria proeza.
— Sim — Hayley falou comigo pela primeira vez desde que paramos — Sabe o que isso significa?
Tentei procurar na mente algum momento onde aquelas palavras já foram pronunciadas, parecia tudo tão distante...

Agosto de 2009, Helena tinha 7 anos.
Papai! Eu não quero dormir! — Protestou a pequena Helena, com sua coruja de pelúcia abraçada ao peito.
Henry, como de costume, vinha sempre ao quarto de Helena para lhe desejar boa noite depois de sua esposa, porém desta vez, a garotinha estava dando trabalho por causa dos lotes de açúcar que recebera na festa de aniversário de seu colega.
— Mas é hora de princesas estarem em suas camas — Ele respondeu gentilmente.
— Papai! Eu não sou uma princesa! — Helena parecia indignada com a comparação — Eu sou uma guerreira! Lembra, papai?! Eu combato dragões ferozes! — Disse, como se fosse a coisa mais lógica no mundo.
— Oh, sim... qual é o seu super poder, nobre guerreira? — Um sorriso brincava nos lábios do homem enquanto curvava-se.
— Hum... — Ela colocou um pequeno dedo no queixo — Eu não sei... — Disse tristemente.
— Deixe-me ajudá-la
Seu pai foi para uma prateleira azul e tirou de lá um livro, em seguida, sentou-se à beira da cama de sua filha.
— Olhe, esses aqui são Perseu e Hércules! Veja como são bravos! Eles foram guerreiros fortes apesar de serem meio-sangues, isso quer dizer que mesmo você sendo "pela metade", não significa que você deva se limitar em fazer as coisas mal feitas — Ele mostrou dois homens fortes com armaduras e olhos corajosos.
— O que é meio-sangue, papai? — Helena perguntou, testando na língua a nova palavra que aprendera.
— Significa que você tem um papai ou mamãe que são muito, muito fortes, fortes como Deuses.

Helena - A Filha Do Mar E Da Sabedoria (Reescrevendo)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora