Consequências de um pesadelo

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Helena Ponto de Vista:

Minha cabeça estava girando...
Eu olhei ao redor, tudo está tão denso e úmido, a terra está molhada... a terra está molhada?
Me levanto do chão e percebo que estou em uma floresta, é parecida com a do acampamento, com árvores altas e largas, não para ver as folhas, está de noite e a única luz que há é a luz da lua, a neblina cobre o lugar e o frio percorre meu corpo.
De repente um uivo, quase mais alto que o estrondo de um canhão enrrompeu pelo ar gelido direto para os meus timpanos sensíveis.
Engoli em seco, me levanto rapidamente do emaranhado de folhas e sujeira que cobriam meu corpo e comecei a correr, o que quer que fosse aquilo... não viria para me ajudar.
Corri até meus pés começarem a ficar doloridos, parei em um circulo de árvores assustadoramente parecidas com pessoas, elas parecia olhar para mim. A escuridão preencheu o lugar e a luz da lua parecia fraca demais para combater o escuro.
Forcei meus olhos para conseguir enchergar por detrás da neblina que subiu, eu me arrupiei quando senti uma brisa congelante tocar meu rosto e com um quase fechar de olhos, consegui ver uma mancha escura no tamanho de uma pessoa, ela estava entre duas árvores de frente para mim.
— Olá? — Eu perguntei, esperando que aquilo seja uma pessoa e não uma imagem projetada pela minha mente perturbada.
Minhas suspeitas foram confirmadas, a neblina abaixou, pude ver melhor quem estava ali.
Estava vestindo um manto negro que cobria todo o corpo, tudo que se podia ver a além do manto era os longos cabelos negros e cacheados pulando para fora do capuz, aparentemente era uma mulher. O uivo que a algum tempo não ouvi, voltou com mais intensidade, se aproximava de forma rápida que eu também podia ouvir o forte som de passadas, quase em um assustador galope ritmico, se aproximando de mim.
Eu comecei a entrar em pânico, o que era aquilo? Eu tinha que sair desse lugar, mas eu também não podia deixar essa mulher aqui sozinha. Me aproximei dois passos mais perto dela.
— Olá, quem é você? — Ela não respondeu, apenas continuo com a cabeça baixa — você sabe como sair daqui? — Mais uma vez silêncio.
— Senhora, temos que sair daqui — Eu tentei mais uma vez. Foi inútil.
A mulher levantou a cabeça devagar, mas o capuz fez sombra sobre seu rosto. O som que perturbava os meus tímpanos mais parecia uma manada de búfalos  correndo em nossa direção.
—Senhora, nós temos que sair daqui, tem alguma coisa estranha nesse lugar, é perigoso! — Eu tentei mais uma vez.
Mas ela fez o impensável: começou a rir. Sua risada começava a ecoar pela floresta e eu me senti tentada a correr, sua risada aguda com certeza chamaria a atenção da coisa que estava se aproximando.
Depois de longos minutos rindo loucamente, ela levantou o rosto em um movimento dramático e pude ver seu rosto pálido e ossudo vestindo um sorriso sujo.
— A única coisa perigosa aqui sou eu! — ela derrubou o capuz e colocou o manto para trás de suas costas.
Meu coração parou em uma batida.
Seu corpo era totalmente pálido e magro, e sua pele tinha inúmeras tatuagens, seu olhos... Quando fitei seus olhos, juro que vi mil e uma cenas de minha morte, seus olhos eram tão negros quanto a escuridão da noite.
— Quem é você? — Eu rosnei para ela.
Ela me encarou com olhos desdenhosos, quase zombeteiros, como se eu realmente deveria saber quem ela era.
— Oh, querida — Deu uma passada mais perto — Pelo visto vai ser mais fácil do que eu imaginava —A voz dela era oca e profunda, quase como um gemido de dor que sai do fundo da garganta.
Eu me afastava dela no mesmo ritmo que ela se aproximava de mim.
— Quem é você? — Perguntei mais uma vez, com a voz tremendo ligeiramente.
— Olimpianos estúpidos! — Ela gritou — Tão boba e insignificante quanto sua avó... você pode ter o rosto dela, mas nunca poderá ser uma adversaria digna, é quase um insulto ao meu poder mandar uma criança! Os deuses estão apostando a vida de seus filhos te escondendo naquele acampamento grego! Eles estão desperdiçando sua preciosa fé em você! — o rosto dela se contorcia em fúria.
Eu não tenho a menor ideia do que diabos essa doida ta insinuando, mas nunca me senti tão pequena, tão fraca e insignificante, tal como ela dizia.
— O que você quer de mim? — eu gaguejei, engolindo a vontade de chorar.
Antes que eu possa reagir, ela avança como uma sombra e me imprensa no troco de uma árvore aproximando seu rosto perigosamente perto do meu e seus lábios perto do meu ouvido, suas unhas afiadas rasgando a carne do meu pescoço.
— Ora, ora... o que será que eu quero? — seu olhar era desafiador — Eu quero o que Métis me roubou! Eu quero minha vingança contra o Olimpo! Eu sou Nyx aquela que irá te matar — Ela sussurrou no meu ouvido. Em seguida, pude sentir uma mão fria descendo entre os meus seios e pousar no meu coração.
Essa mesma mão cravou as unhas no meu peito e pude sentir sangue quente deslizar pelo meu tórax. Eu gritei, nunca senti uma dor assim, nunca pensei que era humanamente possível sentir isso. Tudo que eu pensava era na dor, me peguei desejando que ela terminasse de afundar suas garras do meu coração e terminasse com isso.
Mas a mão gélida foi rapidamente substituída por uma alívio agudo de libertação, em seguida percebi que o som da manada de búfalos mais parecia manada de elefantes quando chegava cada vez mais e mais perto, senti meus joelhos fraquejarem e despenquei no chão.
Levantei a cabeça e pude perceber que em meio as árvores apareceu um garoto de cabelos negros e olhos verdes que brilhavam na escuridão, ele montava um cão negro do tamanho de uma casa, com olhos vermelhos e brilhantes, muito semelhante ao que me atacou no dia anterior. A última coisa que eu vi antes de adormecer, foi o sorriso gentil enfeitando os lábios do garoto.
Quando abri os olhos, eu não estava mais na floresta, estava no que parecia ser um templo cor de bronze, com galhos de oliva decorando as parede e uma coruja cinza dormindo empoleirada.
Mãe — uma voz masculina me chamou atenção, e não pude acreditar no que meus olhos estavam vendo. Era meu pai! Meu pai muito mais novo e sem barba... mas ainda assim era o papai! E do seu lado, uma versão de minha mãe com cabelo escuro e feições duras. Parecia décadas desde de que eu vira seus rostos.
— Henry — Uma outra mulher falou, Atena — Não pediríamos isso se não fosse extremamente importante, não a ninguém na terra que eu confie mais que você, meu filho, que demonstrou ser digno e leal, posso contar com você com o futuro do Olimpo? — Ela o olhou com olhos firmes.
Meu pai encarou o bebê nos braços de Poseidon, o deus estava ninando a pequena criança.
— A senhora pode contar comigo, mas eu sou casado com Miranda e se ela não concordar, sinto muito, mas a resposta será não — Meu pai falou pegando a mão de minha mãe.
O rosto de Atena se contorceu de raiva, mas depois de uma reflexão ele acabou relaxando.
— Eu sei que nunca fui de acordo com o relacionamento de vocês — Atena começou — E eu sinceramente não intendo como meu filho pode gostar de uma filha de Ares...
— Mãe... — Papai avisou.
— Mas eu apreciaria muito que você pudesse aceitar nosso presente — A deusa terminou se virando para Poseidon com o bebê nos braços.
O rosto da minha mãe, ainda duro, encarou a deusa com um senho franzido, provavelmente calculando se podia arrancar o pescoço de Atena.
Atena vendo o fogo nos olhos da minha mãe, se virou para Poseidon e pediu o bebê com os braços.
Poseidon relutantemente "me" depositou nos braços dela.
— O nome dela é Helena — Atena passou o bebê para os braços da minha mãe, que foi pega de surpresa. Um segundo de silêncio e depois...
— Ela é linda — A carranca no rosto da minha mãe desapareceu sendo substituído por um sorriso aguado.
— Cuidaremos bem dela, mãe — Meu pai disse agora com os olhos no bebê — Com nossas vidas.

Eu acordei em um salto, com olhos arregalados e o peito arfante. "Foi apenas um sonho, respiração, Helena, não se esqueça de respirar", digo a mim mesma.
Eu olho ao redor do quarto e percebo uma luz pálida entrando pela janela, olho para o lado e vejo o peito de Lyra subir e descer em um sono profundo.
Me lembrando do sonho que acabei de ter, levei minha mão rapidamente ao coração e felizmente percebi que não havia sangue ou marcas de unha.
Me sentei mais contra a cabeceira da cama e deixei minha mente voar... Tenho quase certeza de que lembrei do dia em que Atena me entregou aos meus pais, não posso calar o sentimento de pesar que senti ao ver o rosto severo da deusa que me deu à luz, eu podia ver por trás daqueles olhos cinzas.
E depois há Nyx, a deusa da noite (como meu pai me informara uma vez), se o que meu sonho disse foi real e uma deusa primordial estiver mesmo querendo me ver morta... não a muito mais que eu possa fazer do que sentar e torcer pra que seja uma morte rápida.
— Helena? — A voz sonolenta de Lyra me desperta.
— To aqui — Digo com o tom suave.
— Já é de manhã? — Ela pergunta se sentando na cama e esfregando os olhos.
Eu olho para o ponteiro do relógio na parede.
— 7 horas, moça, já tá na hora da gente levantar! — Me levanto da cama.
— Ah não, Lena... — Ela geme e afunda na cama mais uma vez.
— Não, não, não, você não vai dormir de novo! — Eu vou pro lado da cama dela e tiro suas cobertas — Lembra do que a Ella disse antes da gente dormir?! O café da manhã é as 8h! Então trate de tirar essa bunda preguiçosa da cama! Vamos!
— Você parece minha mãe — Ela resmunga calçando as chinelas e indo para o banheiro.
— E você parece ter cinco anos! Toma banho rápido! — Aviso dando um tapa leve em seu traseiro.
— To indo, já to indo! — Diz mal-humorada.

30 minutos depois nós descemos as escadas juntas para a sala de estar da casa grande, que estava aparentemente deserta, tudo que se podia ouvir eram algumas vozes vindo do escritório de Quiron.
— Quem será? — Lyra perguntou. As vozes estavam ficando mais altas a cada momento.
— É feio bisbilhotar, vamos procurar o Ambrel ou a Ella — Digo puxando ela para longe do lado do escritório.
"ATENA FEZ O QUE?!" Uma voz feminina gritou fazendo ecos pela casa.
— Acho que estão falando de você — Lyra sussurrou.
Lyra e eu andamos lentamente até a porta do escritório que estava entreaberta e deu para ouvir a menina gritar mais uma vez: "ME SOLTA, PERCY! COMO ELA PÔDE?!"
Eu empurrei a porta devagar e a cena com a qual me deparei era no máximo, a coisa mais cômica que eu já vi. Havia uma menina loira de olhos cinzas incrivelmente zangada sendo segurada por um garoto alto de pele bronzeada e olhos verdes, estranhamente familiar ao garoto nos meus sonhos. Em seguida, notei a presença de um ciclope entre um Quiron atônito e a garota que se debatia nos braços do menino.
Eu limpei a garganta e todos os quatro par de olhos voaram para mim e depois paraLyra.
A menina se livrou do aperto em seus braços e me encarou com os senho franzido, Quiron aproveitou a trégua e deu a volta em sua mesa para chegar até mim.
— Nós acordamos vocês?! Desculpem se fomos muito altos é que as coisas acabaram saindo um pouco de controle — Ele deu um olhar inquisitivo a menina — Como dormiram?
— Bem — Eu falo sem convicção. Meus olhos estavam grudados nos três adolecentes, eles pareciam ser mais velhos que eu, talvez dois ou três anos — Quem são eles? — Eu pergunto.
Os três se entreolham e Quiron fica atrás deles colocando as mãos nos ombros do menino de cabelos negros.
— Eu sei que é muito para assimilar mas estes são Percy, Tyson e Annabeth — Meu coração quase parou com as próximas palavras  — Seus irmãos.

Então meu povo! O que acharam?! Deixem seus comentários! Isso me incentiva a continuar!❤️

Helena - A Filha Do Mar E Da Sabedoria (Reescrevendo)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora