Um pequeno acidente

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Helena Ponto de Vista

A voz, a música, a mulher... eu quero ver seu rosto, por que não consigo ver seu rosto?!
Só mais um pouco, um pouco mais e...
Bip, bip, bip!
O som do despertador me acordou em um solavanco.
De novo esse sonho, é sempre a mesma coisa, a
mulher de voz bonita e o bebê, não sei o que pode significar, a voz parece familiar para mim, mas não tenho lembranças de tê-la ouvido em lugar nenhum, sei que é esquisito ter sonhos como este, mas não é como se eu tivesse um botão de liga e desliga, mas o mais frustrante é que eu não consigo ver o rosto dela! É horrível ouvir uma voz e não dar um rosto para ela.
— Helena, vamos, to esperando lá em baixo! — A voz do meu pai falou por de trás da porta.
— To descendo!
Me levanto e percebo que ainda estou com o celular na mão, mas por q... Há! Hayley!
Me lembro de ter adormecido esperando outra chamada, já que eu estava cansada de tanto ligar de volta... isso explica eu ter dormido com a roupa de ontem e sem o cobertor me cobrindo.
Claro que pode ter sido engano, isso acontece varias vezes... mas por que a pessoa sustentaria uma ligação mesmo não reconhecendo a voz da outra?! Ou pode ter sido apenas uma paranóia, finalmente estou enlouquecendo, ninguém consegue manter a mente sã depois de viajar metade do país e sair deles com alguns traumas.
E se fosse verdade, por que Hayley me ligaria? Por que ela, justo ela, ligaria para a garota que a abandonou?!
— Já se vestiu?! — Veio a voz do meu pai de novo.
Revirei os olhos e fui direto para o closet.

Eu corri pelos corredores como uma maratonista! Eu tava 15 minutos atrasada! Logo, logo vou ser reconhecida com mania de atraso!
Fiquei de frente para a porta, tomando coragem para aguentar o olhar do professor de filosofia, que por acaso eu ainda nem conhecia.
Suspirei e abri.
A sala instantaneamente olhou para mim e tive que segurar a língua para não fazer um comentário sarcástico.
— Professor, sinto muito, eu realmente não queria... — Eu comecei, mas assim que olhei o rosto dele, as palavras fugiram da minha boca... Era o comissário de bordo fantasma.
Ele realmente não mudou nada, mas vestia um elegante terno azul escuro.
— Dhiego Mesquita?! — Perguntei... mais pra mim do que para ele.
— Com licença, Srta? Eu sou o senhor Hastings — Falou com convicção, mas eu sei que ele tá mentindo, alguma coisa por de trás daqueles olhos me diz isso — E você deve ser a Srta. Fitch! Srta. Blanchard me falou sobre sua mania de atraso, agora encontre um lugar.
Rapidamente fui me sentar, eu realmente não acreditava no que via, era ele sim, é ele! Mas desta vez, ele parece mais como um "Deus do sexo", como disse meu pai. Todas as garotas da sala estão olhando para ele como se fosse um pedaço de carne... até alguns meninos também!
— Hey — Ouvi um sussurro atrás de mim, me virei dando de cara com Lyra.
— Hey — Eu sorri — Tenho que te contar um coisa.
Minha mãe disse para eu dar uma chance para ela... então vou tentar dar, vai ver ela tem um bom conselho sobre Hayley.
— O que? Serio! O que aconteceu com "Você não quer ser minha amiga"?! — Ela perguntou desconfiada, mais ainda parecendo uma garotinha no natal.
— Eu posso voltar atrás se quiser...
— Não, não, não! Sou toda a ouvidos! — Falou rapidamente.
— Será que a Srta. Fitch e a Srta. Clark querem compartilhar o que tão animadamente conversam?! — A voz do Sr. Hastings chamou nossa atenção, rapidamente me viro para frente.
Ele entendeu nosso silêncio e voltou a aula.
— Ele também é novato?! — Sussurrei para Lyra.
— Não... ninguém suporta ele, pense em um homem azedo — Fala revirando os olhos e depois sorri maliciosamente — Mas pelo menos é bonito.
Não tive tempo de processar a informação, o professor "Hastings" começou a falar novamente.
— Hoje nós falaremos sobre o cérebro... o nosso cérebro é um dos órgãos mais misteriosos do corpo, ele pode armazenar uma cadeia enormes de dados, onde tudo que nós vivemos é mantido, isso se chama lembranças e ele as preserva, ou até mesmo torna essas lembranças sonhos distantes que sua mente cria baseado nas coisas que predominam seu pensamento... o que todo mundo chama de déjà vu.
Enquanto o professor "Hastings" falava sobre o cérebro, minha mente só processou a palavra "sonho", sonhos que podem ser lembranças... tudo me lembrou a mulher que encontro todas as vezes que fecho os olhos, é como se eu já tivesse vivido aquilo, como se eu estivesse dentro.
— Professor, e se por acaso, uma pessoa sonhar com o sonho toda noite? — Eu perguntei, interrompendo-o num discurso sobre premissas.
— Já passamos desse tópico a uns 20 minutos, você está mesmo prestando atenção na aula, Srta?! — A voz sarcástica dele me enviou arrepios na espinha.
— Sim, senhor, mas...
— Respondendo sua pergunta, Fitch — Me interrompeu — Esses sonhos são interpretados de várias maneiras, mas geralmente, são momentos que marcaram sua vida, ou uma coisa que a pessoa deseje muito... até mesmo uma lembrança.
Uma sensação de alívio e medo tomou conta de mim... felizmente meu sonho maluco não se encaixava nos requisitos... mas ainda poderia ser uma lembrança... eu certamente não era a mulher do sonho, então só aconteceria de eu ser o bebê, mais eu não me lembraria de coisas como bebê, e se lembrasse, onde estariam minha mãe e meu pai? Quem seria aquela mulher?
Eu estava no meu mundo a tanto tempo que nem reparei que a aula tinha acabado.
— Até a próxima aula, Miss Dream! — Falou Sr. Hastings na soleira da porta.

Helena - A Filha Do Mar E Da Sabedoria (Reescrevendo)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora