Olhos de Anjo

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Helena Ponto de Vista:

Eles não são meus pais... eles não são meus pais...
Foi a primeira coisa que pensei quando abri os olhos, sem realmente perceber o lugar grandioso ao meu redor.
Eu acordei em uma sala cheia de tronos, ela tinha paredes enormes pintadas de ouro, portas enormes... era como estar dentro de um grande templo.
Os detalhes prendiam minha atenção, cada coluna revestida de ouro, cada gravura nas paredes contavam uma historia, era como estar mergulhando em um livro de fantasia.
Eu vi pessoas gigantes com tunicas tecidas de ceda cobrindo seus corpos, sentados em tronos de pedra, porém no meio dos gigantes, havia dois homens e uma mulher que pareciam ser formigas, assim como eu.
O casal parecia discutir com o outro homem, o homem loiro de olhos tempestuosos gritava de raiva e a cada grito um trovão partia o céu, ele gritava com o homem de olhos azuis que parecia cada vez mais confuso a cada explosão. Caminhei um pouco mais em direção ao trio, um estranho nervosismo se formando na boca do estômago, como que se eu esperasse o que estava por vir.
A mulher. Aquela mulher.
Os olhos dela mostravam toda sua dor, uma dor antes vista por mim em um sonho distante, nunca consegui vê-la, sempre houve uma névoa sobre ela, só via seus olhos, mas agora, finalmente consegui ver sua pele porcelana e rosto fino, com maçãs rosadas enfeitando-o, lábios carnudos porém tão firmes quanto sua expressão, tudo nela exalava elegância.
Ela parecia estóica, olhando a discussão entre os homens, mostrando uma aparência dura, mas eu sabia, pelo jeito que agarrava o pequeno pacote em seus braços, que não queria nada mais do que fugir daqui. O pequeno bebê, alheio a discussão, mexeu-se um pouco quando outro trovão gritou no céu, a mulher baixou sua cabeça e a expressão antes dura, ficou incrivelmente suave, principalmente quando balançou a criança perto do peito.
O homem mais velho, nada satisfeito com a ação da mulher, pareceu ficar mais furioso.
O que Hades vocês fizeram?! Vocês dois, irresponsáveis, acabaram de assinar nossa sentença de morte! — Ele gritou e outro trovão estralou.
— Pai, perdoe-me! Eu posso explicar! — A mulher olhou para seu pai com olhos arrependidos.
Irmão, não tenho ideia de onde vem essa criança! Prometo que não fiz nada de errado! Você sabe que não posso ter descendentes do sexo feminino!
Aparentemente, isso é possível sim! Minha filha não mentiria para mim! Fale, Possêidon! Confesse! — Ele ralhou, invadindo o espaço pessoal do outro homem.
Então aparentemente o pai está brigando por que o seu irmão(Possêidon?!) engravidou sua filha que acaba por ser sua sobrinha?! Meu Deus do céu... preciso parar de assistir novelas mexicanas.
Quando não conseguiu nenhuma resposta de Possêidon, ele virou-se para a filha.
— Atena, ainda não quero acreditar que tenha sido capaz disso... Você é mais um lembrete em quem não devo confiar, assim como sua mãe... tão tola por uma prole inútil — Ele cuspia essas palavras com tanto desdém que a mulher trocou sua máscara forte por uma quebrada.
— Era isso que eu era para você, Zeus?! Inútil? Isso era o que meu irmão, que você matou, era pra você?! Não sei como concebi essa criança, não me lembro de ter pensado em Possêidon! Ela apenas cresceu pai, DENTRO de mim! Nunca tinha acontecido isso antes! Se você não sabe, eu tão pouco! — Ela gritou, deixando todos os outros com olhares pasmos.
— Ah! Então quer dizer que você se deitou com ele! Você! Que jurou ser casta! — As orbes de seus olhos quase saltavam para fora, e eu, aqui no meio de tudo, não queria nada mais do que acordar desse sonho com essas pessoas de nomes estranhos.
— Conte-me sobre isso — Pediu uma das mulheres sentadas no trono, seu cabelo cor de fogo descendo em cachos em sua roupa de caça.
Atena, aparentemente agradecida pela pergunta, continuou:
— Faz apenas dois meses que fui ao mundo mortal, ensinar meus alunos em Harvard, quando comecei a me sentir estranha, o corpo humano nunca foi exatamente confortável, comecei a sentir náuseas e claro que eu já sabia o que isso significava, só não achava possível, eu nunca tinha me deitado com ninguém! — Seu rosto não mostrava nenhum sinal de mentira — Depois, percebi que não podia mais me transforma em minha forma divina, pensei que isso fosse obra de um de meus inimigos, eu não tinha ideia do que estava crescendo dentro de mim! Eu só podia imaginar que fosse algo para me matar! — Explicou dando voltas na sala, balançando o bebê ao peito.
— Sabe quem poderia ter feito isso?! — Outra mulher, de cabelos loiros, perguntou.
Sem responder à pergunta, Atena continuou:
— Então tive que ficar na terra, a cada dia minha barriga crescia e eu não sabia o que fazer, tentei ir em uma daquelas clínicas que tiram essas coisas das barrigas das mortais... — Sua voz vacilou.
— Mas não deu certo — Constatou Possêidon.
— Aparentemente não — Disse ela sarcástica — Eu tentei... tentei matar meu corpo mortal, esfaquear minha barriga, mas nada dava certo, ela não parava de crescer... mas depois, quando eu senti o chute no meu quadril — Depois olhou para o bebê com admiração — Eu sabia que tinha de esperar.
— E por que acha que ela é minha filha?! Quem dirá que ela não é um monstro! Uma arma! Você sabe o tanto de inimigos que o Olimpo tem! — Acusou Possêidon, queimando com os olhos.
— Eu fiquei na terra uma semana após ela nascer — Continuou, ignorando Possêidon — Vi que ela era sua filha assim que abriu os olhos... olhos oceânicos que me lembravam de você... — A última parte ela disse com desdém.
— Faça a criança abrir os olhos! — Ordenou Zeus.
A criança, incrivelmente obediente e tomando noção do mandato, abriu seus lindos olhos azuis e soltou uma lamúria pelos lábios.
— Calma, Querida — Murmurou Atena levantando a criança para o rosto — Vai ficar tudo bem — E plantou um beijo no topo de sua cabeça, deixando os outros na sala arfantes com a raríssima demonstração de afeto da mulher.
— Atena... — Sussurrou Possêidon se aproximando da garota — Ela é... — Faltou palavras para descrever o rosto do homem. Espanto, adoração, amor?!
— Eu sei — Falou a mulher, pela primeira vez concordando com o homem.
A garota olhou sonolenta para seu aparente pai, sem noção nenhuma do que estava acontecendo. Ela parecia amar estar nos braços da mulher.
— Se afaste, Possêidon! — Gritou Zeus e depois virou-se para os gigantes sentados nos tronos — Quem aqui concorda que ela é uma ameaça?!
— O que?! — Atena gritou indignada.
Os "Deuses", olhando entre si, levantaram suas mãos, apenas uma não, a mulher loira de túnica rosa.
— Irmão! Podemos pelo menos esperar mais um tempo para investigar isso! — O recém pai saiu em defesa da criança.
— Atena, me dê a criança — O homem loiro pediu.
— Pai, por favor, eu disse a verdade, você não precisa fazer isso — Ela implorou.
— Agora! — Ralhou.
Atena relutante passou a criança para o pai.
É sério?! Ela vai apenas da a filha dela?!
A garotinha olhou para seu avô, que a olhou com uma simpatia que logo desapareceu.
Ele deitou a criança em um suporte de concreto, tirando um raio do céu, a descarga de luz diretamente apontada para o rosto inocente da criança.
Tentei me aproximar, tentei tirá-la dali, eu juro, tentei salvá-la! Mas meus esforços pareceram inúteis.
Quando a cena parecia congelar, uma voz gritou das portas grandes do palácio.
— Pare! Pare! — Uma garotinha de cabelos ruivos interrompeu! — Pai! Não faça isso!
O homem abaixou o raio e olhou para sua outra filha.
— O que deu em você, Hestia?!
— Pai! Essa criança faz parte da profecia! É ela pai! Ela vai nos salvar! — Disse a garotinha correndo em nossa direção.
O homem, reconhecendo as palavras da filha, abaixou a arma e olhou para o bebê, que parecia tão calmo quanto antes.
— Helena! — Falou.
Espera! O que?!

Vi a imagem se afastando de mim, quase como se uma força sobrenatural me arrastasse da sala pela cintura.
A ultima coisa que vi foi o homem abraçando o bebê que antes quase matara, tudo estava ficando muito claro.
— Helena! Helena!
— Hum?
Abri um pouco meus olhos sonolentos e vi a imagem turva da minha professora de história.
Tentando me acostumar com a claridade, consegui sair do carro.
— Chegamos — A voz do Sr.Hastings soou pelos meus ouvidos.
Eu mantive a cabeça baixa, coçando os olhos, parecia que eu tinha dormido por uns mil anos!
— Onde nós estamos? Ainda estamos em New York City? — Pergunto piscando meus olhos freneticamente para acabar com a dormência.
— Não, nós estamos em Long Island e esse é o acampamento meio-sangue — Depois veio a voz da Hayley.
Acampamento... O que!?

Então... foi um longo tempo, não é mesmo?
Espero que tenham gostado, façam suas observações, me deixaria muito contente.❤️
Até a próxima.😊

Helena - A Filha Do Mar E Da Sabedoria (Reescrevendo)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora