Garota da Mamãe

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O barulho dos carros estava alto, porém não tão alto quanto o grito de felicidade das crianças, a buzina do palhaço ou as pipocas estralando no carrinho.
Tennessee era um bom lugar para se viver, principalmente para um casal com uma garotinha. Era tranquilo e tinha cerca de piquete brancas protegendo jardins floridos. Era quase tolo pensar em um lugar tão... "bom" como esse. Mas para Henry e Miranda Fitch, ex-campistas de um acampamento para semi-deuses, filhos de Atena e Ares... o Tennessee era uma droga.
— Poderíamos ter ido para Connecticut, tem cidades pequenas, sem barulho e poucos habitantes — Miranda fala com impaciência.
— Prometemos que daríamos a Helena um pouco de normalidade, isso significa socializar, Miranda — Henry tenta acalmar os ânimos da esposa.
— Sim, mas eu não concordei em termos que ir a esses "aniversários" — A mulher olha com nojo para o chapéu de aniversário em sua mão — Isso é tão... brega.
— Desde quando você virou uma filha de Afrodite? — Henry provocou.
— Oh, então partimos para ofensas? — A loira serra os olhos para o homem.
— Olha, querida, eu sei que não estamos acostumados a isso, mas olhe para ela — Ele aponta para a menina de nove meses sentada no colo da Sra. Duphy (a idosa praticamente implorou para segurar o bebê e contra todos os protestos de Henry, Miranda silenciosamente o convenceu que deixar Helena ser segurada pela velhinha simpática era menos suspeito) a poucos metros de distância — Ela precisa socializar, Miranda.
— Ela é um bebê, Henry, não precisa socializar — A mulher revira os olhos.
— Tudo bem, NÓS precisamos socializar — Ele aponta.
— Mas em aniversário de criança, Henry? — Miranda faz uma careta quando uma das crianças quase tropeça em cima dela — Eles são pequenos e mordem!
— Devo lembra-la de que temos uma criança em casa? — O homem coloca as mãos nos quadris.
— É diferente — Ela sabia que não havia diferença nenhuma.
Além de terem mudado totalmente seu estilo de vida, trocando treinos e espadas por comida caseira e fraldas, Henry e Miranda também tiveram que mudar suas aparências. O homem que antes possuía uma barba cheia e loira, teve que começar a aparar ela constantemente, sem contar o uso adicional de óculos de grau. Miranda, por outro lado, teve que se livrar de suas madeixas escuras e substituí-las por uma cor loira, e trocar seus coletes de couro por blusas xadrez. Porém houve apenas uma coisa que a filha de Ares não conseguia mudar... sua personalidade.
A verdade é que Miranda não era muito próxima do bebê ou de crianças em geral, ela nunca gostou muito delas. Portanto, aceitar a recém-nascida filha de dois deuses parecia um absurdo para ela até Henry aparecer com a garota nos braços... ela não soube dizer não a ele... e também nunca iria recusar uma missão. Manter a menina viva era sua missão. E ela sentia que estava falhando cada dia mais... só se passaram nove messes e ela sabia que nunca foi feita para a maternidade.
Miranda Wilson Fitch nunca se considerou uma falha, até olhar para a menina de olhos azuis profundos. E ela tinha razões muito boas para pensar isso:
1- Ela aparentemente não conseguia segurar o bebê direito pois Helena sempre preferia estar nos braços de Henry.
2- Quando Helena chorava, era só Henry quem conseguia acalma-la.
3- Se Miranda tentava alimenta-la, a bebê simplesmente não aceitava a comida.
4- A menina só dormia quando seu marido cantava para ela, e particularmente... Henry não era bem um cantor.
5- Todas as vezes em que estavam sozinha em casa enquanto Henry estava no trabalho, a menininha se mantia quieta brincando com seus brinquedos e praticamente ignorava a mulher loira.
Nessa altura do campeonato, Miranda estava subindo pelas paredes com seu novo estilo de vida. Ela é uma filha de Ares, não uma dona de casa.
— E você queria que eu dissesse o que? — Henry fala despertando Miranda de seus pensamentos — É o aniversário da filha do meu chefe.
— Você poderia ter dito não — A esposa diz simplesmente — Ela é uma garota de cinco anos, vai superar a ausência de dois estranhos que ela nunca viu na vida.
— Esse não é o ponto, Miranda — A voz seria do marido faz com que a loira trave a mandíbula — Se quisermos nos adaptar a uma vida normal, precisamos ter contato com as pessoas, aqui não é como de onde viemos, onde todo mundo só precisava se aturar e tentar não se matar.
Henry não entendia o comportamento de sua esposa, ela estava agindo assim desde que ele voltou a trabalhar a apenas um mês atrás, ela sempre fora compreensiva sobre toda essa situação. Apesar de todo seu intelecto, o filho de Atena não conseguia entender as emoções e ações de sua esposa durante esse tempo e Miranda nunca fora muito boa em demonstrar seus sentimentos.
Henry pega a esposa gentilmente pelo braço e se afasta do conjunto de pais ao seu redor, antes verificando Helena sentada alegremente no colo da Sra. Duphy assistindo as marionetes.
— Para onde você está indo? — Pergunta a mulher confusa.
Quando estavam a uma distância segura de ouvidos curiosos, ele fala:
— O que está acontecendo com você, Miranda? — A franqueza de Henry foi como um tapa na cara da ex-campista.
— Do que você está falando? Não tem nada de errado comigo! — Miranda imediatamente entra na defensiva.
— Você sabe que eu sei quando você está mentindo, se você falar logo para mim, eu poderei te ajudar e...
— Você não pode me ajudar, Henry — A mulher ri sarcástica e olha para o lado — Não há mais como sair disso.
— Como assim? — O marido franze as sobrancelhas mas logo um choque de realização atinge suas feições jovens — Helena? Você está falando de Helena?
— Ela me odeia, Henry — Miranda o encara — Não importa o que eu faça, essa criança definitivamente me detesta! O que não é uma surpresa, eu sempre tive esse efeito nelas.
— Helena não te odeia — O homem não conseguia entender o quão irracional sua esposa estava sendo.
— Você não enxerga, não é? Ela nunca fica perto de mim e toda vez ela corre para você — Fala frustrada.
— Como você sabe disso? Você nunca segurou ela por mais de cinco minutos, Miranda — As vagas memórias que ele tentou ignorar sobre a relutância de sua esposa ao redor do bebê começam a surgir lentamente. Henry pensava que era apenas uma questão de adaptação.
— Você não entende — O último nervo de Miranda estava quase indo embora — Eu não quero...
— O que você não quer, Miranda? — Ele a interrompe.
Miranda suspira e as palavras ficam pressas na garganta. Ela sabia que esse não era o local, nem a hora para falar sobre algo assim.
— Esqueça — A mulher faz menção de sair mas seu marido segura seu braço.
— Não, continue. Você não queria isso, não é mesmo? — O silêncio de Miranda foi a resposta — Eu pensei que nós estávamos juntos nessa.
— Mas estamos — Ela tenta segurar o braço do marido mas ele se afasta — Henry, me ouça, eu queria muito que isso fosse fácil e vou fazer o máximo que posso mas... essa não é a maneira que eu imaginava viver minha vida aos 23.
Henry morde o lábio com força.
— Então porque você não falou isso antes de pegarmos uma criança para criar? — Henry aponta o dedo para o chão e da as costas para a esposa — Como eu fui idiota.
— Eu não ia te deixar sozinho nisso e eu não estou desistindo agora, você que perguntou o que eu tinha e eu te disse! — Miranda tenta abaixar a voz quando percebe algumas pessoas olharem em sua direção — Além disse, temos uma missão e a menina...
— Ela tem um nome, e é Helena — Ele encara a esposa com raiva — Você continua vendo isso como uma missão?
— Você não? — A mulher pergunta confusa.
— Meu Zeus, Miranda! Uma missão que durará até quando? 18 anos quando ela for para a faculdade ou 15 anos quando eles quiserem ela de volta?! — Há uma pontada de medo na voz do homem — Ela não é uma missão em um de nossos treinamentos, não somos os heróis aqui, temos que agir como os pais dela para isso dar certo.
— Eu não me sinto assim — Miranda confessa e fixa o olhar no espaço atrás de seu marido.
— Então isso definitivamente não vai dar certo — Henry abaixa a cabeça — Você pode sair se quiser, mas...
— Não — A mulher suspira e seu coração bate forte no peito.
— Mas você acabou de dizer...
— O bebê sumiu — Diz a loira em completo horror.
— O que? — Henry se vida para o lugar onde sua esposa estava olhando.
Era verdade, a cadeira onde a Sra. Duphy sentou com o bebê em seus braços estava vazia, o show de marionetes ainda não tinha acabado.
— Merda — Pragueja Miranda quando ela corre pelo jardim da residência dos Gilbert.
— Você viu para onde elas foram? — Pergunta Henry, passando seus olhos cinza na multidão de crianças ao redor do lugar.
— Não — Miranda sentia seu coração bater na garganta.
— Elas não devem ter ido longe, elas estavam ali a apenas um minuto e depois — O homem passa as mãos pelos cabelos.
— Você procura de um lado do jardim e eu do outro — Fala Miranda.
— Aonde você vai?!
A loira não responde, apenas corre em direção ao casal sentado na mesa perto do lugar onde o bebê desaparecera.
— Oi! Bom dia! — Miranda tenta esconder o desespero em sua voz — Vocês viram uma velhinha com o bebê sentado naquela cadeira?
— Oh, claro! — Respondeu a mulher com entusiasmo — Sua filha é tão linda...
— Ela é — Responde Miranda rapidamente — Vocês viram para onde elas foram?
— A Sra. Duphy disse que ia trocar a bebê quando passou pela gente — Fala o moreno sentado ao lado da mulher — Por quê?
— Obrigada! — A filha de Ares agradece e corre para dentro da casa, com o canto do olho ela percebeu Henry atrás dela.
— Você encontrou alguma coisa? — Henry pergunta assim que alcança sua esposa.
— Disseram que ela foi trocar a bebê — Miranda tenta encontrar caminho entre os convidados.
— Você deu a bolsa de fraldas para ela?
— Não.
Um fleche de conhecimento brilha da íris cinza do homem.
— Eles nos acharam — Ele constata.
— Sim, e temos que ser rápidos! — A mulher encara o corredor da casa — Onde Hades fica o banheiro dessa casa?!
— Por ali, vi umas mães levando os filhos para aquela porta durante a festa! — Henry aponta para a porta branca no fim do corredor.
Miranda abre a porta de uma vez, mas encontrou um banheiro completamente vazio.
— Droga! Ela não está aqui! — Ela passa as mãos pelo rosto em preocupação.
— Não, olhe! Esse é o cobertor de Helena! — Henry pega o pano azul do chão e depois se vira para a única saída do banheiro — A janela está aberta.
Miranda não perde tempo e se lança para o parapeito da janela, quando ela olha para a direta ela vê as roupas da "velhinha simpática" fazendo uma trilha do chão.
— Desgraçada — Ela pula a janela e pega uma das roupas da mulher a levando para o nariz — Ela ainda está aqui, sinto o cheiro imundo do mundo inferior.
— Então da tempo de pega-la! — De dentro do bolso ele tira um isqueiro, assim que o apertou, o objeto tomou forma de uma espada cinza brilhante com a lâmina preta feito carvão — Vamos!
Os dois correm na direção onde o cheiro de enxofre, odor característico de monstros do submundo quando estão em sua forma natural.
— Está vendo o forma da terra? — Grita Miranda para Henry enquanto os dois correm.
No chão de terra, pois agora já se encontravam longe da rua domiciliar e a caminho de uma pequena floresta que se encontrava ao redor das casas, haviam desenhados dois rastros longos pelo chão em direção a mata, como se duas cobras enormes estivessem se arrastado.
— Uma Dracaena — Afirma Henry empunhando mais forte sua espada.
— Foi o que eu pensei — Miranda fala sem fôlego quando os dois param na estrada da floresta — Vamos matar a desgraçada.
As Dracaenas, criaturas híbridas com tronco de mulher e duas caldas de serpente, que vivem tanto no mundo inferior como na superfície, não eram desconhecidas para os dois semi-deuses, afinal, um monte delas vivia no norte da floresta do acampamento meio-sangue.
— Ouviu isso? — Sussurra Henry ao notar galhos se mexendo conforme iam entrando dentro da mata.
— Sim — A mulher se baixa e tira de dentro de suas botas de cano longo, duas adagas afiadas.
— Você guarda isso nas botas? — O historiador caminha pra direita de onde veio o som.
— São muito grandes pra guardar dentro do sutiã — Ela reponde — Espere, olhe isso!
Miranda vai até uma árvore e toca no material verde e viscoso pregado contra ela.
— Sangue de Dracaena, isso quer dizer que ela está ferida — Henry franze as sobrancelhas.
— Fique de olhos atentos, querido — Há um leve tom de diversão na voz da loira — Faz muito tempo que não matamos alguma coisa.
Como se estivesse pressentindo o ataque, Miranda da dois passos para trás quando sente algo cortar o ar bem perto de seu rosto, uma flecha acerta a árvore atrás dos semi-deuses.
— ALI! — Grita Henry.
Miranda pega uma adaga e joga na direção de onde a flecha veio.
Um grito percorre a floresta densa e Henry aproveita para usar sua espada. Ele corre e usa seu peso contra o tronco de uma árvore, se lançando no ar e cortando uma cauda verde e escamosa, característica que complementa a fisionomia de uma Dracaena.
— Seussss mortairrrssss imundossss... — A voz do monstro sibila palavras humanas em sua língua de cobra.
Agora dava para ver ela completamente, no topo de uma árvore grande e grossa, havia uma mulher metade serpente, invés de dois pés, uma das caldas se prendem ao tronco da árvore, já que a outra foi decepada pela espada de Henry. Em um dos braços de mulher, um bebê chora e soluça para ser segurado por algo além daquele aperto áspero.
— Meio mortais, monstro — Henry sacode a espada tirando um pouco do sangue da serpente híbrida — Dê-nos a criança.
— Criançaaaa...? Isso aqui? — A serpente olha para o bebê chorando e estende sua língua para a criança, lambendo sua testa sedosa — Tem gosto muito bommm... gosto doce, raro... não mortal.
— Tira a porra das mãos dela — Grita Miranda, seu coração corre a um milhão.
Ela não sabia de onde vinha essa raiva, era uma raiva totalmente diferente da raiva que ela convive diariamente (boa parte por ser filha de Ares). É como se puxassem uma força negra de dentro de seu âmago e torcessem seu estômago, até que tudo nela seja consumido pela raiva cruel e cegante.
Miranda não espera o mostro responder, ela apenas acena para Henry e ambos, como o casal que haviam se esquecido de ser nos últimos meses, correram em direção a Dracanea. Esta, por sua vez, empunha a espada com a mão livre e crava os dedos na pele da criança com a outra.
Os três se encararam, dois pares de olhos meio humanos contra os olhos negros do réptil.
Em uma questão de segundos, os dois semi-deuses correram em uma velocidade anormal contra o monstro sedento por sangue.
A lâmina da espada da Dracanea tece seu caminho para o peito de Henry, totalmente alheia a adaga de Miranda, que desliza pela barriga do réptil e com um único golpe, rasga o estômago em dois antes que Henry se fira.
O bebê carregado pelos braços do monstro desaba enquanto a Dracaena cai. Miranda é rápida em extender seu corpo para abraçar a criança chorando.
—Miranda! Você está bem? — Henry pergunta correndo em direção a sua esposa.
— Shhh... calma, querida — Miranda ignora o marido e se prende ao bebê, era como se seu coração tivesse voltado para o peito — Estou aqui... você não precisa ter medo. Eu nunca mais vou deixar ninguém encostar um dedo em você.
Henry para arfante, totalmente deslumbrado pela visão de sua parceira segurando a criança nos braços como se fosse seu bem mais precioso, se agarrando a ela como se sua vida dependesse disso. Ele se agacha no chão e passa um braço nos ombros da esposa.
— Ma... ma — A menina de nove messes balbucia.
— O que? — Henry arregala os olhos.
Miranda congela assim que ouve a criança, ela tenta se afastar um pouco para encara-lá, mas a menininha abraçou Miranda ainda mais forte.
— Mama — Helena funga, depois de mais calma.
— Ela apenas disse "mama"?! — Henry sorri — Miranda, Helena disse sua primeira palavra! Você é uma menina tão inteligente, não é mesmo?! Sim, você é! Miranda... você está bem?
Mas sua esposa ainda esta congelada, o coração agora derretido numa poça de afeição nunca sentida por ela antes. Silenciosamente, uma lágrima rara desce pelo rosto da filha de Ares.
O bebê se afasta e encara sua mãe, sim, sua mãe, aquela mulher loira era sua mãe.
— Mama — Repete em sua vozinha extremamente infantil.
— Sim — Miranda ri em um sorriso aguado — É a mamãe, querida.
Ela beija o rosto do bebê que acaba esquecendo o que ocorrera poucos minutos atrás.
A loira se vira para seu marido, seus olhos cheios de culpa.
— Você não precisa dizer nada, amor — Ele acaricia seu cabelo.
— Sim, Eu tenho. Eu sinto muito por tudo que disse, eu estava completamente errada — Miranda fala humildemente — Eu não estava me esforçando, é tudo diferente e você sabe que não gosto muito de mudanças, não fui exatamente a melhor parceira para você ou uma... mãe para ela.
— Querida, você não precisa dizer nada — Ele repete e se inclina para segurar o queixo dela —É tudo novo para todos nós, vamos cometer erros e tentar acertar depois. Você é a mãe dela, Miranda. Ela sabe disso e agora você sabe disso também.
Sem esperar um segundo, a mulher se inclina para beijar o marido.
Era uma visão bonita para qualquer espectador que se aventurasse dentro da floresta, um casal aleatório se beijando com um bebê entre eles, seria bonita se não fosse pelo monstro mitológico morto ao lado deles.
Os dois se separaram e Henry ajuda Miranda a se levantar, a essa altura, Helena já estava sonolenta agarrada ao ombro da mãe.
Enquanto saiam da floresta, o homem se vira para a esposa e fala:
— Eu deveria ter gravado — Ele diz casualmente.
— O que? — Pergunta Miranda esfregando suavemente as costas de Helena.
— Você se desculpando pela primeira vez.
A resposta da esposa foi um soco doloroso no braço de Henry com sua mão livre.
— Aí! Você não pode me bater enquanto está segurando nosso bebê! — Henry reclama esfregando o braço.
— Imagina o que eu poderia fazer sem bebê nos braços, então não banque mais o esperto! — Os dois riem — Eu gostei do som disso... "nosso bebê".
Ela inclina a cabeça e cheira o cabelo macio da criança.
— Eu também — Ele beija a testa de Miranda — Então, aparentemente o Tennessee não é mais pra a gente... qual é o nosso próximo destino?
— O que você acha do Colorado? — Ela pergunta.
— O estado das montanhas? Hummm parece divertido — Henry comenta admirando uma das últimas vistas de sua estadia neste estado.
— Aonde quer que a gente vá, sempre haverá perigo para ela — A mulher encara os olhos multicor da menina — Pensávamos que estávamos a salvo aqui e com um mínimo descuido, quase a perdemos... não podemos confiar em mais ninguém.
— Eu sei — O historiador concorda — Vamos planejar algo logo, agora, precisamos empacotar as coisas o mais rápido possível. Se um a encontrou, outros virão em breve, ainda mais se descobrirem o que realmente ela é.
— Sim, temos que ser rápidos, você precisa ligar logo para o seu chefe e pedir transferência — Já dava para ouvir os carros passeando pelo bairro.
— Vou fazer isso assim que eu encontrar meu telefone — Henry coça a cabeça tentando pensar onde seu celular deve ter caído durante a correria.
— E Henry...
— Sim, amor?
— Sem mais aniversários infantis.

Dias atuais

Espera, espera, espera! Deixa ver se eu entendi! Você e a Annabeth se acertaram?
A voz de Lyra enche o chalé de Hermes, mas ninguém realmente nota, pois todo o barulho predominante na pequena acomodação sobrepôs a interrogação.
Logo após me despedir de Annabeth, fui o mais depressa possível tomar um banho, eu estava fedendo a esterco! E assim que saio do banho, vejo Lyra sentada inquieta na minha cama.
Aparentemente sim. Até que ela não é tão ruim... e teve alguns motivos para me tratar daquele jeito — Eu seco o cabelo molhado.
O que? Quem é você e o que fez com Helena Fitch?! Não foi você que até algumas horas atrás chamou ela de tirana? — Lyra pergunta cética.
Eu sei exatamente o que eu falei, tá bom? — Reviro os olhos — Mas ela me mostrou uma parte que eu não vi...
— Que parte é essa?
— De uma menina que só quer impressionar a mãe — O rosto de Lyra desmancha um pouco — O comportamento anterior de Annabeth era apenas raiva de sua mãe.
— O que? E o que isso tem haver com você? — Lyra franze as sobrancelhas.
— Você sabia que Percy e Annabeth namoram?
— Eu ouvi falar mais não sabia se era verdade, não gosto de ficar perguntando nada ao pessoal de Apolo, eles podem até rivalizar com as filhas de Afrodite quando se fala em fofoca — A ruiva revira os olhos.
— Bem, Atena não gostou de jeito nenhum quando soube do relacionamento deles — Eu conto, me inclinando um pouco mais para perto dela.
— Ué, porque?
— Aparentemente, Atena odiou saber que a filha dela estava namorando um filho de Poseidon e começou a atrapalhar o relacionamento dos dois — Olho de um lado para o outro para ver se alguém estava prestando atenção.
— Espera, espera! Ela ficou brava com a filha dela por namorar o filho do homem com quem ela teve um caso?! — O queixo de Lyra caiu.
— Foi isso que Annabeth me contou.
— Que hipócrita! — Lyra bate com a mão na coxa — E depois surge você, a filha dela com Poseidon!
— Exatamente — Concordo.
— Não é de admirar que ela tenha ficado com raiva — A ruiva balança a cabeça — Mas ela ainda não deveria ter descontado isso em você.
— Eu sei, e ela sabe também. Ela até me pediu desculpas! —  Um sorriso percorre meus lábios quando lembro do momento.
— E o que aconteceu para ela reconhecer o que fez? — Lyra pergunta ainda curiosa.
— Eu disse para ela o óbvio, que eu não sou filha de Atena e Poseidon — Pego uma escova e começo a pentear meu cabelo molhado.
— Como assim? Não entendi.
— Ela está com raiva da mãe dela, mas eu não sou filha da mãe dela, para mim sangue não significa muita coisa, é apenas genética. Ela não tem que se preocupar comigo, porque eu não sou uma extensão de Atena — Termino.
— Meio que faz sentido — Ela concorda — Então vocês são irmãs e...
— Não, não foi isso que eu disse — Nego com a cabeça — Acho que entramos em algum tipo de acordo, eu esclareci meu ponto para ela e agora ela vai me tratar como trata qualquer outro campista no acampamento, isso não significa que somos irmãs.
— Mas e...
Antes que Lyra complete o que quer que ela fosse falar, Connor empurra a cortina do meu pequeno beliche e fala em um tom impaciente:
— Você tem visita — E depois se vira para sair.
— Espera, quem é? — A única pessoa que provavelmente iria me visitar está bem do meu lado.
— Eu posso ser filho de Hermes, mas não sou garoto de recados não — Ele cruza os braços e faz bico.
— Dionísio confiscou aquelas engenhocas que você e Travis estavam brincado hoje mais cedo, não é?! — Reviro os olhos. Só isso explicaria o seu mau humor.
— Sim! Aquele velho rabugento! Um dia eu pego ele e...
— Connor, quem quer falar comigo? — Interrompo antes que ele comece a falar seus passos para infernizar a vida do Deus do vinho.
— Ah, é o...
— Oi, Helena — Uma voz masculina surge de trás de Connor. É Percy.
— É o Sardinha — Fala o menino se referindo a Percy — Vou indo, eu tenho um Deus para me vingar.
Assim que Connor sai de vista, Lyra começa a falar.
— Vou indo também, Lena... te vejo na caça-bandeiras — E então sai pelo mesmo caminho que o filho de Hermes.
Percy ficou mexendo com os pés desconfortavelmente, tão desconfortável quanto eu por dentro.
— Então, posso ajudá-lo em alguma coisa? — Tento parecer educada e sorrir, mas sinto que falhei nisso.
— Eu queria... conversar com você — Ele coloca as mãos nos bolsos — Você quer da uma volta no lago?
O "não" estava na ponta da minha língua.
— Sim — Reviro os olhos internamente. Eu sou muito burra.
— Ótimo — Ele me da um sorriso fechado.
Percy me deixa passar na frente enquanto nos dirigíamos para sair do chalé e nesse meio caminho tudo o que penso é em correr.
O que Hades ele queria falar comigo?

Oiiii pessoas! Muito tempo, né?
Deixem seus comentários e me digam se querem mais! Isso vai me ajudar muitooooo a continuar com a história!

Helena - A Filha Do Mar E Da Sabedoria (Reescrevendo)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora