Um adeus que eu nunca vou dar

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Helena Ponto de Vista:

Às vezes, os seres humanos gostam de se enganar, adoram uma mentira bonita, nas suas casinhas perfeitas com seu próprio mundinho, como em um "sonho americano".
Esquecem de um filho depressivo, um pai adúltero ou uma mãe alcoólatra.
Mas por que fazem isso, se está bem na sua cara?!
Porque é mais fácil assim.
É simples, a partir do momento em que algo atrapalha sua felicidade ou seu senso de normalidade, você o exclui. Faz parte do próprio egoísmo humano básico.
Eu não me considero egoísta, não me imaginária colocando meus desejos acima dos do meus pais, até por que fui obediente a eles por toda minha vida, segui eles aonde foram.
Mas... se não sou egoísta, por que quero tanto que esse momento acabe?! Por que quero tanto que Hayley desapareça e que nada do que aconteceu nos últimos 20 minutos fosse verdade?!
Eu não queria estar nesse carro, indo para Deus sabe onde com uma pessoa que eu costumava conhecer... Eu quero ir pra casa, com minha nova amiga e jantar com meus pais, é simples.
Então, por que eu simplesmente vi um monstro gigante querendo nos matar?! Se eu não sou egoísta, por que meu senso de normalidade está sendo tão fortemente agredido agora?!
— O que era aquilo? — Era a primeira pergunta que Lyra fazia.
Hayley (ou pelo menos a menina que está vestida com o corpo de Hayley) olhou pelo espelho retrovisor do carro, o rosto em uma carranca séria.
— Um cão infernal — Diz, como se Lyra soubesse o que era aquilo.
Uma pequena nota do momento: Primeiro: estou sendo perseguida por alguma coisa que Hayley não pode explicar o que é (por que segundo a própria, não cabe a ela), segundo: Lyra consegue ver através da névoa (não tenho ideia do que é isso), terceiro, estou sentada na frente, ao lado de Hayley, então acredite em mim, qualquer movimento que eu fizer pode ser fatal.
— O que é isso?! — Lyra perguntou mais uma vez.
Hayley revirou os olhos, posso dizer que ela não gostou nenhum pouco de Lyra e suas perguntas.
— Não posso responder.
Sinceramente, toda essa falta de resposta só estava servindo pra me deixar frustrada.
— Então será que você poderia me dizer aonde está nos levando? — Eu perguntei, minha voz saindo mais forte do que previa.
Hayley olhou de relance pra mim, o rosto atordoado, foi a primeira vez que falei com ela desde que entramos do carro.
— Para sua casa, precisamos ver Henry e Miranda antes de irmos — Diz com os olhos na estrada.
— Você realmente acha que eles vão me deixar ir?! O que eles vão pensar quando te verem?! E o que os pais da Lyra vão pensar quando ela não aparecer com o carro?! — As perguntas saíram sarcásticas, claro que eu não estava rindo da baita encrenca que eu me meti.
Com a menção do carro, Lyra ficou inquieta.
— Oh meu Deus... Meus pais vão me matar — Ela gemeu do banco de trás.
— É preciso mais de um Deus pra livrar vocês disso... — Hayley debochou.
— Disso o quê?! Se você me dissesse alguma coisa em vez de me acusar, seria muito mais fácil de me defender! O que está acontecendo?! O que eu fiz de errado?! — Eu gritei para Hayley.
— Você nasceu! Foi isso que você fez de errado! — Ela gritou de volta, tirando os olhos da estrada.
Confesso que doeu, eu não esperava essa resposta e com certeza ela não é a verdadeira, eu não sabia que Hayley me odeia tanto.
— O que? — Eu sussurrei, me virando para frente e baixando a cabeça. Pude sentir que ela não olhava mais pra mim.
— Tem muitas coisas que você não sabe! Você acha que eu queria estar aqui te salvando dos seus problemas?! Eu tenho que estar aqui, Helena! Há dois anos eu precisei de você e você foi embora! Eu era apenas uma garotinha que descobriu que meu pai não era meu pai, mas sim o próprio "Diabo"! — Ela gritou, despejando mais ira em mim.
— O Sr. Jonhson não é seu pai? — Eu perguntei, lembrando do homem gentil e engraçado que ficava feliz toda vez que eu aparecia para jantar em sua casa.
Hayley olhou para mim com olhos chorosos e balançou a cabeça.
— Não... eu descobri uma semana antes dele... dele... ele morreu assim que você saiu da cidade, depois minha mãe me mandou para um lugar para me proteger — Eu vi que ela estava tendo dificuldade em falar, era difícil, tomei tudo que eu tive para não abraçar-la, as recentes palavras dela me machucaram, mas eu não podia suportar vê-la triste, era como ver a pequena garotinha que eu conheci.
— Era essa a surpresa que você queria me contar? — Eu perguntei, ela assentiu — Hayley, eu sinto muito, eu deveria ter estado lá, mas meu pai recebeu uma nova proposta de emprego.
— Eles saíram por causa do meu pai — Hayley deixou uma lágrima cair.
— Como? Seu pai não tem nada... — Ela não me deixou terminar.
— Meu outro pai, meu pai biológico, ele era uma ameaça para você... seus pais não poderiam arriscar... — Falou com raiva — Ele sempre tira as coisas boas de mim.
— Quem é seu pai biológico? — Perguntei, que tipo de pessoa faz meus pais saírem às pressas no meio da noite?!
Ela ficou calada, provavelmente decidindo se dizia ou não.
— Meu pai é o Had... Oh meus Deuses! — Os olhos de Hayley se arregalaram, depois olhei para frente.
De repente, tudo pareceu ficar em câmera lenta, todo o meu sangue foi para os ouvidos e meus olhos ficaram vidrados.
Bem a frente, onde um monte de policiais e bombeiros lutavam contra as chamas, estava minha casa.
Eu não percebi a hora que o carro parou, apenas saí, caminhando rápido até a casa, lágrimas acumulando nos olhos, temendo o que aconteceria.
— Moça, você não pode passar — Ouvi a voz de alguém me chamar, depois braços em volta de mim.
Eu lutei, não querendo acreditar, tudo estava embaçado pelas lágrimas.
— Essa é minha casa — Sussurrei, depois me viro para o bombeiro — Você encontrou alguém lá dentro?! — Eu perguntei, calmamente.
Ele olhou para mim com olhos grandes, assustado com minha calma.
— Moça, eu acho melhor você ir falar com a polícia — O bombeiro fala rapidamente, tentando me guiar até o carro de polícia.
— Tinha alguém lá dentro?! — Eu gritei, o torpor saindo de mim.
— Helena — Uma voz profunda falou de trás de mim. Eu me virei.
Ali parado estava o comissário de bordo/professor de filosofia, acompanhado da minha professora de história esquisitona. As duas pessoas que eu menos gostaria de ver aqui.
— Eu não posso falar, meus pais... eu preciso encontrar meus pais! — O pânico tomou conta e meu coração doía no peito.
— Moça, você precisa falar com os policiais — O bombeiro tentou mais uma vez.
— Não precisa, ela está com a gente! — Gritou Hayley, de longe, correndo até nós, com Lyra a tira colo.
— Senhor, nós somos tios dela, vamos seguir a lei, mas primeiro temos que conversar com nossa sobrinha — Falou a Srta. Blanchard, eu nem dei importância ao que ela falou, só ficava olhando de um lado para o outro, tentando achar meus pais na multidão.
— Okay, senhora, creio que já foram informados sobre o... — O bombeiro ficou nervoso, não queria completar a frase.
— Sobre o que?! É meus pais?! Onde eles estão?! — Eu gritei para ele, ganhando muita atenção das pessoas.
— Querida — A voz surprendentemente gentil do Sr. Hastings me tirou a atenção do bombeiro, havia raiva naquela voz.
— Docinho, eu sinto muito — Srta. Blanchard diz, não parecendo triste por mim, na verdade, a voz dela era carregada de raiva, igual a do Sr.Hastings, como se a culpa fosse minha, mas ainda havia lágrimas descendo dos olhos dela, eu poderia jurar que eram verdadeiras.
— Helena, o que aconteceu? — Lyra perguntou, chegou perto de mim e colocou a mão no meu ombro.
Eu sabia o que aconteceu, eu com certeza já deduzi, mas... não pode ser... pode? Quer dizer, eles não disseram em palavras... meus pais com certeza devem estar falando com a polícia nesse momento, e então a gente vai sair e recomeçar de novo, como sempre fazemos.
— Meus pais estão mortos? — A pergunta deslisou da minha boca tão inocentemente, que pensariam que quem perguntou foi uma criança.
Lyra parece ter entendido o que aconteceu, pois passou os braços ao meu redor tão rapidamente que não deu tempo eu desabar no chão quando o "sim" saiu da boca do Sr. Hastings.
Eu gritei, um grito que veio da alma, poderia estourar o coração de alguém, eu podia jurar que senti a terra tremer.
Eu não entendia nada a não ser dor, tudo o que eu poderia sentir era dor, tudo o que eu raciocinava era dor.
Eu me agarrei em Lyra como uma tábua de salvação, do mesmo jeito que ela se agarrou a mim quando pensávamos que íamos morrer... mas agora, eu realmente desejava estar morta.
— Temos que levá-la daqui — Eu ouvi a voz de Hayley por trás dos meus ouvidos dormentes.
Eu não queria saber de nada, apenas do vazio, toda a dor ainda estava lá, mas o vazio foi consumindo lentamente, os braços de Lyra não foram suficientes e apesar de estarem agarrando meu corpo, nunca poderiam segurar o que eu estou sentindo... toda a dor e a solidão, desejando duas pessoas que nunca vão voltar.
Tão cheia, mas tão vazia.
Tudo o que eu vivi com eles, todas as gargalhadas, as discussões com resoluções passivas, o companheirismo e os momentos... ah, os momentos... se me pedissem para ir para o fim do mundo, eu iria, apenas para ver os olhos prateados do meu pai mais uma vez e depois dizer que o cinza é a cor mais bonita de todas, ou brincar com minha mãe sobre sua insistência em pintar seu cabelo de loiro, porque ela acha o moreno muito natural e depois eu fingia ficar ofendida com isso... jogar conversa fácil num fim de tarde... tudo se foi, só sobrou vazio.
Senti meus olhos se fechando e em seguida, braços fortes me levantando.
Todo o meu mundo, que não era perfeito, mas era meu, foi destruído, todo meu senso comum ou felicidade foram arrancados e eu não quero nada mais, do que ignorar isso, do que fugir e me esconder. Simplesmente por que é mais fácil. Então sim, talvez eu seja egoísta.

Eu matei os pais dela de novo.
Eu fiz isso por causa da história original, eu sinto muito, mas eu tinha que preservar a história original.
O que acharam do capítulo?! Por favor, comentem! Eu AMO ouvir o que vocês gostaram e não gostaram, o que acham que vai acontecer.
Obrigada pelo apoio, até mais.❤️

P.S A foto do capítulo mostra o Henry(Anthony Rapp) e a Miranda(Idina Menzel) quando eram mais novos, ela ainda de cabelos castanhos e maquiagem forte, como uma boa filha de Ares.

Helena - A Filha Do Mar E Da Sabedoria (Reescrevendo)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora