O telefonema

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Helena Ponto de Vista:

Eu tenho que reconhecer, não foi a pior aula que já assisti na vida.
Faz exatamente 25 minutos que a aula começou, isso quer dizer que tenho mais 25 minutos de olhares em mim.
Parecia que todo o resto da sala estava aprendendo "Quantas vezes a garota nova pisca", mas o estranho não é só isso... o estranho é que a Srta. Blanchard insistiu que minha presença e participação na aula é extremamente importante. No início, pensei que fosse por causa do meu atraso, mas ela nem sequer parecia reconhecer que Lyra está na sala, aliás, ela parecia não reconhecer a presença de ninguém, e acredite, a última coisa que eu quero é chamar mais atenção.
Toda vez que ela iniciava um novo tópico sempre dava um jeito das perguntas dela cairem em mim, o que não era tão ruim por que a matéria é "Mitologia Grega" e felizmente, papai sempre me contou tudo sobre ela, antes mesmo de eu começar a falar até todo o novo projeto que ele tinha sobre esse assunto, papai sempre tratou de me deixar bem atualizada.
Ele falou tanto, que passei a ter uma paixão por leitura e fascínio por mitologia grega.
— Como vocês sabem, Zeus é o maior dos deuses do Olimpo, e como o rei de todos eles, também queria manter esse status permanente — A voz de sinos da Srta. Blanchard me despertou do meu devaneio.
Mais um vez, ela rodou a sala de aula e como sempre seus olhos pararam em mim.
— Qual foi a medida que Zeus tomou para nunca sair do trono? — Perguntou com um brilho vitorioso no rosto.
Todas as perguntas anteriores que me fez foram respondidas corretamente, porém ainda havia algumas mãos levantadas, na esperança de se destacarem na aula... a essa altura a maioria dos nerds da classe deve estar me odiando.
— Bem...— Eu olhei para o resto da turma e aparentemente nenhum sabia a resposta — Um dos métodos foi a proibição dos três grandes, incluindo ele, de terem filhos com mortais — Falei, olhando enquanto ela se aproximava da minha cadeira.
— Correto — Cada pergunta que eu acertava parecia a convencer de alguma coisa — Então, o que aconteceria se... por exemplo, Possêidon tivesse uma criança com outra deusa — O brilho nos olhos verdes dela parecia cegar minha visão, havia raiva em sua voz.
— Uma catástrofe?! — Foi um pergunta/afirmação, eu realmente não queria testar o temperamento da mulher que parecia querer arrancar minha cabeça.
— Sim! Exatamente! — Ela agora possui um sorriso de desgosto nos lábios — Obrigada por nos agraciar com seus dons históricos... tão históricos que a maioria das perguntar que fiz não tinham nos livros! — Ela soltou uma risada, e todos se surpreenderam, que tipo de professora pergunta ao aluno uma coisa que ele não estudou?! E o que os alunos faziam de mãos levantadas se não sabiam as respostas?!
— Então por quê você as fez, se ao menos estavam nos livros?! — Desafiei, aguentei calada de mais.
Ela olhou para mim, fogo preenchendo a íris verde.
— Eu que faço as perguntas aqui — A professora levanta a voz alguns décimos— Além disso... Eu sou professora de história, não sou?! — Depois virou-se fervendo de raiva.
— Meu pai é historiador, é assim que eu sei — Eu digo, ela fingiu que não me ouviu.
É, ela deve me amar.

O sinal bateu e saímos da quarta aula, biológia, que por acaso, o babaca que me derrubou também fazia parte, seu nome é William Solace. Embora a presença de William me deixasse sem fôlego, minha mente não conseguia sair daquela professora esquisita, nunca vi tanta raiva de um professor por mim,  quanto a da Srta. Blanchard, nem mesmo a Sra. Griffin me olhou desse jeito quando derramei café no notebook dela, no quinto ano.
— Terra para Helena... — A mão de Lyra me sacudiu.
— Hey... Eu tava pensando sobre a Srta. Blanchard — Digo, Lyra deve ter pegado a dica por que olhou para mim com pena.
— Ela realmente deve adorar você... — E depois voltou para seu prato de comida.
— É, deve ser — Digo, olho ao redor do refeitório, e eu me senti contente, ninguém parecia me notar, nem a mim e nem a Lyra.
— Então, parece que temos um projeto de biologia para fazer juntas! — Ela diz com um enorme sorriso, o professor de biologia nos deixou como dupla para dissecar sapos. Sinceramente, eu na estava nada feliz com isso, imaginava sair com uma amiga pra sorveteria e não ficar torturando um réptil morto.
— Você é sempre tão feliz assim quando te passam uma nova tarefa?! — Perguntei rindo.
— Não... mas aposto que com você vai ser mais divertido — Brincou com a comida um pouco e depois abriu um sorriso — Em qual casa vamos fazer a pesquisa?!
— Como?! — Minha testa enrugou em confusão.
— Na sua casa ou na minha vamos começar a fazer o trabalho?! — Ela franziu os lábios e me olhou engraçado.
— Mas é só daqui a um mês! — Eu ri.
— Eu sei, mas é melhor adiantarmos — Claro que não era só isso.
— E o que mais? — Eu pergunto levantando a sobrancelha.
— Eu adoraria conhecer você melhor — Ela me olha nos olhos, seus olhos chocolate me mostrando sinceridade.
— Eu sinceramente acho que você é uma boa pessoa — Eu começo — Mas você realmente não quer ser minha amiga.
O rosto dela cai em decepção, eu sinto ter que fazer isso com ela, mas detesto despedidas e sei que vou me despedir dela mais cedo ou mais tarde.
— Por que? — Perguntou com olhos inocentes.
— Confie em mim, é melhor não — Digo — Mas sobre o trabalho, nós podemos começar fazendo na minha casa, se estiver bem com seus pais.
Ela acena com a cabeça e come em silêncio.
— Pode ser amanhã depois da escola? — Ela pergunta mais para seu prato do que pra mim.
— Tudo bem — Digo, notando o efeito que minhas palavras anteriores causaram.

Helena - A Filha Do Mar E Da Sabedoria (Reescrevendo)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora