Caça-Bandeiras

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Já faz algum tempo que eu e Percy estamos andando.
Assim que Lyra saiu, ele me convidou para caminharmos a beira do rio perto do chalé dele. Eu não tinha ideia do que ele queria comigo, mas esperançosamente desejo que o final deste encontro termine de forma amistosa. Já dobrei um dos meus "irmãos" agora só falta o outro.
Percy deve ter percebido que eu olhava para tudo, menos para ele, e que eu também não tinha intenção nenhum de iniciar a conversa.
— Então... Annabeth me contou sobre a conversa de vocês — Ele começa, balançando a cabeça sem jeito. Algo sobre ele me da o sentimento de que, ironicamente, ele parece um peixe fora d'água todo tempo. Está sempre nervoso e tímido, quase como se não pertencesse ao mundo terrestre.
— Ah, é... fico feliz que a gente se resolveu — Abro um pequeno sorriso e olho para ele ligeiramente.
— Então, hm... — Ele para e olha para o lago, parece estar procurando as palavras certas a dizer — Eu não sei como fazer isso... Nunca tive irmãos antes e meu relacionamento com Tyson não teve o melhor dos começos, me senti traído pelo meu pai ter me escondido um irmão e fiquei com muita raiva por muitos messes e, agora, descubro que ele fez isso de novo.
— Olha, Percy, eu sinto muito...
— Você não precisa se desculpar, não é sua culpa, é dele — Dessa vez ele fixa seus olhos azul-marinho nos meus e me olha com finalidade — Já desisti de saber o que se passa na cabeça do nosso pai...
— Não — O interrompo — Seu pai. Conversei com Annabeth e deixei isso bem claro, se ela não falou para você então eu vou, não considero os pais de vocês os meus, sinto muito que vocês foram tratados assim por eles e que tenham escondido tanta coisa, mas isso não é problema meu e definitivamente não me machuca, o que me importo de verdade é saber quem foi o desgraçado que mandou matar meus pais.
Percy ficou me olhando por alguns minutos, com a boca ligeiramente aberta e as sobrancelhas franzidas. Sei que fui um pouco dura com as palavras, mas eu preciso deixar esse ponto marcado para os dois.
Ele fecha a boca e balança a cabeça.
— Okay, eu entendo — Ele volta a olhar para o lago e suspira, depois volta seu rosto em minha direção — Só quero que saiba que não tenho nada contra você e que a porta do meu chalé estará sempre aberta... talvez não como um irmão, mas como seu veterano e possível amigo.
Ele estende a mão para mim e sorri humildemente. Quase me arrependo das minhas últimas palavras, pois a expressão em seu rosto me faz sentir mais acolhida aqui do que jamais estive. Ele é gentil, honesto e talvez um pouco bobo, é uma pena eu não ter conhecido ele em condições melhores.
Estico minha mão e aperto a dele, imito sua expressão facial e me impeço de pensar que provavelmente parecemos o espelho um do outro, inegavelmente irmãos.
Obrigada, Percy. Não vou esquecer disso.

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O dia passou normalmente, não tive mais interações com Percy e Annabeth até o jantar, quando ficamos perto na fila. Nós nos cumprimentamos e seguimos nossos caminhos, eles pra a mesa de Poseidon e Atena, eu para a mesa com os filhos de Hermes.
Depois do jantar nos dirigimos até a floresta pois já era hora da "Caça Bandeiras", um atividade medieval e, pelo o que eu ouvi, brutal de treinamento.
Lyra passou o dia coletando estratégias com os campistas mais antigos sobre essa competição já que a meta dela era tentar ganhar — Lyra é muito competitiva — mas depois de ouvir tudo que ela descobriu, ao contrário dela, meu objetivo é sair com vida.
Um círculo cheio de campistas se forma perto da floresta, boa parte dessa gente eu nunca tinha visto durante meu tempo aqui.
Quíron se aproxima calmamente até nós com seus cascos, levando uma trombeta em uma mão e uma bandeira branca na outra.
Quando ele para no meio do círculo, começa a falar:
— Boa noite, Campistas! Sei que estão animados para começar a competição, porém, como boa parte de vocês deve ter percebido temos novas integrantes no acampamento e elas precisarão de um time hoje.
Minhas bochechas coram quando noto para onde o discurso esta indo, agora, todos olham para nós duas. Quíron acena com a cabeça pedindo para nós nos aproximarmos, sinto Lyra puxar meu braço enquanto permaneço petrificada.
— Quem deseja duas novas integrantes? — Assim que Quíron termina de perguntar, tanto Percy e Annabeth levantam as mãos — Ótimo, parece que tanto o time azul quanto o vermelho quer vocês. Pois bem, Lyra vá com o time vermelho, Helena fica com o Percy no time azul.
Vejo Percy e Tyson dando um toque com as mãos enquanto Annabeth lança um olhar fulminante para os dois. Esse comportamento me trás uma sensação estranha, afinal, Lyra bem se saindo bem melhor que eu nas atividades, principalmente nas que envolvem instrumentos como arco e flecha e espada. Mas a verdade era, eu não estava me esforçando tanto nessas aulas, afinal, o luto dura muito mais que apenas uma semana.
Lyra e eu nos separamos, ela ficou ao lado dos filhos de Hermes no time de Annabeth e eu me aproximei de Tyson que me recebeu com um sorriso.
Cada um dos times se põe em posição de ataque rumo a floresta.
— Okay pessoal, em suas marcas, apontem suas espadas! — Quíron se posiciona entres os times, sopra a trombeta e abaixa a bandeira branca - Já!
De repente os campistas gritavam e levantavam suas espadas para cima, correndo em direção de ataque.
Inconscientemente, me lancei junto com o meu time, correndo o máximo que podia, me esquivando dos galhos e das lâminas que começaram a estalar umas contra as outras.
Uma mão toca meu ombro e quando olho é Percy.
— Segura sua espada com firmeza e mantenha os pés bem separados — Ele fala depressa — Annabeth separa o time dela em equipes, preocupe-se com os filhos de Atena junto com os de Apolo, cuidado com flechas e mantenha a cabeça baixa, os de Ares perdem a cabeça rápido, não se defenda quando estiver lutando com eles, so ataque. Ali! Filho de Ares a sua esquerda, agora!
Meu corpo se lança conforme seu comando, tentando ao máximo processar todas as informações.
Minha espada se choca ruidosamente contra a espada de Bruce, filho de Ares, um sujeito muito mal encarado e com olhos de um castanho avermelhado.
Fiz como Percy disse, ataquei, ataquei e ataquei. Tirando força e técnica de lugares desconhecidos por mim. Uso meu corpo quando nossas espadas se esmagam um contra a outra, abaixo meu corpo, derrubo sua espada junto com a minha e empurro seu corpo contra a árvore rapidamente, ele tropeça e cai inconsciente.
Me levanto e pego a espada mais uma vez, sem saber como fiz aquilo, viro a cabeça procurando por Percy.
Ele consegue derrotar um, mas logo percebe outro vindo.
— Continue, Helena! Procure a bandeira! Vá em direção ao lago! — Logo Percy se encontra mais uma vez em combate.
Corri mais do que consigo lembrar, entro ainda mais na mata, tentando ao máximo me desvencilhar dos galhos e das rochas, agradecendo ao universo por não ter esbarrado com outros semi deuses, incluindo Annabeth ou Lyra, aliás, espero que estejam bem.
Decidi seguir o rio e evitar ficar dentro da floresta, posso ficar mais exposta, mas meu adversário vai estar também.
Quando finalmente chego a nascente do rio, mal consigo acreditar no que meus olhos estão vendo,  a bandeira azul estava no alto de um amontoado de pedras atravessando a água, meus pés doem pela extensa caminhada mas um impulso de animação me faz correr, porém um estralo, minúsculo e tão alto quanto um caroço de arroz caindo no chão, é filtrado pelo meu canal auditivo.
Imediatamente paro de andar e brando a espada.
— Isso só podia tá fácil de mais — Sussurrei encarando a bandeira.
Ela sozinha sem ninguém a protegendo? Claro que não.
— Hora, hora, hora... olha o que o vento me trouxe... Helena, a campista misteriosa — Olho para trás e vijo Will caminhando lentamente até mim, vestindo um sorriso sarcástico, isso não vai acabar bem...
— Eu te conheço! — Grito — Você estudava comigo!
— Fico surpreso de você ter lembrado de mim! — Seu sorriso sarcastico se transforma em uma carranca — Acho que nós não nos apresentamos corretamente, meu nome é William, filho de Apolo e não tem maneira de eu deixar você pegar essa bandeira — Diz, tirando sua espada da bainha.
— Você fala de mais pra um perdedor — Parto para cima dele, a lamina da minha espada rasga sua bochecha.
Ele para um segundo tentando processar o que a conteve, depois avança para cima de mim me atacando com golpes rápidos e, em outras circunstâncias, fatais.
Embora eu tentasse de todas as formas me defender — E em boa parte desviar — Minhas habilidades recentes não me impediram de receber um chute na lateral da barriga mw fazendo imediatamente cair no chão.
Levanto a cabeça e olho em volta e vejo todos ao meu redor, sinto a cor vermelha da humilhação percorrer minhas bochechas.
Percy e Annabeth queriam parar com aquela briga, mas Quiron não deixou.
Eu me levanto e vejo ele gemendo ao tocar no corte em seu rosto, Will me encara e começa a avançar. Reunindo a raiva avassaladora e esquecendo o cansaço, avanço furiosa em sua direção, copiando seus movimentos anteriores, entendendo suas falhas e liberando dentro de mim um instinto jamais conhecido.
Todos os campistas pararam para ver a briga de lâminas, cada vez mais eu vejo a confiança desaparecer dos olhos de William Solace, o azul de sua íris agora está todo preenchido de revolta e indignação, isso só me dá mais confiança.
Corto a lateral da perna dele fazendo o mesmo cair de joelhos, Will se levanta com dificuldade pega a espada e as nossas lâminas se enfrentram mais um vez, o ritmo se torna mais violento, meu coração e o dele sendo motivados pelo calor do momento, os sons de animação saindo dos campistas e a cor do crepúsculo que começa a cobrir nossas cabeças, nos dando o ambiente perfeito para deixamos um recado um para o outro e para quem nos estiver assistindo.
Percebo os erros de William durante a luta, estava ficando lento, falhando na defesa, em um certo momento quase não consegue segurar a espada, é ai que encontro minha chance.
Então, em um só golpe arremesso sua espada para o alto, uso o cotovelo para acerta-lo no peito, Will cai de joelho segurando a mão no peito esquerdo, sua espada caiu inerte no fundo do rio. Aponto minha espada para seu queixo e forço ele a olhar para mim.
— Acho que você perdeu — Um sorriso sarcástico se arrasta pelos meus lábios.
Ele pode não ter deixado a marca dele aqui, mas eu deixei a minha.
Ele afasta a ponta da minha espada, se levanta, me encara com olhos escuros de ódio e raiva reprimida, depois da as costas e desaparece no meio dos campistas.
Quando vejo que ele desapareceu na multidão, pergunto:
— Mais alguém?! — Pergunto — MAIS ALGUÉM!? — Grito com mais intensidade e mais força, secretamente torcendo para que ninguém mais venha. As vezes eu duvido do tanto de juízo que ainda resta em mim.
Vejo que alguns integrantes queriam empurra Annabeth para lutar, mas ela se nega imediatamente. Quando o ambiente fica em silêncio, me viro, subo pelo caminho estreito até a bandeira.
Enquanto dou mais passos até o topo, me dou conta de que nunca me senti assim antes... poderosa. Sempre fui quieta, bem comportada e obediente, odiava as vezes em que estive sob os holofotes e se pudesse viveria no meu canto para sempre... mas hoje... hoje vejo que tem uma parte de mim que esteve adormecida, uma parte que não se importa nem um pouco com o que os outros pensa, nem é obcecada por regras, uma Helena que pode ser até um tanto vingativa. E olha, eu gostei de conhecer ela.
Quando chego ao meu objetivo, olho cada detalhe da bandeira azul e me pergunto se tem um deus lá em cima que tá assistindo isso, se tiver, espero que ele ou ela se ferre.
Pego a bandeira, olho para Lyra que está la em baixo me olhando com olhos brilhantes e um grande sorriso.
Levanto a bandeira e enquanto todo mundo aplaude e comemora, fecho os olhos e sussurro para o céu.
"Essa é para vocês, mãe e pai."

Oi, pessoal, sei que sumi, mas estou de volta agora.
Deixem comentários aqui se quiserem que continue, se não, vou entender que ninguém não tá curtindo e deixar essa de vez para me dedicar as outras que tenho postada no spirit 🥹🫶🏻

Chegaste ao fim dos capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jun 28, 2023 ⏰

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Helena - A Filha Do Mar E Da Sabedoria (Reescrevendo)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora